Alimentação atípica na infância pode ser sinal de autismo, aponta estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de julho de 2019 às 00:38
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:40
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Pesquisadora descobriu que comportamentos alimentares atípicos eram comuns em 70% das crianças autistas

Algo que os pais costumam conhecer bem em seus filhos são os hábitos alimentares. Algumas crianças comem todo e qualquer alimento. Já outras, são seletivas e a hora da refeição é uma verdadeira batalha.

No entanto, um novo estudo da Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, afirma que a forma como as crianças se comportam diante da comida pode revelar muito sobre elas, inclusive ser um sinal de alerta em relação ao autismo.

Os pesquisadores avaliaram os comportamentos alimentares em entrevistas com pais de mais de 2 mil crianças. Eles investigaram a diferença na frequência de comportamentos alimentares incomuns entre crianças típicas e aquelas com autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e outras desordens.

O estudo descobriu, portanto, que comportamentos alimentares atípicos estavam presentes em 70% das crianças com autismo — o que é 15 vezes mais comum do que em crianças neurotípicas. 

De acordo com a professora de psiquiatria Susan Mayes, esses comportamentos são frequentes, principalmente, em bebês de 1 ano e incluem: ter uma alimentação muito limitada, ou seja, preferência por pouquíssimos alimentos, hipersensibilidade às texturas ou temperaturas e manter os alimentos na boca, sem engolir. “Se um provedor de cuidados primários ouvir sobre esses comportamentos dos pais, eles devem considerar encaminhar a criança para uma triagem de autismo”, alerta a pesquisadora.

Resistência a novos alimentos

“Uma vez eu tratei uma criança que não comeu nada além de bacon e bebeu apenas chá gelado. Dietas incomuns como estas não sustentam crianças”, afirma Keith Williams, diretora do Programa de Alimentação do Penn State Children’s Hospital.

Para ela, identificar e corrigir esses comportamentos pode ajudar a garantir que as crianças estejam fazendo uma dieta adequada.

No entanto, Keith chama atenção para uma diferença marcante: a maioria das crianças sem necessidades especiais irá lentamente adicionar alimentos às suas dietas durante o desenvolvimento, mas as crianças com transtornos do espectro autista, sem intervenção, geralmente permanecerão comedores seletivos. “Nós vemos crianças que continuam a comer comida para bebês ou que não experimentam texturas diferentes. Até vemos crianças que não conseguem fazer a transição da mamadeira”, pontua.

Susan complementa, explicando que como as crianças com autismo têm hipersensibilidades sensoriais e não gostam de mudanças, elas podem não querer experimentar novos alimentos e serão sensíveis a certas texturas. Frequentemente comem apenas alimentos de determinada marca, cor ou forma.

Para Susan, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais rapidamente a criança pode começar o tratamento com um analista do comportamento. Estudos anteriores mostraram que a análise comportamental aplicada é mais eficaz se implementada durante os anos pré-escolares, já que são utilizadas uma série de intervenções, incluindo recompensas, para fazer mudanças positivas no comportamento e ensinar habilidades necessárias. “Este estudo forneceu mais evidências de que esses comportamentos alimentares incomuns são a regra e não a exceção para crianças com autismo”, finaliza Keith.


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