Como é definida a geração alfa, a primeira 100% digital desde o berço

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 30 de maio de 2019 às 00:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:35
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Crianças nascidas a partir de 2010 formam uma nova geração para quem o mundo analógico é um passado distante

Se você pensa
que ninguém seria capaz de superar os millennials e a geração Z em
conhecimentos sobre tecnologia, está equivocado. Chegou a hora de dar
boas-vindas à geração alfa, a primeira que é 100% nativa digital.

Fazer recortes
geracionais não é uma ciência exata. No entanto, segundo o instituto de
pesquisa americano Pew Research Center, analisar as gerações oferece “uma
forma de entender como acontecimentos globais, econômicos e sociais interagem
entre si para definir a forma como vemos o mundo”.

E
está claro como a próxima geração vê o mundo: através de uma tela. “Antes, as gerações eram definidas a
partir de acontecimentos históricos ou sociais importantes. Hoje, são
delimitadas pelo uso de determinada tecnologia”, explica o psicólogo
Roberto Balaguer, professor da Universidade Católica do Uruguai e autor de
diversos livros sobre educação e tecnologia.

Desta
forma, diz Joe Nellis, professor da escola de negócios Cranfield, no Reino
Unido, a geração alfa é formada pelas “crianças nascidas desde 2010, o ano
em que a Apple lançou o iPad”. 

Como
são definidas as gerações

Depois dos chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964,
veio a geração X, nascida entre 1965 e 1979. Estas pessoas cresceram ouvindo
falar de aparelhos eletrônicos, mas a tecnologia ainda era algo distante de seu
cotidiano.

Foi
a vez então da geração Y, formada pelos chamados millennials, nascidos entre
1980 e 1996 e caracterizados por um maior uso e familiaridade com meios de
comunicação e tecnologias digitais.

Finalmente,
veio a geração Z, integrada por pessoas nascidas entre 1997 e 2010 e que usam a
internet desde muito jovens e, portanto, se sentem muito confortáveis com a
tecnologia e o mundo digital.

Mas
nenhuma geração até agora se compara à geração alfa – formada pelos filhos dos
millennials – neste aspecto. Ela será a primeira geração para qual muitos
aspectos do mundo analógico parecem bem distantes de sua realidade.

Nellis
explica que, enquanto as outras gerações ainda aprendem a se adaptar ao mundo
digital, as crianças alfa representam a “primeira geração digital”. 

Quem são os filhos dos ‘millennials’

Especialistas estimam que, a cada semana, nascem mais de 2,5
milhões de alfas no mundo. Isso significa que, em 2025, quando nascerão os
últimos integrantes dessa geração, este grupo poderá ser de mais de 2 bilhões
de pessoas. “A grande maioria nascerá em países emergentes e em
desenvolvimento, e é provável que tenham melhores perspectivas que seus pais e
avós à medida que os níveis de vida melhorem nos próximos anos”, diz
Nellis.

O
mundo ao redor dos alfas, começando por seus pais, está constantemente
conectado a celulares e à internet. A tecnologia é uma extensão de sua forma de
conhecer o mundo. “Os alfas são criados em famílias em que os papéis
parentais tradicionais estão mais distribuídos do que décadas atrás. As tarefas
são compartilhadas como nunca antes, e há um cuidado com o equilíbrio entre
trabalho e vida pessoal como em nenhuma geração anterior”, diz Balaguer. 

O futuro que lhes espera

Os alfas viverão melhor do que seus pais? Nellis acredita que
sim: “Não só em termos de renda, mas também em qualidade de vida. Terão
mais opções, mais oportunidades de educação, haverá um cuidado maior com o
outro”.

Balaguer não
enxerga exatamente desta forma. “Será uma geração que receberá mais
cuidados do que as anteriores, terá uma presença paterna maior, mas a
tecnologia será onipresente em suas vidas e de seus pais, o que, claramente,
será um fator limitante na disponibilidade emocional e na qualidade do cuidado
parentais.”

O psicólogo
acrescenta que serão crianças que terão menos interações pessoais por meio de
histórias narrativas e menor intercâmbio de linguagem, o que provocará mais
problemas de intercomunicação oral do que há uma década, assim como maior
incidência de transtornos oftalmológicos e de déficit de atenção, causados pelo
longo tempo dispendido em frente à tela de um monitor.

E, se sua
característica principal é seu domínio do mundo digital, eles enfrentarão
problemas ao ter de lidar com uma situação analógica?  “O mundo
analógico está cada vez menos presente em nossas vidas. Apesar de os pais
quererem ‘mais lama e menos tela’ para seus filhos, ao mesmo tempo passam
muitas horas do dia com seus smartphones e modelam seus filhos a partir dos
exemplos que dão”, diz Balaguer.

“Hoje, a
geração alfa tem muitos diálogos por grupos de WhatsApp, mas tem mais acidentes
domésticos que a geração anterior, por isso muitos falam de uma geração de pais
distraídos, olhando mais para suas telas do que para seus bebês ou monitorando
seus bebês através de telas.”

Para Nellis, o
meio ambiente será uma grande preocupação para esta nova geração, mas sua
incompetência analógica importará bem pouco. “Não acho que haverá problema
algum, porque as situações analógicas serão uma minoria.”


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