Estudo constata que quem é multitarefa pode ter a memória reduzida

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de novembro de 2018 às 13:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:08
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Pessoas que conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo se saem pior em testes simples de memória

Imagine que você está
escrevendo um projeto para o trabalho. Você checa seu celular e responde
mensagens ou notificações do Facebook algumas vezes. Alguns minutos depois,
espia a TV para acompanhar o que está passando. Quando volta os olhos para o
computador, uma pop-up mostra que chegou um novo e-mail. Você muda o foco para
ele antes de, finalmente, continuar o que estava fazendo. As situações
podem até variar um pouco. Mas em um mundo cada vez mais conectado, é difícil
não se identificar em alguma medida.

Agora, uma pesquisa
chamou a atenção para esse tipo de hábito multitarefa. Ao
analisar uma década de estudos, pesquisadores de Stanford e da Universidade da
Califórnia notaram que esse tipo de pessoa tende a se sair pior em tarefas
básicas de
memória.

A conclusão é explicada
por Anthony Wagner, professor de psicologia na Universidade de Stanford e
diretor do Laboratório de Memória da universidade, em entrevista ao Stanford
News. O psicólogo aponta que, em metade dos estudos analisados, os
chamados heavy media multitaskers – aqueles que
alternam entre vários tipos de mídia, como celular e computador, com muita
frequência – demonstraram os piores desempenhos em tarefas de memória e
atenção comparados aos que “pegam leve” nessa alternância.

Esse desempenho, diz ele, pode ser
medido de diferentes formas. “Em um teste, por exemplo, nós mostramos um
conjunto de retângulos azuis, depois os removemos da tela e pedimos ao sujeito
que retenha essa informação em mente”, detalha o professor. “Em
seguida, mostramos outro conjunto de retângulos e perguntaremos se algum deles
mudou de orientação”.

Os testes podem ter sua dificuldade aumentada
para medir outros níveis de atenção, além de também poderem envolver outros
elementos para promover distrações. “Uma possibilidade é que a redução da
memória ocorra entre essas pessoas porque elas têm uma probabilidade maior de
apresentar lapsos de atenção”, explica Wagner. Os resultados, continua
ele, são diferentes quando se tratam de demandas maiores, como em exercícios de
memória mais difíceis. Nesse caso, não há diferença entre os usuários
“intensos” e os “leves”.

O pesquisador também explica que as
pessoas não são multitarefas como se costuma definir. “A palavra
‘multitarefa’ implica que você pode fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo,
mas na realidade nosso cérebro só nos permite fazer uma coisa de cada vez e
temos que alternar entre elas”.

A análise incluiu estudos que não
mostraram diferenças significativas entre os dois grupos e ainda não permite
uma conclusão definitiva sobre o tema. Por isso, Wagner destaca que ainda é
muito cedo para que uma relação de causa e efeito entre as duas coisas seja
definida. Apesar disso, aponta que “não há um único artigo publicado que
mostre uma relação positiva significativa” entre elas.

Ele também diz acreditar que, de uma
forma ou de outra, vale a pena reavaliar os hábitos em relação a esse tipo de
rotina. “Se você faz várias tarefas ao mesmo tempo enquanto faz algo
significativo, como um trabalho acadêmico ou um projeto de trabalho, você fica
mais lento para concluí-lo e pode ser menos bem-sucedido”, explica Wagner.
“Nós podemos controlar isso adotando abordagens que minimizem a
multitarefa habitual. Podemos decidir ser usuários mais pensativos e reflexivos
da mídia”.


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