Emissão de gás que está destruindo camada de ozônio é descoberta

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de julho de 2018 às 17:47
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Substância banida em 2010, CFC-11 é encontrada na produção de espumas para isolamento térmico

Nos últimos meses, cientistas
de todo o mundo foram surpreendidos com um misterioso aumento das emissões de
gases que estão comprometendo, de forma drástica, a camada de ozônio que
protege a Terra.

Agora, um grupo de pesquisadores acredita ter descoberto
os responsáveis pelos danos ao meio ambiente: espumas de isolamento térmico de
poliuretano, produzidas na China para uso em residências.

A Agência de Investigação
Ambiental (EIA, na sigla em inglês), com base no Reino Unido, identificou a
presença de CFC-11, ou clorofluorocarbonos-11, na produção dessas espumas na
China. O composto químico havia sido proibido em 2010, mas está sendo usado
intensamente em fábricas chinesas.

O relatório da EIA apontou a construção de casas na
China como fonte das emissões atípicas de gases. Há dois meses, pesquisadores
publicaram um estudo que mostrava que a esperada redução do uso de CFC-11,
banido há oito anos, havia desacelerado drasticamente.

Os pesquisadores suspeitavam que o composto continuava
sendo usado em algum lugar do leste da Ásia. Mas a fonte exata ainda era
desconhecida.

Especialistas tinham receio de
que o CFC-11 pudesse estar sendo usado secretamente para enriquecer urânio na
produção de armas nucleares.

Agora, os pesquisadores dizem não ter dúvidas de que a
fonte de produção do composto está vinculada ao uso de espuma para isolamento
térmico de casas.

Agente expansor

Os CFC-11 funcionam como um
eficiente agente expansor na fabricação de espuma de poliuretano,
convertendo-as em isolantes térmicos rígidos usados, principalmente, como forro
no teto de residências para reduzir o custo da eletricidade e a emissão de
carbono.

O EIA entrou em contato com fábricas de espuma de
poliuretano em dez províncias na China. Depois de várias conversas com
executivos de 18 empresas, os investigadores concluíram que o composto químico
estava sendo usado na maioria dos isolantes de poliuretano produzidos pelas
empresas.

A
razão é simples: os CFC-11 têm melhor qualidade e são muito mais baratos que os
produtos alternativos. Apesar do CFC-11 ter sido banido, a fiscalização não é
eficiente e, por isso, ele continua sendo usado.

A EIA calcula que os gases
produzidos na China estão ligados ao aumento das emissões observado no
relatório da agência em maio. No entanto, embora os achados da EIA sejam
considerados plausíveis, alguns especialistas acreditam que eles não
explicariam, por si só, o atual elevado nível de emissão de gases que tem
comprometido a camada de ozônio.

Stephen Montzka, da Administração Oceânica e Atmosférica
dos EUA (Noaa, na Sigla em inglês), disse à BBC que “o uso generalizado do
CFC-11, que parece ser evidente na China com base no estudo (do EIA), é bastante
surpreendente”.

Ele
pondera, contudo, ser difícil analisar com precisão o cálculo das emissões
provenientes do uso do CFC-11 para “saber se é realmente possível que essa
atividade explique tudo ou quase tudo que estamos observando na atmosfera
global”.

Por que a descoberta da EIA é
importante?

Ainda que o uso de CFC-11 em
fábricas chinesas não seja o único ou mesmo o maior responsável pela emissão de
gases que estão destruindo a camada de ozônio, a descoberta do EIA é importante
por ter identificado que uma quantidade considerável de químicos ilegais
continua sendo usada – com a capacidade em potencial de reverter a já observada
recuperação da camada de ozônio.

A espuma
de poliuretano fabricada na China representa quase um terço da produção global
desse produto. Os pesquisadores calculam que a produção atrasará em uma década
ou mais o objetivo de fechar o buraco que permite os efeitos nocivos da
radiação solar.

Como a China é signatária do
Protocolo de Montreal – tratado de 1987, mas que entrou em vigor dois anos
depois -, seria possível impor sanções comerciais contra o país. Mas desde que
o protocolo foi firmado, há mais de 20 anos, nenhum país foi punido com sanções
e dificilmente será esse o caso para o uso de CFC-11 na China.

É provável que a China seja incentivada a reduzir a
produção de CFC-11 e será aberta uma investigação com o apoio do secretariado
do Protocolo de Montreal para averiguar a situação no país.

Nesta
semana, representantes do Protocolo de Montreal se reúnem em Viena, na Áustria,
para elaborar um plano na tentativa de solucionar o problema.


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