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Cirurgia parece simples, mas pode causar danos e ate lesões irreversíveis no paciente
Parece simples: na bichectomia, o
profissional faz um pequeno corte por dentro da boca e retira uma bola de
gordura na região da bochecha – a chamada bola de Bichat.
Após mais ou menos 45 minutos de
cirurgia plástica e alguns dias de recuperação, o rosto fica mais contornado e
menos arredondado. Mas calma que essa história tem bem mais do que um
parágrafo.
A bichectomia entrou na moda por
causa das celebridades. Como consequência, houve uma banalização de seu uso,
afirma Níveo Steffens, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
“Essa operação envolve riscos e tem indicações específicas. Acima de tudo, está
longe de ser uma técnica para todos”, completa.
Especialista em cirurgia de cabeça e
pescoço da Universidade de São Paulo, o médico Flavio Hojaij ressalta que a
bola de gordura de Bichat funciona como um amortecedor de músculos faciais que,
entre outras coisas, participam da mastigação. “Ou seja, é possível que a
remoção dessa estrutura cause, com o avançar dos anos, um desgaste na região. Mas
faltam estudos que corroborem essa hipótese”, afirma.
Dito de outra forma, mesmo que dê
tudo certo com a operação, a retirada da gordura de Bichat implicaria em
mudanças anatômicas que talvez culminem em desconforto no futuro. Embora não
acredite muito nessa teoria, Steffens aponta outra possível causa de dor
recorrente da cirurgia: a lesão dos nervos. “E se o profissional atingir o
nervo facial, a pessoa pode até perder movimentos do rosto de uma maneira
irreversível, o que termina em deformações”, adverte.
Mais: durante a
bichectomia, o profissional eventualmente lesiona o duto da glândula parótida,
que produz saliva. “Isso faz represar o líquido em um local inadequado, o que
favorece infecções”, alerta Hojaij. Tal risco seria ainda maior se você
considerar que, para evitar cicatrizes visíveis, os cirurgiões fazem incisões
por dentro da boca – um local cheio de bactérias.
Possíveis indicações e impactos
estéticos
O cirurgião Níveo Steffens propõe uma
mudança no pensamento das pessoas que cogitam a bichectomia: “Em vez de chegar
pedindo por essa opção, o paciente deve considerar o que realmente o incomoda
no rosto e que está afetando a autoestima e, então, conversar abertamente com
um médico”.
Indivíduos nos quais a gordura de
Bichat realmente se projeta para a frente e que possuem um rosto bastante
ovalado seriam eventuais candidatos. “Ainda assim, há a necessidade de uma
avaliação profissional. A indicação indiscriminada é inaceitável”, sentencia
Steffens.
Se utilizada em sujeitos sem
necessidade, a bichectomia chega a antecipar o envelhecimento do rosto. Isso
porque, com o passar dos anos, naturalmente perdemos um pouco de tecido
gorduroso na face. Logo, quem não possui uma cara mais rechonchuda e passa pela
técnica pode, algum tempo depois, ficar com uma aparência, digamos, “chupada”.
Já Flavio Hojaij é mais reticente. De
acordo com ele, somente indivíduos que sofreram um acidente, têm algum tipo de
deformação ou retiraram um câncr na região deveriam cogitar a bichectomia ou
uma vertente dela, assim por dizer. “Não acho bom submeter uma pessoa saudável
aos riscos inerentes dessa cirurgia”, argumenta.
Até porque, de acordo com o expert,
uma vez retirada a bola de gordura de Bichat, não há mais volta. “Às vezes,
usamos parte dessa estrutura durante uma cirurgia de reconstrução na face. E
quem a tirou não terá essa possibilidade”, avisa.
O recado é: ao vislumbrar a
bichectomia, não pense nas celebridades, e sim em você.