Pesquisa mostra os efeitos nocivos do crescente uso do ar-condicionado

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de julho de 2018 às 16:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Estudo publicado na Plos Medicine mostrou que as consequências vão além do preço na conta de luz

Em um planeta ameaçado pelas mudanças
climáticas, ele parece ser a solução para enfrentar o calor. Porém, se ajuda a
amenizar a temperatura ambiente, o ar-condicionado também contribui para deixar
a Terra ainda mais quente. À medida que os termômetros continuarem a subir, o
aparelho ficará ligado por períodos prolongados e mais gente terá o equipamento
em casa, aumentando a demanda energética. Um estudo da Universidade de
Wisconsin-Madison, publicado em uma edição especial da revista Plos Medicine,
mostrou que as consequências disso vão muito além do preço da conta de luz.

Na análise, os pesquisadores
combinaram projeções de cinco modelos diferentes para prever o aumento do
consumo da energia no verão e calcularam como isso afetaria o uso de
combustíveis fósseis, a qualidade do ar e, consequentemente, a saúde humana
daqui a poucas décadas. “O que descobrimos é que a poluição do ar vai piorar.
Há consequências na adaptação do homem às futuras mudanças climáticas”, destaca
David Abel, aluno de graduação do Instituto Nelson de Estudos Ambientais da
universidade e primeiro autor do artigo.   

Com base nos cenários avaliados, os
cientistas constataram que, sozinho, o ar-condicionado será responsável pelo
aumento da mortalidade nos Estados Unidos, país onde o estudo foi realizado, e
cuja principal matriz energética são combustíveis fósseis. Esse padrão
norte-americano repete-se pelo mundo, onde mais de 80% da energia não é
renovável e 60% vêm de fontes poluentes, como carvão e petróleo. No Brasil, carvão
e derivados do petróleo constituem somente 6,6% da matriz energética, e 68,1%
da energia é produzida pela água, segundo dados do Ministério de Minas e
Energia, o que, contudo, é uma exceção no planeta.  

A equipe da Universidade de
Wisconsin-Madison calculou que o incremento das emissões das plantas geradoras
de energia causado pela demanda por ar-condicionado pode aumentar de 4,8% a
8,7% a mortalidade associada à poluição atmosférica em 2050. A queima de
combustíveis fósseis gera um subproduto invisível, mas muito prejudicial à
saúde, o material particulado. Trata-se de finas partículas que, suspensas no
ar, são inaladas e, em grandes quantidades, afetam os sistemas respiratório,
imunológico e cardiovascular.  

Mortalidade

“Nós descobrimos que as concentrações de
material particulado fino (o mais prejudicial) e de ozônio vão aumentar 6,7%,
apenas devido ao uso extra de ar-condicionado”, observa Jonathan Patz, um dos
autores do estudo e professor de ciências da saúde da instituição.
“Consistentemente com outros estudos, calculamos que as mudanças climáticas,
sozinhas, causarão cerca de 13 mil mortes prematuras a mais no verão,
associadas ao material particulado, e três mil relacionadas ao ozônio”, diz.
“Essa análise destaca a necessidade por fontes mais limpas de energia,
eficiência energética e conservação energética para atender à nossa crescente
dependência dos sistemas de refrigeração de prédios, ao mesmo tempo em que se
mitiga a extensão das mudanças climáticas”, acredita.

Patz ressalta que em verões muito quentes, como o
vivenciado agora no Hemisfério Norte, não há dúvidas de que o ar-condicionado
pode salvar vidas, especialmente porque se estima que as ondas de calor vão
aumentar em intensidade e frequência. Porém, ele destaca que se esse benefício
é anulado pela quantidade de pessoas que morrerão prematuramente em
consequência da poluição atmosférica. “Nós só vamos trocar de problema”,
afirma. “Se nossa nação (os EUA) continuar a depender de uma matriz baseada em
carvão, cada vez que ligarmos o ar-condicionado sujaremos a atmosfera, causando
mais doenças e mortes”, assinala.

Para Tracy Holloway, coautora do
artigo e professora de estudos ambientais e ciências atmosféricas, o resultado
do estudo — o primeiro a fazer esse tipo de associação — destaca a necessidade
de se investir em outras formas de geração de energia. “A qualidade do ar é um
grande problema de saúde pública”, ressalta. De acordo com a pesquisadora, nos
Estados Unidos, onde mais de 60% da demanda energética vem da construção civil
(casas e prédios comerciais), o aumento da procura por ar-condicionado pode
gerar um custo de US$ 6 bilhões aos cofres públicos, apenas com gastos em
saúde. “A resposta é a energia limpa. Isso é algo que podemos controlar e que
vai ajudar tanto as mudanças climáticas quanto o futuro da qualidade do ar”,
observa Abel.


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