Café: forma de preparo pode tornar bebida prejudicial para quem tem colesterol alto

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 23 de outubro de 2024 às 12:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Café expresso ou coado? Apesar de parecer uma pergunta simples, para quem tem colesterol alto, é uma questão diretamente relacionada à saúde

Composto presente no café pode aumentar o LDL, o colesterol ruim – foto Arquivo

 

Café expresso ou coado? Apesar de parecer uma pergunta simples, que envolve puramente o gosto pessoal, para quem tem colesterol alto, é uma questão diretamente relacionada à saúde.

Isso por que o café não filtrado contém uma substância chamada cafestol, que pode aumentar o LDL, o chamado colesterol ruim.

“Quando a gente filtra o café, essa sustância é retirada no método de filtragem, o que não acontece nos cafés do tipo francês, italiano, turco, nos quais a substância pode estar presente”, explica Celso Cuckier, nutrólogo do Hospital Albert Einstein.

Mas se o café que não é filtrado contém uma substância que pode aumentar o colesterol, ele deve ser evitado?

Café e cafestol

O cafestol é uma molécula lipossolúvel (que se dissolve em gordura) pertencente ao grupo dos diterpenos, assim como o kahweol.

Esses compostos orgânicos são encontrados nos óleos naturais dos grãos de café e estão presentes em maiores quantidades em formas de preparo que não utilizam filtragem.

De acordo com a nutricionista e doutora em Ciência da Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Maiara Soares, preparações de café instantâneo e filtrado contêm quantidades insignificantes de cafestol – situação diferente do que é observado em preparos não filtrados.

“O café turco, por exemplo, pode conter aproximadamente 5,3 miligramas de cafestol por xícara. Já o café expresso, possui uma quantidade intermediária, cerca de 1 miligrama por xícara”, compara.

O preparo do café turco (como acontece no método escandinavo e grego) envolve ferver o pó de café em água sem o uso de qualquer tipo de filtro, o que aumenta a concentração de cafestol na bebida.

O café expresso também não pode ser considerado filtrado, mesmo tento um filtro de metal. O filtro de metal apenas impede que o pó de café passe, mas não detém outras substâncias (como cafeína, cafestol e ácidos fenólicos).

A nutricionista explica que o filtro, seja de papel ou de pano, consegue reter as moléculas de cafestol. Com isso, a ingestão dessa substância é consideravelmente reduzida.

Cafestol e colesterol

O grande problema da presença do cafestol no café é a sua influência no colesterol.

A substância afeta os níveis de colesterol ao interferir no processo de regulação hepática. De acordo com Maiara, o cafestol atual principalmente inibindo a ação dos receptores de colesterol no fígado, que ajudam a controlar o nível de colesterol no sangue.

“É um efeito dose-dependente, ou seja, quanto maior o consumo de cafestol, maior o impacto sobre os níveis de colesterol”, analisa.

Os especialistas lembram que o colesterol elevado pode aumentar a chance de desenvolver doenças cardiovasculares como:

– Aterosclerose
– Infarto
– Acidente vascular cerebral (AVC)

Considerando o efeito do cafestol sobre o organismo, Celso Cuckier alerta que pessoas que não tem controle adequado do colesterol ou têm histórico de colesterol alto devem evitar os cafés não filtrados.

“Em quadros em que o colesterol já é elevado, sem controle, onde a recomendação é de evitar inclusive alimentos que elevem o colesterol, o café deve ser apenas filtrado”, recomenda.

Fim do cafezinho?

Apesar do efeito prejudicial que o cafestol pode ter para o colesterol, os especialistas tranquilizam que não é preciso parar de tomar café só por causa da presença dessa substância na bebida.

Primeiro, é importante lembrar que o café possui diversos benefícios para a saúde. Além do efeito estimulante, ajuda no funcionamento do aparelho digestivo, provoca sensação de bem-estar e aumenta a taxa metabólica.

Segundo Maiara Soares, o próprio cafestol, quando consumido com moderação, possui efeitos positivos para a saúde.

“Alguns estudos experimentais indicam que a substância poderia oferecer benefícios como propriedades anti-inflamatórias, neuroprotetoras e antioxidantes”, comenta.

Outro ponto fundamental que é levantado pelos especialistas é que, em pessoas saudáveis, o consumo do cafestol não vai provocar alterações significativas no colesterol.

A nutricionista explica que, para ser prejudicial para a saúde nesses casos, seria necessário um consumo regular de 6 a 10 xícaras de café não filtrado por dia.

“Para ter uma alteração significativa no colesterol, a pessoa teria que fazer uma ingestão de café muito alta, mais que 1 litro por dia”, analisa Soares.

Outros fatores como estilo de vida, predisposição genética, alimentação inadequada e doenças crônicas também podem influenciar o impacto do cafestol no organismo.

Mas, de forma geral, apenas pessoas com altos níveis de colesterol devem se preocupar com qual café tomar. E nesses casos, a opção recomendada é sempre o café filtrado.

*Informações G1


+ Saúde