A pontualidade é a cortesia dos reis e a obrigação dos educados!

  • EntreTantos
  • Publicado em 6 de março de 2018 às 13:06
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Saudações paciente leitor, a quem tributo meus sinceros cumprimentos.

Há poucas semanas atrás um lorde da corte inglesa se demitiu, após se atrasar exatos 2 minutos para um pronunciamento no congresso. O lorde Michael Bates chegara à tribuna do parlamento dos lordes às 15:02, exatos 2 minutos atrasados para responder a alguns questionamentos, que teria início às 15hs, e que fora rapidamente substituído por outro orador, afim de se cumprir a rigorosa pontualidade britânica. Visivelmente constrangido e envergonhado, o lorde ocupou a tribuna para anunciar sua demissão. Se desculpara pela falta de cortesia, na atitude que considerara inadmissível.

Obviamente, dediquei um leve tempo a escarnecer da notícia, ao fazer um comparativo com a realidade de nosso país. Um contraste impiedoso! Nos primórdios de nossa história, nos primeiros enredos da civilização brasileira, muito copiamos das cortes estrangeiras, sobretudo, os modos ingleses. Nos emperiquitamos de casacas e um vestuário para lá de pesado que contradizia o calor dos trópicos. Por incrível que possa parecer, no ponto onde realmente teríamos que nos espelhar nas terras estrangeiras deixamos de lado. Cortesia, como bem citara o lorde, é o que nos falta paciente leitor. Não que este pobre infeliz, refém das palavras esteja a renegar seu patriotismo e, de repente, passara a enaltecer somente a grama do vizinho, mas, na perplexidade que causara esta manchete em solo brasileiro, deixara bem nítido que não consideramos um atraso, por menor que seja, como falta de respeito. Ledo engano nosso!

No Brasil, atraso é sinônimo de glamour, pelo menos para alguns, pois, particularmente, estou no grupo dos que tratam tal como falta de respeito. Por que cargas d’aguas é sugerido à noiva um atraso para requintar a cerimônia? Creio, na minha modesta ótica, e o leitor que fique bem à vontade para divergir, que, ao se atrasar, a noiva já não estaria a infligir um dos primeiros códigos da boa convivência? Ou seja, o respeito?

Na Europa, em países como Alemanha, que costuma dizer que “a pontualidade é a cortesia dos reis” e mesmo a própria Inglaterra, metrôs e interestaduais seguem pontualmente o horário estabelecido para embarque e desembarque. Existem linhas de metrôs que saem de determinados terminais às exatas 13:04, nem um segundo mais, nem um segundo menos. Os suíços costumam justificar sua pontualidade com a seguinte expressão: “Eu valorizo o seu tempo e, por consequência, valorizo você”

Sei que parece tão pequeno e sou mesmo capaz de imaginar uma linha de certo enfado, a percorrer a tez de algum leitor menos paciente, a dizer que há maiores problemas ameaçando a civilização nacional, mas, se pretendemos mesmo promover alguma mudança neste país, temos que começarmos por atitudes mais brandas e altamente relevantes. Raul seixas dissera em canção que “Tem gente que passa a vida inteira travando a inútil luta com os galhos, sem saber que é lá no tronco que tá o coringa do baralho” ações comportamentais individuais são os troncos, que sustentará esta nova nação que pretendemos desbravar.

Também não estou a lhe sugerir que sai por ai a renunciar um cargo toda vez que se atrasar. Pois, abandonar um emprego em terras brasileiras é tão eficaz quanto dispensar um cantil a transpor o Saara. Mas, que tal fazermos um pacto de começar a refletir sobre a ligação entre o atraso e a falta de respeito? Sei que ainda há um extenso caminho a percorrer nesta busca pela sociedade perfeita, mas, pequenas ações representam nossos primeiros passos.

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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