Cientistas começam a pesquisar cães e gatos a fundo e descobertas são surpreendentes

  • Nene Sanches
  • Publicado em 21 de julho de 2024 às 20:00
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Pesquisadores ignoraram a cognição de pets por décadas, mas recentemente até sequenciaram o genoma de um cão

Todo cachorro tem seu dia, e 14 de julho de 2004 foi o de uma boxer chamada Tasha. Nessa data, o Instituto Nacional de Saúde anunciou que uma fêmea de peito largo e papada generosa havia se tornado o primeiro cão a ter o genoma completo sequenciado.

“Desde então, a coisa meio que explodiu”, disse Elaine Ostrander, especialista em genômica canina do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano que fez parte da equipe de pesquisadores.

Ao longo desses 20 anos, os geneticistas investiram pesado nos nossos companheiros de quatro patas, sequenciando milhares e milhares de cães, incluindo os de raça com pedigree, os vira-latas misteriosos, os de trabalho altamente treinados, os de rua, criados soltos, e até restos mortais ancestrais.

As pesquisas sobre cognição e comportamento canino também decolaram. “Agora, os cartazes de cães ocupam metade das salas de conferências sobre comportamento animal, e já começamos a ver pesquisas com gatos seguindo a mesma tendência”, afirmou Monique Udell, diretora do laboratório de interação humano-animal da Universidade Estadual do Oregon.

Totalmente na moda

Hoje, os pets estão totalmente na moda. Cientistas de todo o mundo investigam a fundo o corpo e a mente de cães e gatos na esperança de aprender mais sobre como eles se infiltraram em nossa vida, como encaram o mundo e o que fazer para que vivam mais tempo. Para alguns especialistas, essa é uma mudança que já deveria ter ocorrido há tempos.

“Se convivemos com esses animais, é nossa responsabilidade compreendê-los a fundo. Há muito o que aprender sobre eles e também sobre nós mesmos nesse processo”, disse Udell.

Projetos com animais de estimação

Para os geneticistas, os cães e gatos são temas muito ricos, dada sua longa história de convívio íntimo com os humanos e sua susceptibilidade a muitas das mesmas doenças, como o câncer e o diabetes.

Os cães representam um campo de estudo particularmente atraente. O processo de seleção de raças intenso feito pelos humanos, especialmente ao longo dos últimos séculos, gerou um resultado que surpreende pela diversidade de tipos caninos, desde os pequenos chihuahuas aos enormes dinamarqueses, além de centenas das isoladas em termos reprodutivos, que geralmente sofrem com elevadas taxas de doenças.

“Os estudos iniciais deixaram claro o potencial do que tínhamos a aprender com os cães, mas também que seriam necessárias amostras maiores para que as pesquisas fossem bem feitas”, disse Elinor Karlsson, geneticista da Faculdade de Medicina Chan da Universidade de Massachusetts e do Broad Institute.

Foi assim que pesquisadores começaram a criar grandes projetos de ciência cidadã, buscando amostras e dados de DNA de cães de todo os Estados Unidos.

Estudo de longo prazo

Os donos de animais de estimação aceitaram o desafio. O Golden Retriever Lifetime Study começou a recrutar participantes em 2012 e vem acompanhando mais de três mil cães em uma iniciativa para identificar fatores de risco genéticos e ambientais para o câncer, muito comum na raça.

Desde 2019, o Dog Aging Project, estudo de longo prazo sobre saúde e longevidade, recrutou quase 50 mil cães.

O projeto da dra. Karlsson, chamado “Os Cães de Darwin”, tem 44 mil participantes e continua aumentando (cerca de quatro mil deles tiveram seus genomas sequenciados). Os investigadores estão explorando os dados em busca de pistas sobre câncer ósseo, comportamento compulsivo e outras características. 

As primeiras descobertas já indicaram que muitos traços comportamentais, como sociabilidade e treinabilidade – embora sejam hereditários – estão amplamente distribuídos por todo o reino canino, e que a raça não é o que prediz sua personalidade.

Em abril deste ano, Karlsson apresentou “Os Gatos de Darwin”, continuação muito aguardada do projeto: “Eu adoro gatos; nunca tive um cachorro.” Mais tarde, por e-mail, ela acrescentou: “Adoraria saber se o gato dorme em cima da cabeça da gente por influência de uma informação genética”.

Dias de cão da psicologia

Muitas décadas atrás, os cientistas que queriam decifrar a mente dos animais geralmente estudavam criaturas selvagens com cérebros maiores, como os grandes símios e cetáceos, ou os tipos mais comuns de laboratório, como roedores e pássaros.

Mas, e aqueles animais que cochilavam no sofá de casa? “O pessoal não pensava nos cães como verdadeiros animais porque viviam dentro de casa, são domesticados. Tipo, eram tão adulterados que não geravam interesse”, disse Horowitz, pesquisador de cognição canina no Barnard College.

Mas no final da década de 1990 e início da década de 2000, duas equipes de pesquisa afirmaram que os cães eram talentosos na interpretação de sinais humanos, seguindo com sucesso os gestos das pessoas de apontar e tinham o olhar sagaz, com capacidade para localizar alimentos escondidos.

Nessas tarefas, superavam lobos criados em cativeiro e até, em alguns casos, os grandes símios. Os estudos sugeriram que os cães possuíam formas sofisticadas de cognição social, e os pesquisadores começaram a ficar atentos.

Segundo o portal Notícias.R7, o campo de estudo se expandiu em parte porque os cães são objetos de estudo cooperativos, convenientes e acessíveis.

Então, por que sair para o mato ou abrigar centenas de animais em um laboratório? Os cientistas cognitivos caninos podem, simplesmente, tomar emprestada a abordagem dos psicólogos do desenvolvimento.


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