Médico neurocirurgião da Unicamp e do Einstein analisa os tratamentos para gerenciar a experiência da lombalgia
A dor nas costas – que clinicamente recebe o nome de lombalgia – cresceu 60% entre 1990 e 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e chegou a 619 milhões de pessoas. Nas próximas décadas, a projeção é de alta, com 843 milhões de pessoas afetadas em 2050.
1 a cada 13 milhões de indivíduos passaram por ao menos um episódio desse problema, que é a principal causa de incapacidade no mundo. Quem ainda não experimentou esse incômodo, provavelmente terá algum dia.
A condição é caracterizada por dor persistente na parte inferior da coluna que se prolonga por mais de três meses e limita a realização de atividades, como trabalhar, cuidar do lar e ter momentos de lazer.
Conheça alguns fatores
A postura adotada no dia a dia, o sedentarismo e fatores psicológicos podem fazer com que a condição postura seja inadequada, e o acúmulo de maus hábitos posturais gera consequências para a lombar.
“Porém, há dores que são sintomas de doenças graves, como câncer”, explica o Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião do Einstein e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Tendo em vista os impactos para a saúde da população e os custos econômicos e sociais da lombalgia, a OMS traçou a primeira diretriz que orienta o tratamento da doença, com práticas recomendadas por especialistas de todo o mundo segundo evidências científicas positivas disponíveis.
Ela inclui, entre outros, os tratamentos a seguir:
Terapias físicas
A prática de exercícios e massagens são recomendados para a dor nas costas crônicas, uma vez que ajudam a fortalecer os músculos da região lombar, do abdômen e das pernas, proporcionando melhor suporte à coluna vertebral e reduzindo a pressão sobre as vértebras, além de aumentar a flexibilidade, relaxar os músculos tensionados e melhorar a circulação sanguínea na área afetada.
A acupuntura também é indicada para o quadro. Essa terapia de agulhamento estimula os nervos e promove a liberação endorfinas e serotonina, que aliviam a dor e a reduzem a inflamação.
“A combinação dessas práticas permite um tratamento multidisciplinar para a lombalgia. O ideal é começar com períodos curtos e intensidade leve, e ir aumentando gradualmente”, explica o Dr. Marcelo.
Psicoterapia
Há dois tipos de terapias indicados pela OMS para o tratamento da lombalgia: a Terapia Comportamental Operante e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Elas são benéficas o quadro pois se voltam a modificar comportamentos e pensamentos que contribuem para a dor crônica.
Para o neurocirurgião Dr. Marcelo, o trabalho de profissionais da psicologia é necessário para que o paciente retome a sua vida.
“Carregar um fardo emocional ou psicológico pode motivar a dor nas costas, e a terapia com um especialista ajudará o paciente a compreender tudo aquilo que ele é capaz de fazer, ao invés de focar na dor”, explica ele.
Ao reforçar comportamentos saudáveis, como a prática de exercícios e a manutenção de uma boa postura, e desencorajar comportamentos prejudiciais, como o sedentarismo, além de ajuda a reestruturar pensamentos negativos e crenças irracionais sobre a dor, reduzindo o medo e a ansiedade, as terapias contribuem para a funcionalidade do paciente e melhoram a sua qualidade de vida.
Anti-inflamatórios
Os medicamentos anti-inflamatórios simples, como ibuprofeno e diclofenaco, atuam reduzindo a inflamação nos tecidos ao redor da coluna vertebral, o que provoca alívio da dor. Ambos têm ação rápida e podem ser úteis para determinados perfis de pacientes com dores crônicas.
“Apesar do fácil acesso ao paciente, é importante que o medicamento seja prescrito por um médico. O uso anti-inflamatórios é pontual para esses casos”, alerta o especialista.
A OMS recomenda, ainda, preparações tópicas à base de pimenta-caiena (Capsicum frutescens). O composto capsaicina atua como analgésico natural, aliviando a dor ao bloquear temporariamente os sinais de dor transmitidos ao cérebro, e, ainda, promove a liberação de endorfinas, que ajudam a reduzir a percepção da dor.
O que não usar para dor nas costas crônica
Em busca de alívio, há pacientes que recorrem a tratamentos que, de acordo com a OMS, não são recomendados ou não são conclusivos, principalmente devido aos limitados estudos existentes, mas que, ao mesmo tempo, são importantes para o gerenciamento da dor.
É o caso de corticoides, paracetamol, fitoterápicos como garra-do-diabo e salgueiro, técnicas de tração, entre outros.
Quem convive com dores crônicas busca todo o tipo de alternativa e pode se colocar em risco e agravar seu quadro.
“É preferível buscar um especialista para diagnosticar e avaliar o quadro e, a partir das diretrizes da OMS e de seu conhecimento, auxiliar o paciente a administrar o incômodo e promover pequenas mudanças favoráveis no dia a dia, pois isso vai garantir que a dor não retorne depois de um tempo”, esclarece o médico.
Referências:
WHO guideline for non-surgical management of chronic primary low back pain in adults in primary and community care settings.