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Devido à nova realidade das redes sociais, conteúdos sobre supostos milagres e aparições começaram a circular com mais facilidade e rapidez, preocupando o Vaticano
Vaticano publicou nesta sexta, 17, conjunto de novas regras para autenticar milagres – foto Olhar Digital
O Vaticano divulgou nesta sexta-feira, 17, a atualização de seu conjunto de regras e delimitações que compreendem o que será classificado como milagres e eventos sobrenaturais para os católicos.
As normas, que foram publicadas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovadas pelo Papa Francisco, permitem uma interpretação mais moderada dos acontecimentos. A atualização entrará em vigor neste domingo, 19.
Devido à nova realidade das redes sociais, conteúdos sobre supostos milagres e aparições começaram a circular com mais facilidade e rapidez, preocupando o Vaticano de que os fenômenos sobrenaturais pudessem sair facilmente de seu controle.
As novas regras fornecem mais orientações aos bispos, que até agora tinham liberdade para determinar a autenticidade das visões e aparições.
Esta é a primeira vez que as normas são atualizadas desde que foram escritas, em 1978.
Caso não haja nenhum problema à fé ou a moral, os bispos poderão declarar um “Nihil Obstat” — ou nenhum obstáculo.
A declaração fica aquém de uma declaração oficial de sua autenticidade sobrenatural, mas afirma que nada deve impedir que o “bispo obtenha benefícios pastorais do evento”.
De acordo com as novas regras, uma declaração oficial de autenticidade de sobrenaturalidade deve ser evitada, a menos que o Papa autorize.
Papa Francisco aprovou conjunto de novas regras divulgado nesta sexta-feira, 17 – foto Agência Brasil
Fernandez explicou que a maioria dos principais locais de peregrinação da Igreja cresceu organicamente ao longo dos anos sem uma declaração oficial sobre a autenticidade do “milagre” original.
Nos casos mais graves, entretanto, para evitar confusão ou escândalo, o Dicastério pedirá ao bispo local que declare que a crença no fenômeno não é permitida e explique o motivo.
O documento pontua que uma resposta mais rápida da Igreja é necessária porque esses fenômenos estão “assumindo proporções nacionais e até mesmo globais” à medida que se espalham pela Internet.
Os fatores a serem considerados são “a possibilidade de erros doutrinários, uma simplificação exagerada da mensagem do Evangelho ou a disseminação de uma mentalidade sectária”, disse o Dicastério.
Os fiéis podem ser enganados por eventos atribuídos a uma causa divina que, na verdade, podem ser “meramente o produto da imaginação de alguém” ou por aqueles que têm uma “inclinação para a mentira”.
Histórico de eventos
A Igreja Católica tem um passado longo e polêmico com relatos de fiéis que afirmam ter visto a Virgem Maria, estátuas que supostamente vertem lágrimas de sangue e estigmas que surgem nas mãos e reproduzem as feridas de Cristo.
Há dois meses, o Vaticano rejeitou os supostos milagres de uma imagem da Virgem Maria na pequena cidade de Trevignano Romano, a noroeste de Roma, que teria chorado sangue e aumentado o tamanho das pizzas.
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Além disso, como as aparições ou avistamentos são experiências individuais, a Igreja não exige que os fiéis aceitem as autenticidades de tais eventos.
Mas, os fenômenos sobrenaturais transformaram concepções e mudam características até turísticas de regiões.
Por exemplo, depois que supostas aparições da Virgem Maria ocorreram em Lourdes, na França, no século XIX, e em Fátima, Portugal, no início do século XX, os locais se tornaram um destino de peregrinação religiosa muito popular, mas também lucrativo.
Além disso, figuras como São Francisco de Assis e o Padre Pio afirmavam ter recebido os estigmas de Jesus Cristo em suas mãos enquanto desempenhavam funções sagradas.
Leia as conclusões abaixo
Nihil Obstat: nenhuma certeza de autenticidade sobrenatural é expressa, mas são reconhecidos sinais de uma ação do Espírito.
Encoraja-se o bispo a avaliar o valor pastoral e a promover a difusão do fenômeno, incluindo peregrinações.
Prae oculis habeatur: reconhecem-se sinais positivos, mas também há elementos de confusão ou riscos que exigem discernimento e diálogo com os destinatários.
Pode ser necessário um esclarecimento doutrinário se houver escritos ou mensagens associadas ao fenômeno.
Curatur: estão presentes elementos críticos, mas há uma ampla disseminação do fenômeno com frutos espirituais verificáveis.
Desaconselha-se uma proibição que perturbe os fiéis, mas pede-se ao bispo que não incentive o fenômeno.
Sub mandato: as questões críticas não estão relacionadas ao fenômeno em si, mas ao mau uso feito por pessoas ou grupos. A Santa Sé confia ao bispo ou a um delegado a orientação pastoral do local.
Prohibetur et obstruatur: apesar de alguns elementos positivos, as críticas e os riscos são graves. O Dicastério pede que o bispo declare publicamente que a adesão não é permitida e explique os motivos da decisão.
Declaratio de non supernaturalitate: o bispo está autorizado a declarar que o fenômeno não é sobrenatural com base em evidências concretas, como a confissão de um presumido vidente ou testemunhos confiáveis de falsificação do fenômeno.
*Informações O Globo