Você sabe o que acontece no seu cérebro quando navega no celular?

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 14 de maio de 2024 às 22:00
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O que acontece a nível neural quando rolamos a tela do celular? Por que é tão viciante? E como podemos evitar que isso se torne um problema?

O uso do celular se tornou um (mau) hábito da vida moderna – foto Arquivo

 

O hábito de deslizar o dedo pela tela do celular, seja para ver um vídeo de um cachorrinho, uma foto de uma amiga na praia, um meme ou uma notícia, faz parte do cotidiano de muitas pessoas.

Esse comportamento, que pode durar segundos no elevador ou horas antes de dormir, é tão comum que nos leva a perguntar o que acontece a nível neural quando rolamos a tela do celular, por que é tão viciante e como evitar que se torne um problema.

Éilish Duke, professora de psicologia na Universidade Leeds Beckett, explica que o impulso de pegar o celular e ligar a tela é automático, um hábito inconsciente que desenvolvemos ao longo do tempo.

Em suas pesquisas, Duke descobriu que as pessoas subestimam a frequência com que verificam seus telefones.

Quando ligamos a tela, certas funções cerebrais e o design dos aplicativos trabalham juntos para nos manter envolvidos.

A professora Ariane Ling, do departamento de psiquiatria do NYU Langone Health, aponta que o hábito da rolagem de tela é natural, exacerbado por fatores ambientais.

O ser humano tem uma necessidade evolutiva de se manter informado, um comportamento que as redes sociais exploram ao fornecer constantemente novos conteúdos interessantes.

Nosso cérebro possui um sistema de recompensa que busca prazer, seja através de comida, sexo, drogas ou, no caso atual, informações novas no celular.

Este sistema é o mesmo que pode levar à dependência de substâncias. Por outro lado, o córtex pré-frontal, responsável por decisões equilibradas, tenta controlar esses impulsos.

No entanto, essa parte do cérebro nem sempre consegue superar o desejo de prazer imediato, especialmente nos jovens, cujo córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento.

Jovens estão cada vez mais dependentes do uso do celular – foto Arquivo

 

Duke explica que ao rolarmos a tela, entramos em um estado de fluxo, onde perdemos a noção do tempo, focados no conteúdo que o algoritmo nos oferece.

Isso leva a uma distorção do tempo, tornando difícil perceber quanto tempo realmente passou. A metáfora de Ling ilustra que rolar a tela frequentemente cria um “caminho” mental bem definido, tornando difícil desviar-se desse comportamento.

Embora a dependência do celular não esteja formalmente definida em manuais psiquiátricos, Duke afirma que os critérios clássicos de dependências podem ser aplicados para identificar um uso problemático.

Se o uso do celular impacta negativamente a vida diária ou causa sintomas de abstinência, é hora de reconsiderar os hábitos.

Para evitar o uso excessivo de telas, algumas estratégias são sugeridas:

Passar tempo longe da tela: Criar rituais que afastem você do celular, como caminhar sem o aparelho, pode ser benéfico. Também é útil estabelecer regras como não usar o celular à mesa durante refeições com a família ou amigos.

Interagir com o mundo físico: Pequenas mudanças, como usar um relógio em vez de olhar a hora no celular, podem reduzir o uso do aparelho.

Ler livros físicos ou realizar outras tarefas sem estar online também ajudam a focar no mundo real.

Controlar o impulso: É importante estar consciente dos momentos em que sentimos o desejo de usar o celular e tentar resistir a esses impulsos.

Reconhecer a vontade e deliberadamente decidir não agir sobre ela pode, com prática, melhorar a capacidade de manter a atenção e enriquecer a vida fora das telas.

Com estas abordagens, é possível desenvolver uma relação mais saudável com o uso do celular, reduzindo a dependência e aproveitando melhor o tempo e as interações no mundo real.

*Informações Época Negócios


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