Condição cerebral faz com que ex-obesos voltem a ganhar peso, diz especialista

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 27 de agosto de 2023 às 12:00
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Pesquisa científica apontou que cérebros de pessoas com obesidade têm dificuldade em informar sobre a saciedade, mesmo depois do emagrecimento

Obesidade prejudica o cérebro a reconhecer a sensação de saciedade – foto Freepik

 

A obesidade pode prejudicar a capacidade do cérebro de reconhecer a sensação de saciedade e ficar satisfeito depois de comer gorduras e açúcares, descobriu um novo estudo.

Além disso, essas mudanças cerebrais podem durar mesmo depois que as pessoas consideradas clinicamente obesas perdem uma quantidade significativa de peso – possivelmente explicando por que muitas pessoas costumam recuperar os quilos que perderam.

“Não havia sinal de reversibilidade – os cérebros das pessoas com obesidade continuaram a não ter as respostas químicas que dizem ao corpo: ‘OK, você já comeu o suficiente’”, disse a Dra. Caroline Apovian, professora de medicina na Harvard Medical School e codiretora do Center for Weight Management and Wellness no Brigham and Women’s Hospital, em Boston.

Conforme definido clinicamente, as pessoas com obesidade têm um índice de massa corporal, ou IMC, acima de 30, enquanto aquelas com peso normal têm um IMC entre 18 e 25.

“Este estudo mostra por que a obesidade é uma doença, há mudanças reais no cérebro”, disse Apovian, que não participou do estudo.

“O estudo é muito rigoroso e bastante abrangente”, disse o Dr. I. Sadaf Farooqi, professor de metabolismo e medicina da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que não participou da nova pesquisa.

“A forma como eles projetaram seu estudo dá mais confiança nas descobertas, somando-se a pesquisas anteriores que também descobriram que a obesidade causa algumas mudanças no cérebro”, disse ela.

Mais pesquisas são necessárias

É necessário cautela na interpretação das descobertas, disse Serlie, pois muito é desconhecido: “Não sabemos quando essas mudanças profundas no cérebro acontecem durante o ganho de peso. Quando o cérebro começa a escorregar e a perder a capacidade sensorial?”.

A obesidade tem um componente genético e, embora o estudo tenha tentado controlar isso excluindo pessoas com obesidade infantil, ainda é possível que “os genes estejam influenciando nossa resposta no cérebro a certos nutrientes”, disse Farooqi, que estudou o papel dos genes no peso por anos.

Muito mais pesquisas são necessárias para entender completamente o que a obesidade faz com o cérebro e se isso é desencadeado pelo próprio tecido adiposo, pelos tipos de alimentos ingeridos ou por outros fatores ambientais e genéticos.

“Há mudanças que ocorreram nas pessoas quando elas ganharam peso? Ou há coisas que elas foram comendo enquanto engordavam, como alimentos ultraprocessados, que causaram uma alteração no cérebro? Tudo isso é possível e realmente não sabemos o que é”, disse Farooqi.

Até que a ciência responda a essas perguntas, o estudo enfatiza, mais uma vez, que o estigma do peso não tem lugar na luta contra a obesidade, disse Serlie.

“A crença de que o ganho de peso pode ser resolvido simplesmente ao ‘comer menos, se exercitar mais e, se você não fizer isso, é falta de força de vontade’ é muito simplista e falsa”, disse ela.

“Acho importante que as pessoas que lutam contra a obesidade saibam que um cérebro com defeito pode ser a razão pela qual lutam com a ingestão de alimentos”, disse Serlie. “E espero que esta informação aumente a empatia por essa luta”.

*Informações CNN


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