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Pesquisadores brasileiros trabalham no desenvolvimento de material colante com microagulhas que pode propiciar uma forma indolor de receber imunizantes
Cientistas estão testando uso de adesivo para substituir vacinas – foto Freepik
Vacinar crianças costuma ser uma tarefa difícil para os profissionais de saúde, diante da rejeição de parte do público infantil ao sabor das gotas do imunizante. Com adultos, o desafio fica por conta dos episódios de aicmofobia – quando o paciente tem pavor de agulhas e evita injeções.
Os dois casos podem estar prestes a encontrar uma solução. Pesquisadores brasileiros estão trabalhando no desenvolvimento de um método menos incômodo de aplicação de vacinas, utilizando os chamados patches – adesivos medicinais com microagulhas contendo a substância.
A startup Microneeds, de São Paulo, fabrica desde 2020 agulhas específicas para esse tipo de produto.
A doutora em Imunologia Vivian Oliveira, CEO da empresa, explica que as microagulhas são compostas por polímeros (moléculas muito pequenas) para aplicações biomédicas.
Cada unidade tem apenas 700μm (micrômetro) de altura x 200μm de largura de base — para efeito de comparação, 1 milímetro tem 1.000 micrômetros.
Segundo a especialista, o método de imunização por meio dos patches se dá quando o dispositivo libera ativos de forma transcutânea (atravessando a pele).
“A administração é feita por meio de um adesivo repleto de microagulhas com a formulação vacinal desejada. Quando aplicado à pele, elas produzem microporos, de modo a atingir a camada dérmica, onde o medicamento é entregue e absorvido pelo organismo de forma controlada”.
Os pesquisadores da Microneeds estão desenvolvendo protótipos para diversas aplicações que estão em estágio pré-clínico: microagulhas para vacinas, imunoterapias, indução de modelos experimentais de alergia, entre outros.
“Todos esses projetos são desenvolvidos com uma rede de pesquisadores parceiros de diferentes universidades brasileiras, como a UFABC, UFMG, InCor, USP e UFES”, diz Oliveira.
Testes pré-clínicos
O material já está sendo testado há cerca de quatro meses por uma equipe de cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), liderada pela pesquisadora Silvia Boscardin, doutora em Microbiologia e professora do Departamento de Parasitologia da universidade.
O grupo testa em animais a imunização contra a malária, por meio da aplicação do adesivo.
De acordo com Boscardin, os estudos ainda são preliminares e ainda carecem de equalização para calcular a eficiência da dosagem da substância, além do formato da agulha: se rígido ou se flexível, capaz de derreter após o contato com a pele.
“Para essa vacinação transcutânea é preciso que a substância atravesse a primeira barreira da epiderme e seja administrada na derme. A gente está fazendo os ensaios pré-clínicos para tentar entender como será o melhor material (para esse fim)”.
Até chegar à pele humana de forma segura, os experimentos devem envolver ainda mais pesquisas com uma equipe multidisciplinar, que agregue além de profissionais da Saúde, especialistas em Engenharia de Produtos e Design, avalia a pesquisadora.
“Quando a gente fala em microagulhas, envolve diferentes áreas de conhecimento. Na minha visão, é uma tecnologia com muito potencial e talvez seja uma das tecnologias do futuro, se a gente conseguir equacionar algumas das questões”.
Eficácia do método
Maior órgão do corpo humano, a pele apresenta um ambiente favorável à indução de respostas imunes, explica Oliveira. Assim, a imunização na região pode ser mais eficaz do que as formas tradicionais.
“É um órgão repleto de células dendríticas (células de Langerhans), que funcionam como sentinelas na manutenção do equilíbrio e são as mais potentes células apresentadoras de antígenos com função crucial na indução da imunidade”.
Como as microagulhas podem potencialmente ser otimizadas para transportar qualquer tipo de vacina, elas podem baratear o acesso aos imunizantes por não depender de uma complexa cadeia de frio para manter sua eficácia.
Segundo a especialista, as funções biológicas e terapêuticas dos anticorpos conjugados com as microagulhas podem ser preservadas por até 6 meses em temperatura ambiente.
“A nossa solução tecnológica oferece uma grande vantagem mercadológica, a otimização da cadeia de frio e aumento da eficiência terapêutica, demandando menores doses do medicamento e reduzindo substancialmente o custo do tratamento — imunobiológicos são notoriamente caros. Como consequência, podemos promover o acesso desse tipo de terapia à população”.
Já para a Boscardin, além de poder chegar aos lugares mais remotos do país, a inovação poderá ser bem aceita de forma geral no Brasil ao incorporar as vacinas que já compõem o calendário vacinal, principalmente o imunizante contra a Influenza, que precisa ser administrada todos os anos pelos pacientes.
“Pegar essas vacinas e colocar em um patch vai facilitar enormemente a tradução desse contexto de injeção para o contexto transdérmico”, afirma a professora da USP.
*Informações Época Negócios