ENTREVISTA COM SYLVIO PASSOS, O “SYLVICOLA”

  • EntreTantos
  • Publicado em 21 de novembro de 2017 às 16:54
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Ele era amigo pessoal de Raul Seixas, fundador do Raul Rock Club, além de músico e compositor

Amigo pessoal de Raul Seixas, fundador do Raul Rock Club, curador de um de seus mais vastos acervos, músico e compositor. É bem provável que esqueci alguma qualificação, pois, é impossível resumir e rotular aqui toda trajetória deste grande sujeito. É com muita alegria que posto aqui o bate papo que tive com ele, Sylvio Passos, o “Sylvicola” como dizia Raul Seixas. Um cara que dispensa qualquer apresentação.

VALDECI SANTANA -Não há como lembrar de Sylvio Passos, sem o relacionar a Raul Seixas e vice-versa. Afinal, quando vocês se conheceram e o que houve de inusitado no primeiro diálogo entre vocês?
SYLVIO PASSOS: Bem…. Foi em 1981, quando Raul resolveu se fixar em São Paulo. Eu tinha na época 17/18 aninhos e na maior cara de pau liguei para casa dele para comunicar que eu estava fundando o Raul Rock Club. Ele, já meio alcoolizado, atendeu o telefone perguntando quem era, eu falei: ”-É o Sylvio…”, ele, rapidamente falou: ”-Silvio Santos… Eu faço o seu programa.”  Ha ha ha…. Já começamos bem o nosso primeiro contato. Expliquei que eu não era o Silvio Santos e sim o Sylvio Passos e que estava fundando um fã-clube para ele. Surpreso ele falou: ”-Um fã-clube pra mim? Nunca ninguém fez um fã-clube pra mim. Você pode vir almoçar comigo pra me contar essa história direito? E lá fui eu, dias depois, almoçar com Raul. Esse encontro mudou toda a minha vida. Eu que estava me preparando para ser jornalista e/ou psicólogo, abandonei tudo e abracei a causa raulseixisticka.

VALDECI SANTANA-Você foi um elemento importante na vida pessoal e profissional de Raul, como era a convivência, com o Raul pessoa? E qual o motivo do apelido “Sylvicola”?
SYLVIO PASSOS: Para mim, que era um garoto muito quieto, calado, naquele momento era importante para mim estar ali observando, aprendendo…. Então a convivência era tranquila porque a relação fã-ídolo se desfez muito rápido. Raul era um sujeito muito tranquilo, generoso. Dava umas despirocadas de vez em quando, mas era uma pessoa de boa, ídolo que se preocupava com todo mundo, queria ajudar todo mundo. Um homem de bom coração, entende?  Quanto ao apelido Sylvícola, ou Sylvícolas é o seguinte: Raul colocava apelido em todo mundo, até em coisas. Por exemplo: Ele chamava o tênis dele de cachorro. Quando não sabia onde estava o tênis, ele perguntava: ”-Sylvícola, onde está meu cachorro? ”. A mãe dele, Dona Maria Eugênia, me falou que Raulzito colocava apelidos nas pessoas que ele gosta muito. Ouvir isso da mãe dele me deixou muito feliz, embora eu soubesse que Raul via em mim muito mais que um simples fã.
VALDECI SANTANA-Você compôs Cowboy Fora da lei, há alguma outra composição sua gravada por Raul?
SYLVIO PASSOS: Pois é. Eu, naquela época, sempre escrevia uns poeminhas típicos de adolescente. Raul, com toda sua generosidade, me deu esse privilégio, em 1984, de fazer com ele a primeira versão de “Cowboy Fora da Lei”, que só foi lançada oficialmente em 2003 pela Som Livre no CD “Anarkilópolis” onde também fui responsável pela seleção de repertório. Tenho muitas fitas gravadas com Raul, mas nada que seja digno de lançamento oficial.
VALDECI SANTANA -Ao longo de sua vida você conseguiu ser um “sujeito normal e fazer tudo igual”?
SYLVIO PASSOS:  Eu acredito que nunca fui um “sujeito normal e fazer tudo igual”, daí essa sintonia recíproca desde o nosso primeiro contato.
VALDECI SANTANA-Creio que Raul Seixas Oficial Fã Clube, foi o único fã clube que Raul atestava. Como está o Fã clube hoje? As engrenagens ainda se movem?
SYLVIO PASSOS: Sim. Raul, em 1983, deu o título de “Raul Seixas Oficial Fã-Clube” ao Raul Rock Club, publicando, inclusive, na contracapa do seu disco “Raul Seixas”, que estava lançando pela Gravadora Eldorado na mesma época.  Continuamos na ativa acompanhando toda a modernidade tecnológica do Século XXI, afinal, o Raul Rock Club é do século passado, correio, máquina de escrever, mimeografo e outras coisas que as Gerações Y e Z desconhece na prática. Os bits do Raul Rock Club continuam ativos comunicando-se com as novas gerações, pois, os valores todos podem ter mudado, mas a essência continua a mesma. 
VALDECI SANTANA- Em qual projeto o Sylvio Passos se dedica nos dias atuais?
SYLVIO PASSOS: Atualmente continuo me dedicando ao Raul Rock Club com a Expo Raul Rock Club (exposições itinerantes com objetos pessoais de Raul) e com o meu programa “Pergunte ao Carimbador Maluco” no YouTube. Também atuando como músico com minha Putos BRothers Band e como ator na peça “Obrigado, Raul!” Escrita por mim e por Agnaldo Araújo (guitarra e voz da Putos BRothers Band). 
VALDECI SANTANA-É bem provável que o baú de Sylvio Passos é bem mais rico que o baú do próprio Raul, já que, ele mesmo dizia que você sabia mais coisas sobre ele, do que ele próprio. Há algum projeto envolvendo o Baú do Sylvio?
SYLVIO PASSOS: O baú do Raul é muito mais rico que o meu, sem sombra de dúvidas. Mas a Expo Raul Rock Club, a peça Obrigado, Raul!, o programa Pergunte ao Carimbador Maluco e o show Toca Raul, Putos!, de uma forma ou de outra, são projetos envolvendo tanto o meu baú quanto o de Raul.

VALDECI SANTANA-Por fim, lhe agradeço imensamente a gentileza e, como todo fã de Raul, procurei evitar perguntas sobre seus últimos momentos, entretanto, para finalizar, como ficou o Sylvio Passos sem o amigo? Seria demais dizer que você ficou órfão?
SYLVIO PASSOS: Não. Não me vejo assim como órfão. O que “perdi” foi um amigo. O meu ídolo continua muito vivo. Aliás, muito mais vivo que muitos ídolos vivos de fato.

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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