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Independentemente da espécie, os humanos precisam criar estratégias e dedicar algumas horas do seu dia para fortalecer a inteligência de seus companheiros
A dedicação dos tutores de pets ajuda a estimular a inteligência dos bichinhos – foto Freepik
A briga entre cachorreiros e gateiros não é de hoje, mas uma especialista se propôs a desvendar um dos mistérios mais famosos que envolve a rixa entre tutores: qual das espécies é a mais inteligente?
Sabemos que o desafio é ambicioso, mas com a ajuda, conseguimos chegar em uma resposta que — tenta — dar fim às discussões!
Por definição, para a Oxford Languages, maior editora de dicionários do mundo, a inteligência pode ser resumida pela capacidade de conhecer, compreender e aprender, adaptando-se a novas situações.
Irvênia Prada, professora emérita da Universidade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) concorda que o significado se aplica aos bichos.
“É uma porção de habilidades que caracterizam cada espécie com base no repertório relacionado às suas necessidades de sobrevivência e de adaptação ao meio em que vive”.
“Dessa forma, poderíamos entendê-la como a capacidade do indivíduo de superar situações difíceis.”
A verdade é que, assim como os “pais de pet” criam diversas justificativas para comprovar suas teorias, a comunidade científica também já perdeu o sono tentando responder à charada.
Ao redor do mundo, uma série de estudos foram feitos para compreender se há, de fato, um padrão para definir se uma espécie pode ser considerada mais inteligente que a outra.
Uma pesquisa publicada na revista científica Frontiers Media SA, por exemplo, procurou entender a ligação entre o tamanho do cérebro carnívoros e o número de neurônios no córtex cerebral, parte relacionada à inteligência.
A equipe, que contava com estudiosos de vários países, como Brasil, Estados Unidos, Dinamarca, Arábia Saudita e África do Sul, percebeu que os cães possuem cerca de 530 milhões de neurônios corticais, pouco mais da metade presente no cérebro felino.
O golden retriever, raça analisada na pesquisa, também apresentava mais neurônios que o leão africano e o urso pardo. A título de comparação, os humanos têm cerca de 16 bilhões de células em seu sistema nervoso.
Valeska Rodrigues, professora do curso de Medicina Veterinária da UNIFRAN, esclarece que os neurônios são responsáveis por transmitir informações do corpo e gerar respostas e, por isso, a quantidade presente no cérebro irá impactar nas capacidades cognitivas do animal.
“Eles passam estímulos sensoriais, de órgãos e impulsos para realizar reações. Quanto ao desenvolvimento da espécie, poderá levar ao aprendizado de comportamentos, defesa, caça, brincadeiras, defesa, territorialismo”, aponta a médica-veterinária.
Portanto, os cães são mais inteligentes do que os gatos?
Será que este dado é suficiente para batermos o martelo e definirmos que os cães são mais inteligentes que os felinos? As especialistas acreditam que não! Para Irvênia, a discussão passa por questões mais complexas.
“Um aspecto a ser considerado é a porção do cérebro relacionada ao intelecto. Os indivíduos com essa parte bem expandida, devem ser mais inteligentes. Se for a área motora, terão apenas mais capacidade de ações que demandem força física”, esclarece a professora.
Valeska concorda que a resposta é relativa e reflete sobre a diversidade presente entre os próprios indivíduos de uma mesma espécie.
“Existem raças, tanto caninas, quanto felinas, com maior grau de desenvolvimento e facilidade de treinamento. Os animais possuem características diferentes, dependentes da ação do sistema nervoso central.”
De fato, há muitas pesquisas apontando cães como os mais inteligentes. No entanto, a menor quantidade de estudos que colocam gatos como protagonistas, se comparado aos trabalhos envolvendo os canídeos, dificultam compreender o cenário completo.
Há alguns anos, James Gorman, repórter do The New York Times especializado em biologia evolutiva e ciência do cérebro, levantou uma hipótese, apoiada por pesquisadores, que a comunidade científica apresentava certa predileção por cães.
“Gatos não são levados tão a sério, provavelmente devido a preconceitos sociais”, opinou Elinor Karlsson, do Broad Institute e da Universidade de Massachusetts, nos EUA, ao veículo.
O processo de domesticação pode ajudar a explicar a diferença do nível de interesse com a temática. Enquanto os cachorros são parceiros dos humanos há cerca de 20 mil anos, os felinos têm metade do tempo de interação afetiva.
Ou seja, seguimos na dúvida?
Não! Ainda que estudos ajudem, sim, a fortalecer certas teorias, cada espécie vive de modo compatível às suas necessidades.
Ou seja, a resposta mais simples seria dizer que não há resposta, porque um não é mais inteligente do que o outro.
Veja bem: faria sentido menosprezar a inteligência humana, visto que não somos capazes de nos comunicarmos por infrassom, como outras baleias? Ou dizer que um peixe não evoluiu o bastante por não conseguir escalar uma árvore? Não, certo? Exatamente por isso, não adianta comparar dois animais distintos.
O papel dos tutores
Se há algo que podemos concordar é que, independentemente da espécie, os humanos precisam criar estratégias e dedicar algumas horas do seu dia para fortalecer a inteligência de seus companheiros.
A rotina doméstica, apesar de ser mais segura, retira estímulos básicos e a possibilidade dos pets manifestarem seus comportamentos naturais.
Ainda que muitas habilidades sejam inatas, ou seja, nascem com o animal, outras são adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida.
Ao aprender a caçar, se proteger do frio, buscar abrigos e encontrar alimentos, por exemplo, o bicho eleva o seu nível de cognição.
“O enriquecimento ambiental é importante para evitar o desenvolvimento de desvios comportamentais, como automutilação por ansiedade”.
“Treinos, passeios, exercícios e brincadeiras vão melhorar as respostas cognitivas do animal. O convívio ficará mais divertido, o pet irá gastar energia e ter qualidade de vida”, finaliza Vaneska.
*Informações Vida de Bicho