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Jogador deixou interior da Bahia em busca de trabalho, dobrou o primeiro salário em duas horas num bar e nunca mais largou o esporte
Baianinho de Mauá dobrou o primeiro salário que ganhou em São Paulo em duas horas jogando sinuca (Foto: Marcos Ribolli)
Josué Ramalho da Silva é o grande expoente de um esporte já muito popular no Brasil. Antes visto com muito preconceito por ser praticado em bares de regiões periféricas do Brasil, a sinuca tem deixado o amadorismo nos últimos anos e tentado mudar a imagem com a organização e profissionalização do jogo.
A mudança de status do esporte passa por Josué, conhecido por Baianinho de Mauá, considerado o melhor jogador do Brasil há alguns anos.
Redes sociais
Através de partidas que atraem milhões de visualizações nas redes sociais, a sinuca tem movimentado também muito dinheiro. Recentemente, Baianinho faturou prêmio de R$ 400 mil em uma única partida.
A história de vida de Baianinho de Mauá, o “bruxo da sinuca”, ajuda a ilustrar o quanto a sinuca pode ser instrumento transformador e de inclusão social, deixando de lado a violência urbana que se confunde com a prática do esporte.
“Sinuca é esporte. A galera curte porque dois jogadores jogando é bonito, até quando o Baianinho não está jogando é bonito. É difícil o jogo de sinuca, não é fácil”, disse Baianinho de Mauá.
Polícia parava para ver Baianinho jogar
Baianinho de Mauá deu as primeiras tacadas na sinuca ainda garoto. Nascido na cidade de Paulo Afonso, interior da Bahia, o jovem se dividia entre uma infância humilde trabalhando como carregador de frutas e o esporte que foi se transformando com o tempo em profissão.
O dinheiro que ganhava na feira era convertido nas fichas de sinuca em bares espalhados por Paulo Afonso. Aos poucos, Baianinho começou a desenvolver habilidades no esporte, mas quem vê atualmente o melhor jogador do Brasil em atividade dificilmente imagina os percalços do início da carreira.
“Comecei perdendo, a pessoa sempre começa perdendo. Fui perdendo para os caras, mas depois de seis meses comecei a ficar bom, bater naqueles caras que me ganhavam. Quando ganhava deles, ia para o lugar dos carroceiros contar o dinheiro que ganhei. Me perguntavam onde eu pegava tanto frete. Depois descobriram que eu ganhava o dinheiro jogando sinuca, isso com 15 anos”, explicou Baianinho.
A fama e a habilidade do garoto foram ganhando as ruas da cidade do interior da Bahia. Menor de idade, Baianinho de Mauá tinha “liberação” das autoridades locais para frequentar bares e jogar sinuca.
Vinda para Ribeirão Preto
“Entre meus 15, 16 anos eu já jogava bem na região da Bahia, Alagoas. As autoridades me deixavam jogar porque era proibido o jogo para menor de idade. Eu jogava bem, fazia show para o pessoal. Quando começava a jogar na feira, o pessoal largava a banca para me assistir, até polícia parava para ver. No Nordeste quando junta muita gente ou é briga ou algo engraçado, eles achavam muito bonito”.
A preocupação da mãe com a violência urbana fez Baianinho de Mauá seguir outro rumo. Em busca de um trabalho formal, o jogador foi convidado pelo irmão para realizar um sonho em São Paulo: ser motorista.
Josué desejava deixar o carrinho de mão e assumir o comando de um carro de verdade. Foi então que saiu da Bahia para desembarcar no estado mais rico do Brasil.
“Quando cheguei em São Paulo ele me deu uma carriola igual da Bahia. Fiquei trabalhando de ajudante de pedreiro com ele, fazendo massa e esses negócios. Quando recebi meu primeiro salário fui caçar um jogo, sabia que era bom, mas meu irmão me pedia para tomar cuidado que tinha muito ladrão “, relembrou Baianinho.
Dobrou o salário em duas horas
Josué, que ainda não era chamado de Baianinho de Mauá, ficou apenas o período de experiência trabalhando como ajudante de pedreiro. Foram três meses de trabalho formal em São Paulo antes de a sinuca virar o ganha-pão.
“Comecei a jogar e em duas horas de jogo eu já tinha dois salários no bolso. O cara me perguntou se eu só vivia de jogo, se era profissional. Mostrei as mãos cheias de calos. Eu tinha um contrato de três meses na empresa, encerrei os três meses e decidi continuar brincando de sinuca. E fui ganhando da galera”, contou.
Saindo de Ribeirão Preto
O apelido foi conquistado após Baianinho deixar a cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, local onde o irmão morava e o acolheu. A decisão de ir para a capital aconteceu após os rivais não toparem mais enfrentá-lo. Foi em Mauá, na Grande São Paulo, onde tinha familiares, que começou a virar referência no esporte.
“Comecei a jogar em Mauá, fui andando no ABC, Santo André, São Bernardo, fui jogando em toda a redondeza e ganhando do pessoal. Perguntavam de onde eu era, aí pegou. Tem um Baianinho lá de Mauá que é bom, aí ficou o apelido”, disse.
Atualmente, Baianinho deixou Mauá para trás e mora em um dos bairros mais nobres de São Paulo. A vida tomou outro rumo com a profissionalização do esporte.
Baianinho de Mauá tem faturado alto com profissionalização da sinuca (Foto: Marcos Ribolli)
Das mesas de bares e apostas que chegavam a até R$ 3 mil, Baianinho migrou para torneios organizados com aporte financeiro de patrocinadores. Nas redes sociais, por exemplo, os jogos transmitidos ao vivo que envolvem o jogador ultrapassam com facilidade as milhões de visualizações.
O Grupo BMS, holding que organiza e realiza todos os torneios oficiais de Sinuquinha, investiu aproximadamente R$ 2,5 milhões no esporte em 2022, entre premiações, locações, equipamentos, produção, entre outras coisas.
Apesar do mesmo nome, sinuca e sinuquinha são esportes com diferentes regras. Outro nome famoso do esporte, Rui Chapéu, por exemplo, jogava sinuca.
Sinuquinha
Nos anos 80, Rui ficou conhecido por fazer exibições e receber desafiantes na TV, ganhou dinheiro com o ofício, mas não de maneira estritamente profissional. Não havia uma liga regular de sinuca.
Baianinho de Mauá, por sua vez, é praticante da sinuquinha. Os campeonatos são regulamentados pela Liga Brasileira de Sinuquinha.
No fim de 2022, Baianinho de Mauá faturou o maior prêmio da história da sinuca brasileira. Foram R$ 400 mil pela vitória sobre Felipinho, considerado outro grande nome da atualidade no esporte. Transmitida ao vivo, a partida durou mais de quatro horas e tem mais de 1 milhão de visualizações no YouTube.
Cachê para exibição
O jogador tem explorado o mercado e abriu uma loja oficial com a venda de produtos assinados para a prática da sinuca.
Um taco assinado por ele, por exemplo, custa pelo menos R$ 400. Baianinho de Mauá é o segundo jogador de sinuca mais seguido do mundo, com mais de 530 mil seguidores, atrás apenas do britânico Ronnie O’Sullivan.
Baianinho de Mauá cobra cachê a partir de R$ 12 mil para participar de eventos fora do calendário da sinuca.
(Texto publicado originalmente pelo Globo Esporte)