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Embora muitas vezes seja incluído como característica positiva da personalidade (especialmente em entrevistas de emprego), o perfeccionismo pode manifestar sua faceta nociva
Embora possa ser visto como algo positivo, o perfeccionismo tem seu lado ruim (foto Freepik)
O que vem à sua mente quando pensa em um perfeccionista? Você pode lembrar de figuras exemplares como aquele aluno disciplinado nota 10, um profissional metódico e pontual de alto desempenho ou alguém que mantém todos os cantos da casa incrivelmente limpos.
Embora muitas vezes seja incluído como característica positiva da personalidade (especialmente em entrevistas de emprego), o perfeccionismo pode manifestar sua faceta nociva.
Quando seus padrões são elevados e rígidos e a autocrítica é feroz, a vida se torna cansativa, os projetos não saem do papel e a insatisfação é recorrente, minando a autoestima.
Ansiedade, depressão e outros problemas da saúde mental podem decorrer dessa espiral de descontentamento.
Sem erros
Na psicologia, é mais comum encontrar pesquisas sobre impactos negativos do perfeccionismo, mas há estudos que distinguem o perfeccionismo “adaptativo”, com efeitos positivos na vida da pessoa que sai da zona de conforto para buscar a evolução, e o “mal adaptativo”, que leva a pessoa a focar no erro, já que considera que não deveria errar, explica a neuropsicóloga clínica Priscila Covre.
“O perfeccionismo pode atrapalhar a vida quando a pessoa estabelece metas e padrões altos, pouco realistas e inflexíveis. Ela pode perder um tempo grande tentando alcançar esse padrão, sem coragem de dar um passo para trás, e ficar isolado”, diz a psicóloga.
Outro padrão nocivo é focar demais nos erros e só aceitar a “nota 10″, sem reconhecer pequenos avanços.
“Quando consegue algo, ele desvaloriza. Se não consegue, faz autocrítica pesada. Ou nem começa a fazer por medo de errar, o que faz dele um procrastinador, que adia as suas tarefas”, diz.
Meritocracia, perfeccionismo e síndrome do impostor
A psicóloga Priscila percebe que o perfeccionismo tem se tornado mais comum. “Os padrões culturais reforçam a meritocracia do valor próprio, que constrói uma autoestima baseada em desempenho: para eu merecer ser amado e ter valor como ser humano, preciso me esforçar, conquistar.”
Uma pesquisa da American Psychological Association identificou o aumento do perfeccionismo entre universitários, causado por altas expectativas e críticas dos pais, com possíveis impactos na saúde mental dos jovens.
No estudo, com universitários nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, foi identificada alta de 40% de percepção dos jovens em relação à expectativa dos pais entre 1989 e 2021.
“Se a criança tiver um perfeccionismo desadaptativo, a sensação de nunca satisfazer os padrões elevados almejados internamente, combinado com a expectativa de seus pais, pode comprometer a saúde psicológica com estresse, ansiedade e até mesmo depressão”, afirma a psicóloga Ana Karla Silva Soares, professora de Psicologia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Ana Karla coordena o Núcleo de Pesquisa em Psicometria e Psicologia Social (NPPS), onde o perfeccionismo é um dos temas mais estudados.
Nas pesquisas do NPPS, os resultados demonstraram que o perfeccionismo está associado a outras variáveis psicológicas como autoestima, procrastinação e síndrome do impostor – sentimento de que é uma fraude e que o sucesso não se deve a nossa habilidade, mas sim a fatores externos como sorte.
Perfeccionismo no mercado de trabalho
No mercado de trabalho, os perfeccionistas integram positivamente as equipes, contanto que entendam e valorizem a diversidade e sejam empáticos, afirma Lucas Toledo, diretor executivo do PageGroup, empresa de recrutamento e seleção.
“Se for uma pessoa organizada, que gosta de fazer tudo bem-feito, que gosta de seguir normas e procedimentos, vamos avaliar se ela tem flexibilidade para experimentar métodos novos, o que tem tudo a ver com inovação.”
Nos esportes, o perfeccionismo também pode ser benéfico, na visão da psicóloga Leticia Capuruço, especialista em Psicologia do Esporte.
“O esporte atrai e ao mesmo tempo forma perfeccionistas. É uma característica que, se usada de forma positiva nos atletas, faz com que eles se esforcem e melhorem seu desempenho”, diz.
Leticia recomenda a pais e técnicos de atletas que incentivem sempre a busca pela evolução, não a fixação pelo resultado final.
“Aos atletas perfeccionistas, eu pergunto como foi o jogo, não quanto foi. É melhor que o técnico mostre soluções, em vez de apontar erros.”
A psicóloga Ana Karla Soares explica que não há problema em ser perfeccionista, mas em sofrer por isso.
“De perfeccionista todos temos um pouco. Se sente que o seu cotidiano é afetado de forma negativa por sua vontade de fazer tudo com perfeição, faça uma reflexão e tente modificar o padrão de comportamento. Se não conseguir, busque ajuda profissional”, orienta.
O perfeccionismo atrapalha a sua vida? Faça o teste
Abaixo, você encontra desdobramentos negativos do perfeccionismo. Caso se identifique com algum deles, permita ser mais flexível consigo mesmo e valorize pequenas conquistas, reconhecendo o caminho até a meta final.
– Você determina metas irreais ou indefinidas e nunca está satisfeito com suas conquistas. Para você, é tudo ou nada: como seu padrão é muito elevado, você não se contenta com pequenos avanços.
– Você é inflexível, rígido: se não for para fazer do seu jeito, “bem-feito”, você não aceita.
– Você tem um carrasco interno que está sempre focado nos seus erros e imperfeições. Sua autocrítica é impiedosa. – – Você vive se cobrando, dizendo a si próprio que “deveria” fazer algo para ser melhor.
– Você tem dificuldade de delegar tarefas, pois você só gosta do seu jeito de fazer as coisas. Seu relacionamento com outras pessoas – família, colegas e amigos – também é prejudicado por esse olhar crítico e exigente.
– Você procrastina as suas tarefas, pois só terá coragem de encará-las na última hora, com a pressão do prazo.
– Você não consegue tirar projetos do papel ou demora muito para fazê-lo, já que está sempre pensando nos mínimos detalhes.
– Você tem ficado ansioso e/ou desanimado por conta de uma ou mais situações citadas anteriormente.
*Informações Estadão