Grammy Latino: Gabeu, filho de Solimões, leva queernejo pela 1ª vez à premiação

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 21 de setembro de 2022 às 12:00
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Aos 23 anos, cantor concorre à categoria ‘Melhor Álbum de Música Sertaneja’ com “AGROPOC”, lançado em agosto de 2022

gabeu

Cantor Gabeu é um dos indicados ao Grammy Latino 2022 – foto Divulgação

 

O cantor Gabeu, um dos cantores indicados na categoria “Melhor Álbum de Música Sertaneja” do Grammy Latino 2022, comemorou o fato de poder levar, pela primeira vez, o estilo musical queernejo a uma premiação internacional.

A notícia de que concorreria a um dos mais importantes prêmios do meio musical pegou o cantor de 23 anos de surpresa na última terça-feira (20).

Segundo ele, a ficha de que o álbum “AGROPOC” está entre os indicados ainda não caiu.

Os vencedores das categorias serão anunciados em 17 de novembro, em uma cerimônia realizada em Las Vegas, Estados Unidos.

“Acordei meio tarde e estava na cama quando meu namorado recebeu uma mensagem me parabenizando pela indicação”.

“Ele me falou e eu não acreditei, achei que era uma lista de pré-indicados, algo assim. Quando eu peguei o celular e vi que era a lista de indicados oficial, fiquei em choque, ainda estou sem reação”, diz.

A lista oficial da mesma categoria ainda tem nomes como Chitãozinho & Xororó, Marília Mendonça e Maiara & Maraisa.

Para Gabeu, ser indicado ao lado de grandes referências do cenário sertanejo é muito significativo para a comunidade LGBTQIA+ e impulsiona outros artistas que defendem a causa a se inserirem no mercado musical.

“Sinto que com essa indicação eu estou abrindo as porteiras para que outros artistas possam vir. É muito significativo ter uma pessoa como eu indicada, uma pessoa que desde o começo levantou essa bandeira de representatividade”, afirma.

‘Estou no caminho certo’

Gabeu e o pai, o cantor sertanejo Solimões, dupla de Rionegro – foto Redes Sociais

 

Ainda tentando administrar as mensagens de carinho recebidas desde o momento em que a indicação foi anunciada, Gabeu conta que quando recebeu a notícia teve como prioridade comemorar junto à família.

Devido à distância, o anúncio da indicação precisou ser feito por ligação, mas nada que atrapalhasse a alegria da mãe, da irmã e do pai, o cantor Solimões, dupla de Rionegro e uma das primeiras inspirações para Gabeu na música sertaneja.

“Meu pai ficou bem feliz, ele tem uma postura de sempre colocar meus pés no chão, de analisar tudo com mais seriedade, sem muita euforia, então a gente teve uma conversa bem tranquila e já estamos pensando em como organizar minha ida para a premiação”.

Ainda de acordo com o cantor, para além de desejar ser o vencedor da categoria, estar entre os indicados é motivo de orgulho e confirmação de que seu trabalho está caminhando para a direção certa.

“Está todo muito eufórico, vibrando, e isso é muito importante, porque, em muitos momentos de vulnerabilidade, me passam coisas pela cabeça de achar que meu trabalho não é tão levado a sério, de pensar se algumas coisas valem mesmo a pena. E aí hoje foi como uma confirmação de que sim, eu estou no caminho certo”, aponta.

AGROPOC

Lançado em agosto de 2021, o álbum “AGROPOC” é o primeiro disco da carreira de Gabeu.

Com 10 faixas, a produção tem como inspiração múltiplas referências do gênero sertanejo que resultaram, nas palavras do cantor, em uma “mistureba que deu certo”.

“Meu álbum nasce muito de uma necessidade pessoal minha de resgatar a minha raiz caipira, de olhar para trás e resgatar tudo que eu escutava desde a infância, que vai desde a moda de viola que meu pai colocava a música country”.

“Acho que o álbum é um apanhado de referências dentro da música sertanejo, então tem country, bailão, uma coisa mais latina, mexicana, tem balada, tem uma coisa mais eletrônica, pop. No final é uma ‘mistureba’ que deu certo”, explica.

Queernejo

Definido por artistas do seguimento, o queernejo, estilo que Gabeu é percussor, é um movimento musical que se deriva de uma matriz sertaneja. O termo queer engloba as múltiplas possibilidades de gênero e sexualidade.

De acordo com Gabeu, o movimento surgiu em 2019, quando ele assinou as primeiras produções inspirado pelo trabalho da drag queen Reddy Allor.

O principal objetivo é promover um espaço de acolhimento para artistas que, apesar de se identificarem com o sertanejo, não se sentem representados pela produção convencional que abordam o universo heterossexual.

Segundo o cantor, a indicação ao Gammy, alinhado ao trabalho que vem desenvolvendo na música, é como um incentivo para que mais premiações possam abraçar a diversidade.

“Eu espero muito que em outras edições a gente veja mais diversidade nessa categoria de música sertaneja, porque se já é difícil fazer música sendo LGBTQIA+, fazer música sertaneja é duas, três vezes mais, por conta de todas as problemáticas do gênero musical sertanejo”, afirma.

*Informações G1


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