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E, no entanto, acredite: tudo aquilo que vinha ocorrendo todos os dias, uso da máquina pública, passeatas de motocicleta, mobilização de fieis das mais diversas denominações para marchar por um candidato usando como disfarce o nome de Jesus, vai continuar ocorrendo, mas agora legalmente. Não para por aí: agora há também chateação eleitoral na TV, naquilo que é apelidado de horário gratuito mas que você paga sem qualquer desconto.
É chato, mas pode ser divertido. Dá para ver a primeira-dama Michele Bolsonaro puxando orações em prédios públicos de um país laico. Pois não é que Michele disse que o Palácio do Governo estava dedicado aos demônios e que era necessário expulsá-los? Uma sábia declaração: se há demônios no Palácio do Governo, é preciso mesmo expulsá-los, a começar pelo Capetão.
Em São Paulo, um político de prestígio, respeitado por sua capacidade de articulação, promete votar para o Governo e para o Senado em candidatos bolsonaristas. O candidato ao Governo até hoje deve imaginar que São Paulo é o apóstolo que escreveu as cartas ao Corinthians. Mas isso não o preocupa: está acostumado ao motorista do carro oficial que sabe como ir de Cegonhas, aeroporto em que parece que já pousou, até Barulhos, onde está o aeroporto em que o jato oficial o apanha o mais depressa possível para levá-lo a lugares de que gosta, como Brasília ou Rio. Já o outro candidato é mais complicado: seu apelido é Astronauta. Esteve no espaço. Pelo jeito, gostou.
O intermináaavel!
Um bom jornalista, Ivo Patarra, filho de dois jornalistas de primeira linha, Judith e Paulo Patarra, acaba de lançar um livro que vale a pena ter em casa. É “20 anos de corrupção”, em que cita os governos de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Caso Ivo se disponha a prosseguir, logo haverá mais volumes. Lembremos as novas expressões (ou expressões antigas com novo significado) que aprendemos nesses 20 anos: Mensalão, Bolsolão, Petrolão, Rachadinha, Trensalão; Orçamento Secreto; “É preciso manter isso assim”; e Departamento de Operações Estruturadas, que molha a mão de quem está louco para sujá-las. Tudo, claro, protegido por sigilo – cem anos de perdão.
O cofrinho em ação
“Cofrinho” já tinha novo significado, além de “cofre pequeno”. Mas quem imaginaria que o cofrinho serviria para esconder da Polícia o dinheiro enrolado – e ilegal? Não faça essa cara de nojo: como dizia o imperador romano Vespasiano, “dinheiro não tem cheiro”. Lavou, enxugou, está novo.
Chuva de números
Com o início oficial da campanha, as pesquisas aparecerão com mais frequência. A primeira, já ontem, é de um instituto de peso: o IPEC, formado pelo pessoal do antigo Ibope. Lula tem 44%. Bolsonaro é o segundo, com 32%, Ciro o terceiro, com 6%; Simone Tebet está em quarto, com 2%. Dos demais candidatos, só uma chegou a 1%: Vera Lúcia, do PSTU. Com esse resultado, é possível que Lula ganhe a eleição no primeiro turno. Mas, embora possível, não é provável: falta muito tempo. A pesquisa é um pouco diferente das outras, por detectar alguns efeitos das medidas do Governo para fortalecer Bolsonaro: o pagamento do Auxílio Brasil, a redução no preço dos combustíveis, vales para taxistas e caminhoneiros. Porém, é preciso esperar.
A guerra eleitoral
Há ainda a entrada de Michele Bolsonaro na campanha, buscando atrair mulheres e evangélicos; e a tempestade de notícias falsas, em que alguém sempre acaba acreditando. A julgar pelo noticiário, tanto Lula quanto Bolsonaro desistirão da Presidência, Lula para não sofrer a humilhação de uma derrota, Bolsonaro para garantir um cargo eletivo que lhe dê foro privilegiado. Pelo que se sabe até agora, os dois pretendem disputar até o fim. Andou correndo por aí que Lula, se eleito, pretenderia fechar as igrejas evangélicas. Bobagem: todas as que hoje se opõem a Lula já o apoiaram. Se ele ganhar, irão apoiá-lo de novo, ao lado da maior parte do Centrão. O bispo Edir Macedo e o hoje primeiro-ministro de fato, Ciro Nogueira, estiveram o tempo todo do Governo Lula ao lado do presidente.
Noves dentro
Lembra-se das duras trocas de mensagens entre o Ministério da Defesa e o TSE a respeito da segurança das urnas eletrônicas? Pois é: já estão de bem. Até quando? Boa pergunta. Mas o fato é que o ministro Édson Fachin, em seu último dia como presidente do TSE, incluiu nove militares indicados pelo Ministério da Defesa na análise do código-fonte das urnas. Fachin foi mais longe: elogiou o trabalho dos militares por seu trabalho na área eleitoral. E, ontem mesmo, passou o comando do TSE ao ministro Alexandre de Moraes.
O curioso é que, não faz muitos dias, Fachin expulsou do grupo de análise das urnas eletrônicas um coronel que abertamente falava mal delas nas redes sociais. Não apenas o expulsou, como só comunicou o fato ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, depois de consumado.
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