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Atualmente, não existe tratamento específico para a dengue, mas resultados da pesquisa prometem avanços para um possível tratamento no futuro
A dengue ainda não possui tratamento específico, mas pesquisa aponta possível solução
Nos dois primeiros meses deste ano, houve um aumento de 35,4% nos casos de dengue no País, de acordo com o Ministério da Saúde. Foram registrados 30 óbitos e 128.379 casos.
Atualmente, não existe tratamento específico para a dengue, mas os resultados de uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) representam um avanço na identificação da gravidade da doença e podem servir para que, futuramente, seja desenvolvido um tratamento próprio para a arbovirose.
O estudo, que teve início em 2015 e foi publicado em março deste ano na revista científica internacional eLife, descobriu que pacientes com dengue grave têm uma redução de uma proteína presente no corpo humano responsável por ‘frear’ o agravamento da doença, em comparação com pacientes com a forma leve da dengue, que possuem uma maior quantidade da dessas moléculas anti-inflamatórias, ou ainda em relação a pacientes saudáveis. Isso significa que a proteína Anexina A1 funciona como um biomarcador da dengue, ou seja, é um dos indicadores de severidade da doença.
Vivian Costa, autora da pesquisa ao lado de Michelle Sugimoto, afirma que o trabalho é o primeiro a identificar a importância dessas moléculas em uma doença infecciosa.
“Já existiam trabalhos mostrando que essas proteínas que freiam a inflamação são importantes para controlar as doenças que não são causadas por micro-organismos – como artrite, reumatoide e asma –, mas não existia nenhum indício de que isso funcionava para doenças infecciosas como a dengue, que é extremamente relevante no contexto brasileiro”, explica a pesquisadora e professora da UFMG.
Uma hipótese levantada a partir dos resultados é de que essa proteína possa ser usada para o tratamento da doença, em associação com drogas antivirais e outros medicamentos. Mas é necessário validar a hipótese por meio de testes em humanos, explica Vivian.
“Fizemos testes em camundongos. Em alguns deles retiramos essa proteína, e outros continuaram com a molécula. Percebemos que, após mimetizar a doença, aqueles que não tinham a proteína desenvolviam uma dengue mais grave em relação àqueles que possuíam a molécula, resultado bastante parecido com o que verificamos na análise do sangue de pacientes”.
Outro teste feito pelas pesquisadoras foi usar um ‘pedacinho’ da proteína para tratar os camundongos com dengue.
“O resultado foi que a gente reverteu a doença grave, sugerindo que isso poderia ser utilizado não apenas como biomarcador, mas também como tratamento”, explica a pesquisadora, reforçando a necessidade de que esses testes sejam replicados em pacientes humanos, para verificar se a aplicação da proteína Anexina A1 no sangue é suficiente para a melhora do quadro da dengue.
Ela esclarece que já existem testes clínicos – em humanos – sendo realizados com porções dessa molécula para verificar a interação com outras doenças, o que indica que é possível que testes sejam feitos também para a dengue.
“Obviamente, a gente precisa de recursos, porque desenvolver testes clínicos requer muitos gastos. Precisamos de investimento na pesquisa para que ela evolua”, diz Vivian.
O próximo passo do grupo de pesquisadores, coordenado pelo professor Mauro Teixeira, é descobrir se essas moléculas que freiam a inflamação também atuam em outras doenças virais como a Covid-19, a febre Chikungunya e a Zika.
Além disso, a pesquisa avaliou também o mecanismo de atuação da proteína Anexina A1. Vivian explica que ela atua nos mastócitos, célula do corpo responsável por gerar sangramento, e que é ativada pelo vírus da dengue, causando sangramentos e choque.
“Descobrimos, por meio dos testes in vitro e em animais, que a proteína consegue modular a ativação dessas células que causam hemorragia, deixando ela menos ativada, então os pacientes têm menos hemorragia”, diz a cientista, que recebeu em 2020 o prêmio do programa Para Mulheres na Ciência pela pesquisa.
O prêmio, concedido pela Unesco Brasil, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e L’Oreal Brasil, é destinado a jovens mulheres cientistas que conduzem projetos científicos de alto mérito.
*Informações Estadão