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O deputado inglês Chris Huhne foi flagrado pelo radar em velocidade não permitida. Para não perder a carta de habilitação, pediu à esposa Vicky Price que assumisse a culpa. Mais tarde, foi nomeado ministro. Só que o casamento acabou, Vicky Price revelou a história, Chris Huhne se demitiu do Ministério e renunciou ao Parlamento. Acontece que na Inglaterra é crime mentir à Justiça (aqui também, mas lá é levado a sério). Processo contra os dois, ambos condenados a oito meses de prisão e à multa de 120 mil libras.
Segredo de Justiça? Não, processo público, normal. Segurança nacional? Não, infrator é infrator, ocupe ou não algum posto importante. Como reagiu o Governo à condenação de seu ministro? O então primeiro-ministro David Cameron não botou a culpa na “mídia tendenciosa” ou algo parecido. O que disse: “é bom que todos saibam que ninguém, por maior e mais poderoso que seja, está fora do alcance dos braços da lei”. A propósito, descobriu-se que Vicky Price, quando decidiu contar a história, conversou primeiro com uma vizinha, a juíza Constance Briscoe, que a orientou na divulgação da notícia de maneira a facilitar a intervenção do Judiciário. Como lá é a Inglaterra, os juízes não podem fazer essas coisas. A juíza foi processada, condenada a 16 meses de prisão e, ao ser condenada, automaticamente perdeu o cargo no Poder Judiciário. É inimaginável que alguém se mantenha como juiz depois de condenado. E jamais se pensaria em elegê-la para algum posto político. Esses países de Primeiro Mundo são muito estranhos.
De lá para cá
O excesso de velocidade de Chris Huhnes ocorreu em 2003. A denúncia foi feita por Vicky Price em 2011, quando ele a deixou. Prescrição? Nada disso. Ela confessou sua participação, fez a delação, mas não foi premiada: era crime, foi processada e condenada também. Descoberto o papel da juíza Constance Briscoe, em poucos meses estava julgada, condenada e demitida do cargo. E a história foi encontrada por este colunista no excelente blog do jornalista Gerson Guelmann (https://gersonguelmann.com.br/blog), que a publicou originalmente em 8 de janeiro de 2018.
Onde está o dinheiro
Talvez aconteça algum milagre, pode ser; mas, até o momento em que encerrávamos esta coluna, o nosso dinheiro estava sendo velozmente saindo pelo ralo (ou entrando pelo ralo, depende do ponto de vista). Falta dinheiro para combater a fome, para ajudar as famílias que já não tinham quase nada e ainda foram prejudicadas pelo declínio da economia, para dar fôlego aos empresários sufocados pelos impostos, juros, multas e correções monetárias? Pois nem tudo é mau: o Congresso já aprovou em todas as comissões uma quantia galáctica para a campanha eleitoral, R$ 4,9 bilhões; uma abundância ainda maior para as “emendas de relator”, o tal “orçamento secreto” de R$ 16,5 bilhões, que tem o poder mágico de fazer com que parlamentares que falam duro contra o Governo acabem votando de acordo com o Governo; e mais um dinheirinho para dar aumento, ao que se diz, a uma única categoria, os policiais, R$ 1,7 bilhão. A coisa ficou tão escandalosa que até o “superministro” da Economia, Paulo Guedes, que já havia tomado posição contra o tamanho das despesas extraordinárias, percebeu que não havia como segurar a avalanche. Assinou a proposta orçamentária e tirou férias, para que ninguém encha seu saco enquanto ele puxa o do presidente.
A verba eleitoral é mais do que o dobro da gasta nas eleições de 2018, já atualizada pela inflação. O senador Marcelo Castro, MDB do Piauí, foi o único a criticar a derrama de dinheiro público. Mas quem criticaria o butim de Natal de parlamentares e do Governo Federal? Boas Festas!!!
Só no Brasil
O Orçamento é o principal instrumento de trabalho do Governo e do superministro da Economia. Pois o Posto Ipiranga tirou férias. Veja sua desculpa: diz que o ministro já apresentou sua proposta e cabe ao Congresso decidir o que deseja. Claro que todos estamos carecas de saber direitinho o que o Congresso deseja. Se o Imposto Ipiranga não sabe, não adiantou nada ter feito Economia na Universidade de Chicago, tendo Milton Friedman como professor. Se não descobriu que campanha eleitoral com esse custo é um desatino, para que o Posto Ipiranga leu Keynes três vezes, em inglês?
Só em Brasília
A primeira versão do financiamento de campanha multiplicado foi vetada pelo presidente Bolsonaro – ele, sem dúvida, tinha toda a razão: se falta verba para tirar famílias da fome, não se pode gastar dinheiro para acusar o rival de ser mais ladrão do que os aliados. Mas, enquanto vetava o inacreditável aumento de verbas de campanha, Bolsonaro autorizava discretamente seus seguidores a derrubar o veto. Aproveitaram a oportunidade: derrubaram por ampla maioria os vetos que os incomodavam. Na Câmara, por 317 a 146; no Senado, por 53 a 21. E, por favor, não incomodem Bolsonaro nessa época, em que ele se prepara para férias à beira-mar.
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