Colunista do “Jornal da Franca” comenta a prova de redação da 2ª fase da Unesp

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 10 de maio de 2021 às 15:30
  • Modificado em 10 de maio de 2021 às 18:01
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Luiz Claudio diz que a prova de redação, mais uma vez, traz um questionamento muito pertinente para os dias atuais.

O professor Luiz Claudio Jubilato, autor da coluna “Língua Portuguesa”, publicada no “Jornal da Franca”, professor de Língua Portuguesa e Redação, e diretor do Criar Redação, comenta a prova de redação da UNESP, realizada no sábado, dia 8 de maio.

A segunda fase da UNESP teve 60 testes e a redação.

Texto 1

Tempo é dinheiro.

(Provérbio inglês, já prefigurado numa frase de Teofrasto [372 a.C.-287 a.C.], filósofo da Grécia Antiga.)

(Paulo Rónai. Dicionário universal de citações, 1985.)

Texto 2

Lembra-te que tempo é dinheiro. Aquele que com o seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade, gastou, ou melhor, jogou fora cinco xelins a mais.

(Benjamin Franklin [1706-1790]. Conselho a um jovem comerciante, 1748. http://founders.archives.gov.)

1 xelim: até 1971, quando ainda estava em vigor no Reino Unido, um xelim equivalia a 12 pence.

“Time is money – order more clocks.”

(Mark Anderson. https://andertoons.com)

Texto 4

Vi quem só andava com o mesmo chinelo

Com o preço de uma casa no seu sapateiro

Olhei pro braço dos cria, tá geral de Rolex

Finalmente pude entender porque tempo é dinheiro

(Djonga [1994- ]. “Hoje não”. Histórias da minha área, 2020)

Texto 5

Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compramos e descartamos. Mas o que estamos gastando é tempo devida. Quando eu compro algo, ou você compra algo, não compramos com dinheiro, compramos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ganhar aquele dinheiro. Com uma diferença: a única coisa que não se pode comprar é a vida, a vida se gasta.(José Mujica [1935- ]. Human [documentário de Yann Arthus-Bertrand], 2015.)

Texto 6

Uma das coisas mais sinistras da história da civilização ocidental é o famoso dito atribuído a Benjamin Franklin “Tempo é dinheiro”. Isso é uma monstruosidade. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida. É esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo, esse tempo pertence a meus afetos. Antonio Candido [1918-2017]. www.cartamaior.com.br, 08.08.2006.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Tempo é dinheiro?

Disponível em: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/noticias/unesp-publica-provas-e-gabaritos-da-2-fase-do-vestibular-2021/349978.html

Comentário 

A UNESP não decepciona. Não foi uma prova tão criativa como as de anos anteriores, mas muito interessante para bons leitores, como sempre. Há grande valorização de alunos que possuem boa cultura geral, bom conhecimento da norma culta. As respostas estão claramente definidas nas instruções das questões. As opções são diretas. Qual é o grande inimigo? O tempo. Pouco tempo para a execução da prova.

A prova de redação, mais uma vez, traz um questionamento muito pertinente para os dias atuais. É a terceira vez que a UNESP trabalha com um tema ligado ao dinheiro (riqueza): “A riqueza de poucos é sustentada pela pobreza de muitos” (2017) e “Compro, logo existo?” (2019). O tema de 2021, apesar de ser uma ponderação filosófica, no mundo capitalista virou um ditado popular. Aí é que está o perigo: ser fácil demais.

O perigo é ficar preso na discussão superficial sobre “capitalismo” e se esquecer do “tempo”. Tempo e dinheiro estão atrelados. Na estressante vida moderna, doenças psicológicas e condutas nada éticas estão ligadas a essa relação.

Primeiro: a pergunta tem que ser respondida pelos parágrafos do corpo do texto e diretamente pela conclusão.

Segundo: Se o aluno ler a coletânea, com calma, observará que ela, praticamente, oferece uma linha de raciocínio.

Terceiro: texto repleto de exemplos práticos, cotidianos, comportamentais, éticos, mas principalmente comportamentais.

Quarto: as questões 35, 36 e 37 trazem também informações capazes de ajudar o aluno pouco informado a sair do “senso comum”.

Um tema, como eu disse, perigosamente fácil.


+ zero