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Entre os jovens de 15 a 17 anos, cerca de 30% não estão matriculados hoje em dia no ensino médio
A suspensão das atividades presenciais, que completa 6 meses na maior parte do país, e a crise econômica trazidas pela Covid-19 podem agravar um problema já observado: a evasão escolar.
Tecnicamente, ela ocorre quando um estudante abandona as aulas e não retorna no ano letivo seguinte. A taxa tende a crescer em 2021 na visão de especialistas.
Entre os jovens brasileiros de 15 a 17 anos, cerca de 30% deles não estão matriculados no ensino médio (20% deles seguem ainda no ensino fundamental e 10% já estão fora da escola), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2019, feita pelo IBGE.
O levantamento mostrou também que 48,8% dos brasileiros com mais de 25 anos não concluíram o ensino médio. O principal motivo para a evasão escolar, apontado por 39,1% deles, foi a necessidade de trabalhar.
“Quando um jovem se afasta da escola, é muito difícil que retorne depois. Ele pode encontrar um ‘bico’ e ganhar seu dinheiro”, explica Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil.
“Há os jovens que sentem a necessidade de buscar o próprio sustento, os que já têm filhos e precisam bancá-los, e os que têm de ajudar os pais em casa”, afirma Noleto.
E quanto mais anos passados, mais dificuldades para a volta. “Se um aluno decidir retornar aos 18 anos, mas encontrar colegas de 15, não vai se inserir na turma. É um contexto totalmente favorável para afastá-lo de novo dos estudos”, diz Inês Kisil Miskalo, gerente executiva de articulação do Instituto Ayrton Senna.
Outras possíveis causas da evasão escolar na pandemia são:
- aumento de casos de ansiedade e depressão;
- maior exposição à violência doméstica;
- incidência de gravidez na adolescência.
Consequências
“A escola oferece também aprendizagem socioemocional. Junto com a família, ensina a conviver em sociedade, a ter foco, a não desistir diante de resultados negativos. Ter um jovem fora da escola é privá-lo de seu desenvolvimento pleno”, afirma Miskalo, do Instituto Ayrton Senna.
Laura Müller Machado, pesquisadora e professora do Insper, explica que a evasão escolar traz um impacto direto na renda do jovem. “Por não ter diploma, a remuneração tende a ser de 20% a 25% menor. Os que estudam menos também tendem a ter um nível mais baixo de qualidade de vida”, diz.
Uma pesquisa do Insper com a Fundação Roberto Marinho aponta que:
- Sem concluir ensino médio, o jovem deve ganhar R$ 159 mil a menos ao longo da carreira, por ter mais dificuldade de encontrar emprego e maior probabilidade de ocupar atividades informais.
- A expectativa média de vida pode cair de 77,1 anos (para quem concluir a educação básica) para 72,7 anos (sem terminar a escola). A remuneração melhor leva a moradias mais seguras e a serviços de saúde de qualidade, por exemplo.
- A redução de 1 ponto percentual na evasão escolar pode evitar 550 assassinatos no Brasil por ano.
Luciana Szymanski, professora na pós-graduação em psicologia da educação na PUC-SP, destaca que os problemas emocionais vividos pelos jovens estão sempre atrelados a questões mais amplas, como as condições em que vivem.
“O adolescente que é pobre, que tem acesso difícil à escola, vai sofrer. Pense em uma pessoa que não tem condições de ir a uma terapia, não tem plano de saúde, não é atendida pelo sistema público. Ela não se sente acolhida”, diz. “A pandemia traz uma crise econômica que aumenta a evasão, a desigualdade, a pobreza, o suicídio.”
Esforços para evitar a evasão
Machado, do Insper, destaca a importância de fazer uma busca ativa pelos alunos ausentes e de identificar as causas de abandono escolar ou evasão.
Marlova Noleto, da Unesco, acrescenta que os esforços para evitar as desistências devem ser coordenados entre as redes de ensino, as escolas e os pais dos estudantes.
Noleto destaca a importância de diminuir as desigualdades para evitar a evasão. “Precisamos melhorar o acesso ao ensino remoto, para não perder o vínculo, além de manter o cuidado emocional dos adolescentes.”