Venda de medicamentos sem eficácia comprovada cresce 180% após covid-19

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de maio de 2020 às 17:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:40
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Farmacêuticos alertam que todos os remédios oferecem riscos, mesmo os que independem de prescrição

​A pandemia de Covid-19 disparou a venda de medicamentos sem eficácia comprovada, com aumentos de até 180% em alguns produtos. 

Entre eles, estão remédios à base de hidroxicloroquina, substância propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro mesmo sem estudos sólidos e com efeitos colaterais perigosos, como parada cardíaca.

A constatação está em pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) e obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo

O estudo comparou a quantidade de comprimidos e cápsulas comercializados nas farmácias do país no primeiro trimestre de 2019 com a do mesmo período deste ano. 

As seis substâncias pesquisadas foram aquelas que, de alguma forma, apareceram em debates públicos.

Outros

Segundo o estudo do CFF, o maior aumento em vendas foi registrado pelo ácido ascórbico, a vitamina C

Durante a pandemia, circularam informações sem respaldo científico sobre a capacidade de a substância prevenir o contágio pelo novo coronavírus. 

O total de comprimidos e cápsulas vendidos saltou de 9.327.016 para 26.116.340 de um trimestre a outro, crescimento de 180,01%.

Também foi identificado aumento de demanda por remédios com o colecalciferol como princípio ativo, a chamada vitamina D. 

Esse elemento também apareceu nas redes sociais como alternativa de prevenção, da mesma forma sem respaldo científico. O aumento nas vendas da substância foi de 35,56%.

O único remédio que teve a venda arrefecida no período foi o ibuprofeno, com queda de 2,63%. 

O medicamento esteve no centro de um debate mundial sobre seu resultado contra o novo coronavírus. No início, um diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que esse anti-inflamatório não fosse usado em casos de covid-19 por suspeitas de agravar a doença. 

Dois dias depois, a OMS informou oficialmente não haver restrições. Entidades médicas brasileiras, porém, mantiveram as ressalvas ao medicamento.

Campanha

Uma das conclusões do estudo encomendado pelo Conselho Federal de Farmácia é a de que a crise sanitária expôs a influência do medo da população e o hábito da automedicação. 

Farmacêuticos alertam que todos os remédios oferecem riscos, mesmo os que independem de prescrição.

“A nossa recomendação é de que os farmacêuticos continuem observando as recomendações da Anvisa e as boas práticas farmacêuticas para realizar as dispensações desses medicamentos, e orientem os usuários, pois a desinformação é um inimigo tão poderoso quanto o novo coronavírus”, afirmou o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.

Riscos

A depender da dose, o paracetamol pode causar hepatite tóxica. A dipirona, risco de choque anafilático. 

O ibuprofeno, por sua vez, pode ocasionar tonturas e visão turva. O uso inadequado de vitamina C pode causar diarreias, cólicas, dor abdominal e dor de cabeça. 

Já o uso indiscriminado de vitamina D pode fazer com que o cálcio se deposite nos rins e provoque lesões permanentes. 

Entre os efeitos colaterais da hidroxicloroquina estão arritmia e parada cardíaca.


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