USP usa células-tronco e devolve visão a idosos com doença degenerativa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de agosto de 2018 às 18:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:54
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Método apontou melhora em 80% dos pacientes com Degeneração Macular Relacionada à Idade

Com o celular nas mãos, o
aposentado Manoel Eleotério Neto, de 72 anos, responde a todas as mensagens
recebidas. Diagnosticado com Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI),
ele ouviu dos médicos que poderia ficar cego, mas a letra miúda não é mais
problema desde que se submeteu a uma técnica desenvolvida por pesquisadores da
Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto.

No Hospital das Clínicas (HC), os cientistas passaram a
usar células-tronco, capazes de dar origem a outras células, extraídas do
próprio paciente. O método apresentou resultados animadores e 80% dos pacientes
tiveram melhora expressiva na visão.

Retina afetada

A degeneração macular é mais
comum a pacientes com mais de 50 anos de idade. Segundo os pesquisadores, a doença
incapacitante afeta a retina e pode levar à cegueira. Estima-se que 8,7% dos
idosos no mundo convivam com o problema – só no Brasil, são cerca de três
milhões.

Após descobrir a doença há 16 anos, o oftalmologista
recomendou a Manoel o uso de vitaminas, mas elas não seriam suficientes para
conter o avanço da perda da visão. “Ele disse: ‘sua visão vai caindo, o senhor
vai perder a visão, e quando o senhor tiver uns 65 anos, o senhor vai ficar
cego.’ Eu fiquei apavorado.”

O mesmo prognóstico foi dado
ao aposentado Walter Cassioti, de 72 anos. A angústia foi ainda maior ao saber
que não havia remédios ou cirurgia para tratar a doença. “No começo, eu
enxergava razoável, mas via deficiência ao prestar atenção, por exemplo, em uma
formiga que vai passando e eu perdia a imagem. Já estava atingindo a retina.
Tinha uma deformidade nas imagens porque estava entortando a retina.”

Encaminhados ao HC para o
estudo, Walter e Manoel fizeram parte de um grupo de dez pacientes que recebeu
injeções intraoculares de células-tronco. O material retirado da medula óssea
de cada um deles foi processado e isolado nos laboratórios do Hemocentro.

Após o procedimento, os
pacientes passaram por um ano de exames para avaliar a função visual. Os resultados
mostraram uma sensível recuperação da visão e a estabilização. “Essas células,
depois que são injetadas dentro do olho, se incorporam no tecido da retina e
têm um fator que a gente chama de fator trófico. Elas liberam fatores que
melhoram o ambiente hostil da retina. Aquelas células da retina que estão
sofrendo e que não estão funcionando são resgatadas, é chamado resgate
funcional das células ruins”, diz a pesquisadora Carina Costa Cotrim.

Ainda de acordo com a
pesquisadora, o estudo possibilitou avaliar a segurança do uso das
células-tronco dentro do olho e mostrou que pode ser um dos caminhos para a
descoberta da cura. “Não houve crescimento de células indesejáveis. Não houve
descolamento de retina ou infecção, então, foi muito positivo nesse fator.
Quando a gente pensa que uma doença que a tendência é piorar e a gente tem
resultados que melhoraram uma porcentagem de visão, isso é uma grande esperança
para a população que é acometida pela DNRI.”

Manoel, que já tinha perdido a
esperança em enxergar com qualidade novamente, diz que o procedimento mudou a
sua vida. “100% não fica nunca mais, nem com células-tronco, mas vamos
botar uns 40% ou 50%. Para quem estava com 3%, é bastante. A visão é ótima pelo
que eu estava. Vejo celular, claro que eu não faço como vocês. Faço devagar,
mas eu enxergo.”


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