USP alerta para alterações pelo uso excessivo de plásticos e cosméticos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de julho de 2018 às 12:51
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Pesquisa em Ribeirão Preto apontou que 25% das crianças avaliadas possuem níveis tóxicos de substâncias

Da garrafa plástica ao
protetor solar, do sabonete ao papel emitido pela máquina de cartão de crédito,
a concentração de compostos químicos de materiais que facilitam a vida das
pessoas é motivo de preocupação para pesquisadores da USP de Ribeirão Preto.

Chamadas de desreguladores endócrinos, substâncias
capazes de alterar a produção de hormônios no organismo associadas a câncer,
obesidade e até infertilidade foram encontradas em variedades e níveis
alarmantes em crianças de todas as regiões do país, segundo um recente estudo
publicado na revista científica Environment
International
.

Ao todo, foram coletadas
amostras de urina de 300 crianças com idades entre 6 e 14 anos. Em mais da
metade delas, foram encontrados ao mesmo tempo 25 tipos de disruptores
endócrinos, segundo Bruno Alves Rocha, pesquisador do departamento de análises
clínicas e toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) informou que aditivos como esses analisados na pesquisa são adicionados
intencionalmente pelas empresas para exercer funções tecnológicas, mas estão
sujeitos a rígidas regulações e só podem ser usados em quantidades autorizadas
pela legislação pertinente. “A permissão de uso dessas substâncias em
alimentos e embalagens que entram em contato com alimentos, por exemplo, só é
realizada após comprovação de sua segurança de uso, por meio de estudos
toxicológicos e de avaliações de exposição, além da comprovação de sua
finalidade tecnológica”, comunicou.

Disruptores endócrinos

Autor
dos estudos, Rocha analisou 65 disruptores, sobretudo os classificados como
ftalatos – encontrados em produtos de cuidado pessoal e materiais de limpeza-,
bisfenois – usados na fabricação de plásticos, embalagens de alimentos e papeis
térmicos -, benzofenonas – usadas em protetores solares, além de batons e
cremes com filtros- ; e parabenos, que agem como conservantes em alguns tipos
de medicamentos.

Os
resultados apontados, segundo ele, servem de alerta para a multiexposição
diária das pessoas a essas substâncias, mesmo quando utilizadas de maneira
regulada nos produtos.

Em 98% das amostras, foi
encontrado o bisfenol A, componente já usado em produção de mamadeiras, mas
proibido. Em um quarto das crianças analisadas, foram encontrados índices
considerados tóxicos de ftalatos. Para outros tipos de desreguladores ainda não
existem parâmetros suficientes para confirmar o nível de toxicidade. “As
crianças cada vez mais usam cosméticos, em geral, e quanto mais cedo
teoricamente pior o efeito”, alerta.

Segundo o pesquisador, o
estudo, iniciado em 2016 como parte de seu pós-doutorado, também apontou que a
maior concentração dessas substâncias foi encontrada em crianças das regiões
Norte e Nordeste.

Em alguns dos casos, os
componentes também apareceram em maior concentração em comparação com
avaliações de países como Estados Unidos, Canadá e China.

Por meio de uma mineração de dados, metodologia que
consiste em buscar padrões dentro de uma grande quantidade de informações
disponíveis, ainda foi possível analisar a interação de mais de uma dessas
substâncias nos organismos. Com isso, o estudo evidenciou que as células que
haviam sofrido algum tipo de dano genético foram submetidas à exposição de
diferentes disruptores endócrinos ao mesmo tempo.

Rocha explica que, diante da prevalência dos disruptores
endócrinos nos diferentes produtos do dia a dia, a melhor maneira de amenizar o
contato é por meio da mudança dos hábitos de consumo.

De acordo com o pesquisador, o
estudo faz parte de um projeto mais amplo ligado ao Ministério da Saúde, que
encontra a adesão de mais pesquisadores. Além de crianças, a expectativa é
confirmar, em iniciativas futuras, as interações dessas substâncias em adultos,
grávidas e recém-nascidos. “A partir de então a gente espera que os órgãos
regulamentadores passem a tomar atitudes , para que haja um controle maior
dessas substâncias.”


+ Saúde