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5h da manhã:
– Alguém liga para o meu celular com voz de quem chegou do inferno: Preciso falar com o senhor urgentemente.
– Quem fala?
– Um amigo.
– Qual amigo?
–O professor Zé atropelou uma vaca, quando ia dar aula. A vaca morreu.
– Mas, são 5h. A aula só começa às 07h30min.
– Como ele está?
– Ele? Não sei. A vaca morreu.
(Ao fundo)
– Diga que eu estou na UTI.
– Ah, sim! Mandou avisar que está na UTI.
– Desliguei.
07h da manhã:
– Preciso falar com o senhor urgentemente. Tenho uma ótima notícia.
– Quem fala?
– Estou ligando para dizer que o senhor ganhou grátis a assinatura do jornal Tribuna.
– Não quero.
– Ganhou grátis, senhor. O senhor não estará pagando nada e estará recebendo o jornal 20 dias. Só estará pagando se continuar a receber.
– Não quero.
– Mas, o senhor não entendeu.
– Entendi sim. Desliguei.
08h30min da manhã:
– Preciso falar com o senhor urgentemente.
– Quem fala?
– A Pri.
–Não estou passando muito bem. Não posso trabalhar hoje.
– O que você tem?
– Não sei. Me deu um troço no peito na quadra da escola, meu coração tá na boca.
– Se não passar, eu vou ao médico. Mas, amanhã tô aí.
– Vá ao hospital, para se consultar e ver o que há.
– Não precisa. Se der, eu vou.
– Desliguei.
10h14min
– Preciso falar urgentemente com o senhor.
– Quem fala?
– É o Zé.
– Que Zé?
– O Zé, porra!!!
– O que você quer, Zé (seja que Zé for)?
– Quero lhe dizer que talvez eu precise de uma grana emprestada.
– O que aconteceu?
– Ainda não sei. Minha mulher ficou de me ligar.
– Desliguei.
11h45min
– Aqui é o Joel, seu aluno.
–Preciso falar urgentemente contigo?
– Pode falar Joel.
– Não vou atrapalhar?
– Não.
– Tem certeza?
– Tenho.
– Não sei se presto vestibular para direito ou para medicina. Apesar de a gente estar em agosto e o vestibular ser apenas em novembro, já estou angustiado.
– Conversaremos pessoalmente na escola, é bem melhor. Pode ser?
– Ah! Tá bom.
– Desliguei.
12h15min
– Toca o telefone.
–
– Posso falar contigo? É urgente.
– Pode.
– Não estou atrapalhando o seu almoço?
– Só almoço ao meio dia e meia.
– Se eu estiver atrapalhando, te ligo às 2h.
– Dou aula às 2h.
– Se você quiser, te ligo no final da tarde.
– Na hora que você quiser.
– Valeu.
– Desliguei.
14h
– O presidente da república exigiu do presidente da Câmara votar a lei em regime de urgência.
– O presidente da Câmara disse que ela poderia trancar a pauta das votações.
– O presidente, então, disse que ele deveria tirar o “regime de urgência”, mas teria que ser votada até o final do mês.
Urgência X emergência
Durante este dia e os dias que se seguiram, por um motivo ou por outro, tudo era urgente para todo mundo. Algumas coisas realmente eram, porém, se fosse contabilizar, totalizariam não mais que 5%.
As pessoas confundem urgência com emergência.
Emergência significa ameaça imediata para o bem-estar,
Urgência é uma ameaça em um futuro próximo, que pode vir a se tornar uma emergência.
A emergência é o imprevisto, que precisa de uma solução imediata. A urgência precisa de uma solução em curto prazo.
No mundo dos smarthfones e redes sociais, tudo se tonou urgente.
Pergunte-se: “Urgente para quem?”.
No mundo em que tudo parece ser feito para ontem, vivemos, na verdade, esperando o amanhã: a sexta-feira, o feriado, as férias, o final do ano… É angustiante. Tudo demora a chegar e tudo passa muito rápido.
Tudo acontece tão rápido, que reclamamos o tempo todo de que falta tempo para fazer tudo. Mas, será que distribuímos esse “tudo” entre o que é realmente urgente, o que é emergencial e o que pode ser adiado?
Você crê que isso é perda de tempo. Não é?
Por que vivemos ansiosos, depressivos, temos crises de pânico e sofremos de agorafobia? Não seria porque não aprendemos a administrar nosso tempo?
Por que há uma juventude estressada que toma remédios que, décadas atrás, eram receitados para velhos? Todos envelhecemos rápido demais.
Urgente para quem? Para mim ou para a outra pessoa?