Unicamp inova ao criar diagnóstico de fibrose cística com maior precisão

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de junho de 2018 às 01:37
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:48
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Pesquisadores da instituição desenvolveram teste mais rápido, simples e menos invasivo para pacientes

Um grupo de
pesquisadores da Unicamp desenvolveu um método não invasivo de diagnóstico de
fibrose cística. A doença, que gera desequilíbrio na concentração de cloro e
sódio nas células produtoras de secreções do corpo, poderá ser descoberta
através de um procedimento mais simples e preciso de coleta de amostras
biológicas.

De acordo com estimativas da Cystic
Fibrosis Foundation
, cerca de 70 mil pessoas no mundo vivem com a
fibrose. O principal sintoma é a produção de muco exageradamente espesso, que
não é devidamente eliminado pelo organismo e se acumula em diversos órgãos,
como pulmões, pâncreas, fígado e intestino.

Até então, os testes para descobrir se uma pessoa
tem ou não a doença são feitos por meio de procedimentos caros, demorados e
realizados em laboratórios especializados de genética molecular, uma vez que é
necessário reconhecer mutações de genes desde o nascimento.

Um segundo teste também pode diagnosticá-la com base
nas análises de concentração de cloro no suor do paciente. No entanto, ele pode
causar desconforto, sobretudo, para bebês e crianças. Isso porque o
procedimento induz a transpiração da pele do antebraço por meio da aplicação de
uma substância no local seguida de uma corrente elétrica para estimular a
sudorese.

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP), o trabalho dos pesquisadores chegou a ser publicado em
uma revista internacional sobre pediatria. “Trata-se de uma nova metodologia
de rastreamento, capaz de diagnosticar por marcadores de pele a fibrose
cística sem necessidade de causar sofrimento ao bebê e de outros processos de
coleta de amostras biológicas”, explica Rodrigo Catharino, professor da
Unicamp, coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores e orientador do
estudo.

Testagem
inédita e patenteada

Uma vez que os testes habituais possuem limitações,
os pesquisadores levantaram a hipótese de desenvolver biomarcadores
(indicadores químicos do estado da doença) a partir de amostras biológicas da
pele.

Para isso, foram selecionados 16 pacientes
diagnosticados com fibrose cística, atendidos no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Unicamp, e 16 pacientes saudáveis. O intuito foi
sobrepor placas de sílica no dorso dessas pessoas por um minuto a fim de
extrair moléculas presentes na superfície.

Todas essas amostras foram analisadas a partir da
separação de moléculas. Os resultados foram satisfatórios: sete moléculas
diferentes foram identificadas nos pacientes com fibrose cística, associadas a
disfunções metabólicas observadas na doença, que podem ser marcadores químicos
cutâneos. “Os biomarcadores que identificamos não são somente relacionados à
glândula do suor, mas ao desbalanço iônico pelo qual o organismo afetado pela
doença passa por conta da mutação genética. Isso faz com que o novo método seja
mais específico do que o teste de suor”, disse Cibele Zanardi Esteves,
principal autora do estudo.

Os pesquisadores
patentearam o método e pretendem aplicá-lo agora para avaliar outras mutações
relacionadas à doença para assim ser validado e comercializado. A ideia, desse
modo, é que o novo teste possa ser utilizado em casos de recém-nascidos com
suspeita de fibrose cística. Será preciso apenas a aplicação da placa recoberta
com sílica sobre a pele da criança, sem a necessidade de estimulá-la a suar.


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