Uma em cada 59 crianças está dentro do transtorno do espectro autista (TEA)

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de julho de 2018 às 17:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Mudanças no diagnóstico e aumento da conscientização estão por trás do aumento dos casos

Um novo relatório do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças (CD), dos Estados Unidos, mostrou um aumento de 15% no número de
crianças que fazem parte do transtorno do espectro autista (TEA) em
relação aos dois anos anteriores. Isso significa 1 caso para cada 59 crianças
(estimativas de 2014, divulgadas agora) contra 1 em cada 68 (estimativas de
2012, divulgadas em 2017).

O aumento no número de casos, no entanto, não
significa necessariamente que mais pessoas tenham o autismo hoje do que há 50
anos, por exemplo. “Esse é um debate que ainda não temos resposta. Isso
porque o conceito de autismo é um alvo em movimento. No passado, apenas
considerávamos autistas aqueles bem severos, não verbais, com comportamentos
muito estereotipados e totalmente dependentes para viver. Hoje em dia, o
autista leve está inserido no espectro, então temos o diagnóstico de autista em
pessoas que são independentes, casados, cursando universidades, o que eleva o
número de casos”, disse o pesquisador Alysson Muotri, do Departamento de
Pediatria e Medicina Molecular, da Universidade da Califórnia em San Diego, e
uma das autoridades no assunto.

A conscientização do quadro clínico, a melhora no
diagnóstico, a possível ajuda governamental e o aumento do tamanho populacional
são outros fatores que fazem o número de autistas subir.

Em entrevista, Daisy Christensen, coautora do novo
relatório e líder da equipe de vigilância no ramo de deficiências de
desenvolvimento do Centro Nacional de Defeitos Congênitos e Deficiência do
Desenvolvimento, falou também sobre o entendimento em relação à prevalência do
autismo por raça e etnia. “Não temos nenhuma razão biológica para pensar
que a prevalência do autismo varia por raça ou etnia”, disse a pesquisadora,
contrapondo a ideia de que crianças negras e hispânicas têm menos probabilidade
de serem identificadas do que crianças brancas. Enquanto, em 2012, a
prevalência era cerca de 20% maior em crianças brancas do que em negras,
atualmente esse número é apenas 10% maior, afirma Christensen. 

Sobre o que esperar para o futuro, em relação aos
dados do autismo, o professor Alysson Muotri diz que tudo irá depender do que
chamaremos de autismo nos próximos anos. “Assumindo que o conceito de
autismo seja o mesmo de hoje, eu acho que essa estatística deverá permanecer em
aproximadamente 1% da população”, diz

Sinais do autismo

Apesar de os sinais para o transtorno ficarem mais
nítidos após os 3 anos, alguns indicativos desde bebê podem servir como alerta,
como a criança ficar parada no berço, sem reagir aos estímulos, e evitar o
contato visual com os pais. Antes do primeiro ano de vida, está sempre irritada
– você o amamenta ou conversa com ela, mas continua agitada. Por volta dos 8
meses, o bebê não interage com o meio ambiente: vê um cachorro ou gato na rua e
fica indiferente. Sabe aquela brincadeira em que a mãe se esconde e diz
“achou!”? O bebê não esboça nenhuma reação.

Na hora de brincar é comum que crianças com o TEA se
interessem apenas por uma parte do brinquedo – elas podem ficar girando a roda
de um carrinho por um tempo prolongado, em vez de arrastá-lo. Há casos, ainda,
em que há regressão: a criança se desenvolve bem até 1 ano e meio. Depois dessa
idade, para de sorrir ou de se comunicar, por exemplo.

Causa e diagnóstico

A grande contribuição causal do autismo é o fator genético. “Mas fatores
externos ou ambientais também podem contribuir. Esses fatores atuam durante o
desenvolvimento uterino, por exemplo, quando uma grávida sofre algum tipo de
infecção ou ingere medicamentos para controle de epilepsia. A ciência tem
descartado diversos fatores ambientais fora desse contexto, como vacinas,
poluição, etc”, afirmou Alysson Muotri.

Não há um exame
específico que indique o transtorno – a avaliação deve ser clínica e feita por
uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, terapeuta ocupacional e
fonoaudiólogo. Por isso, mediante qualquer desconfiança sobre desenvolvimento
do seu filho, procure um especialista. “Quanto mais precoce começar as
intervenções, melhor o prognóstico. É importante procurar as terapias adequadas
o quanto antes, porque o sistema nervoso poderá responder aos estímulos
rapidamente”, explica o neurologista infantil Antônio Carlos de Faria, do
Hospital Pequeno Príncipe.


+ Saúde