Torta de climão: como falar de política sem brigar nas festas de fim de ano

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de dezembro de 2019 às 19:55
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:10
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Com as festas de fim de ano, chegam também as discussões à mesa; o projeto Despolarize tenta evitar atritos

​Uma reunião familiar que de repente — ou geralmente — vira um campo de guerra. Uma chuva de argumentos que logo viram acusações e rixa. Assim se forma a famosa “torta de climão”, geralmente iniciada por assuntos relacionados a política.

Por esse motivo, uma plataforma quer ajudar os brasileiros a conseguir falar de política sem brigar, aproveitando o momento oportuno das festas de fim de ano para lançar a primeira etapa da iniciativa.

O Despolarize, projeto que começará nas redes sociais e se desdobrará em encontros e produtos a partir do ano que vem, quer se colocar como mais um movimento a fim de tentar furar o ambiente de polarização.

Criado pelo advogado e ativista político Rafael Poço, 32, o programa dá dicas de como se comportar para dialogar com parentes e amigos em um clima respeitoso, mesmo que haja discordâncias.

“Não se trata de um projeto para levar as pessoas a convergir para algum tipo de posicionamento. É focado em estabelecer bases para que a conversa se desenrole de forma mais produtiva”, diz ele.

A sugestão é experimentar a novidade já no Natal ou no Réveillon.
Poço, que tem experiência em iniciativas do gênero e comandou em 2017 na GloboNews a série “Política: Modo de Usar”, passou os últimos seis meses elaborando os materiais.

O resultado será espalhado primeiramente na internet, na forma de pílulas e de um manual que poderá ser baixado. Depois será produzido um baralho que funciona como guia e pode ser “jogado” pelos participantes.

“Não é um projeto ingênuo, que pressupõe que todos vão ser compreensivos e se dar as mãos. A meta é mostrar que as pessoas podem tentar se expressar e se entender melhor.”

O pacote preparado com foco nas festas de fim de ano inclui também um resumo de assuntos que dominaram o noticiário recentemente e podem ressurgir agora, entre um brinde e outro.

Com esse material, a intenção do projeto é subsidiar conversas que passem longe de fake news e sejam ancoradas em informações verdadeiras e atualizadas.

“Os estudos mostram que a polarização sectária está corroendo os fundamentos da democracia, no Brasil e no mundo. Com esse trabalho, o que buscamos é tentar recuperar o tecido social”, diz Poço.

Para o idealizador, as fissuras podem, no limite, certamente descambar para uma instabilidade política e econômica no país talvez irreversível.

“Precisamos ficar atentos para evitar esse extremo. Mudar a forma de agir começa pelo local de trabalho, pelo papo no elevador e no Uber”, diz Poço. E, por que não, pela ceia ou o almoço de fim de ano com a família.


GUIA PRÁTICO PARA CONVERSAS DIFÍCEIS

  • Antes de puxar uma conversa, reflita sobre suas próprias intenções e expectativas. Tente não transferi-las para a outra pessoa;
  • Convide o interlocutor para a conversa de forma sincera e estimulante, tentando não assustar nem parecer cínico;
  • Respeite o fato de a outra pessoa ter uma visão diferente;
  • Ao dialogar, pense nas diferenças que precisa considerar (culturais, etárias, de gênero etc.);
  • Há algum tópico, expressão ou palavra proibida? Considere seus gatilhos e explore o que é melhor para todos;
  • Se a pessoa recusar o convite para debater, lembre-se de que não é não (em qualquer situação).

O QUE NÃO FAZER

  • Generalizações e rótulos. Por exemplo: “pessoas como você”, “vocês de esquerda/direita”;
  • Menosprezar esperanças ou medos da outra pessoa;
  • Supor as intenções do interlocutor quando ele expressa uma opinião. Em vez de inferir, pergunte e ouça. Fazer julgamentos disfarçados de perguntas. Exemplo: “Você quer mesmo que eu acredite nisso?” ou “Como você pode concordar com algo assim?”.

O QUE FAZER

  • Em vez de perguntas fechadas, que possam ser respondidas apenas com sim ou não, prefira usar “como..?”, “por que…?”;
  • Faça esforço para ser bem compreendido. Pergunte o que o outro entendeu da sua fala e explique de novo se a mensagem ficou distorcida;
  • Fale sempre em primeira pessoa e nunca em nome de um grupo. Exemplo: “Tal coisa é importante para mim porque…”. Isso ajuda a se conectar com a outra pessoa. Demonstre interesse pela história do interlocutor.

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