Termogênicos: especialista esclarece vantagens e desvantagens

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de setembro de 2019 às 17:38
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:49
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Amplamente consumidos por praticantes de atividades físicas, termogênicos nem sempre possuem benefícios

O emagrecimento é um tema que continua cativando milhares de pessoas que buscam, além da alimentação e prática de exercícios, estratégias e produtos que prometem dar aquele empurrãozinho para eliminar alguns quilos.

A exemplo, o uso de termogênicos tem sido cada vez mais discutido como um divisor de águas entre pessoas que são a favor ou contra. A ingestão desses produtos virou tema no Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM), que aconteceu em Santa Catarina.

“Estamos falando de uma série de substâncias, os fat burners, que têm alegadas propriedades de queimar gordura por meio de inúmeros mecanismos bioquímicos. O problema é que na prática clínica efetiva, a pessoa toma a substância com o efeito de aumentar o metabolismo e, consequentemente, emagrecer, queimar gordura, mas, em geral, isso não acontece”, explica o endocrinologista Fúlvio Santos Thomazelli, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que ministrou uma palestra para profissionais da área com o tema “Termogênicos: queimando gordura ou dinheiro e saúde?”.

A princípio, os termogênicos cumprem a função de estimular a queima de gordura, mais especificamente, a ajudar no consumo dos ácidos graxos dentro das células. E, de acordo com o médico, é extremamente complicado o uso destas substâncias que prometem muito e não tem funções comprovadas. “Quando você lê a explicação bioquímica da ação de um termogênico, você fica até encantado, ela faz toda lógica, tem toda uma explicação bioquímica que justificaria a teoria da queima de gorduras e o auxílio ao emagrecimento. O problema é que essas observações são obtidas de modelos animais e a gente não pode transferir esse raciocínio para uma célula humana”, justifica.

Nosso organismo é um conjunto de trilhares de células e, por isso, é muito complicado transferir análises bioquímicas menos complexas para o corpo como um todo. Além disso, os estudos realizados em pessoas, geralmente, não apresentam grandes amostragens que comprovam a eficácia desses produtos tanto para o emagrecimento, quanto para a melhora da performance em atividades físicas. 

Publicada em 2016, uma revisão de artigos feita por pesquisadores da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Anáhuac, no México, avaliou os efeitos clínicos de substâncias usadas em suplementos dietéticos. Dentre estes estavam o extrato de feijão branco, a laranja-amarga, cetonas de framboesa, o café verde e outros compostos pouco conhecidos. As conclusões apontam para a falta de evidências concretas para atestar a segurança e efetividade de tais ingredientes.

Outro problema é a composição de muitos produtos, que misturam desde ativos naturais, como a cafeína, à substâncias sintéticas. “Os mais comuns usados pelos atletas são os blends que também são conhecidos como pré-treinos ou fat burners. Isso já é o primeiro grande problema, porque um blend, na verdade, é uma mistura de substâncias. A gente não tem, muitas vezes, certeza da quantidade de insumos que está ali dentro, e também não temos a certeza da real eficácia e segurança, porque, com várias substâncias juntas a interação entre elas pode trazer consequências nocivas para a saúde”, explica Fúlvio.

Dentre os efeitos colaterais mais comuns estão insônia e agitação, mas o endocrinologista enumera uma série de distúrbios altamente preocupantes, como lesões no fígado, lesões renais, arritmia cardíaca, enfarto do miocárdio, taquicardia, palpitação, distúrbios de humor. Em situações mais extremas, podem aparecer surtos psicóticos, agressividade, sintomas gastrointestinais, diarreias, cólicas, vômitos, náuseas tonturas.

A cafeína
Por ser natural e já estar inserida no consumo diário da população, a cafeína é uma das substâncias mais aceitas dentre os termogênicos. O seu fruto, o café, pode trazer benefícios para a saúde, porém a suplementação merece atenção. “É uma substância que pode ser utilizada em contextos específicos para praticantes de atividades físicas, mais especificamente atletas. Em algumas situações, ela pode acelerar a performance dos indivíduos e reduzir o cansaço. Mas temos que lembras que ela deve ser consumida pura e em uma dose de segurança. Acima disso, ela se torna tóxica, podemos causar insônia, irritabilidade e arritmias cardíacas”, esclarece Fúlvio, deixando claro que a ingestão desse tipo de produto deve ser voltada apenas para atletas, não com o intuito de emagrecer.

Regulamentação
A regulamentação para a venda destes suplementos é recente, uma vez que a Anvisa liberou em seu portal uma lista segura de produtos. Lá, também é possível identificar a quantidade específica de cada item para o consumo sem problemas. “Mas essa segurança não significa que são produtos eficazes”, lembra o endocrinologista. Dessa forma, a ingestão deve ser indicada e acompanhada somente por um especialista.

Outro ponto de vista
Apesar de ainda não serem incontestáveis, alguns estudos sugerem que o uso pode levar ao emagrecimento.

A exemplo, uma revisão sistemática e a meta-análise de ensaios clínicos randomizados avaliam o efeito da carnitina na perda de peso. O ingrediente é usado em muitos suplementos, podendo também ser encontrado puro para a compra.

Ao todo, nove estudos foram revisados, e os cientistas concluíram que a ingestão do item pode colaborar para uma perda significante de peso de em média 1,3 quilo a mais, em comparação com indivíduos que não consomem o produto. Porém, para chegar a esse resultado, deve-se aliá-la a uma dieta hipocalórica e à prática de atividades físicas. A revisão foi conduzida por pesquisadores das universidades de ciências médicas Tehran e do Irã.


+ Saúde