Sofrer um assédio sexual pode afetar as mulheres por décadas, diz estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de setembro de 2018 às 21:07
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:59
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Situação acontece mesmo com mulheres que não são diagnosticadas com Transtorno de Estresse Pós-Traumático

Uma pesquisa da Universidade Rutgers,
nos Estados Unidos, demonstrou que as mulheres que sofreram violência sexual
relembram do caso com frequência, tendo memórias vívidas e intensas por anos.

Publicado na revista Frontiers in Neuroscience, o estudo descobriu que isso acontece  mesmo
com as mulheres que não são oficialmente diagnosticadas com Transtorno de
Estresse Pós-Traumático (TSPT). “As lembranças se relacionam com
sentimentos de depressão e ansiedade, pois as mulheres lembram do que aconteceu
e pensam muito sobre isso”, disse Tracey Shors, professora de psicologia
da Rutgers. “Mas os sentimentos e pensamentos geralmente estão associados
ao TSPT, e a maioria das mulheres desta análise não sofriam de TSPT.”

A pesquisa avaliou 183 mulheres de 18
a 39 anos. Delas, 64 relataram que foram vítimas de violência sexual, enquanto
119 não tinham passado por agressões. Menos de 10% usavam alguma medicação para
combater a ansiedade ou a depressão.

As mulheres que sofreram violência
sexual (física ou mental) relataram memórias fortes e com detalhes específicos,
que incluíam visões claras do evento. Elas ainda disseram ter dificuldade em
esquecer o incidente, o qual havia se tornado parte significativa de suas
vidas. “Cada vez que você reflete sobre uma memória, você cria uma
nova no cérebro porque a lembrança é recuperada no espaço e no tempo
atuais”, falou Shors. “O que este estudo mostra é que o processo pode
tornar mais difícil esquecer o que aconteceu.”

Outras pesquisas já demonstraram que
a agressão e a violência sexual são as causas mais prováveis ​​de TSPT em
mulheres. A condição está associada à diminuição das funções cerebrais
relacionadas ao aprendizado e à memória, e pode ser física e mentalmente
difícil de ser superada. “As mulheres neste estudo que lembravam com mais
frequência o evento também vivenciaram mais sintomas relacionados ao caso. Isso
pode exacerbar o trauma e dificultar a recuperação”, afirmou Emma Millon,
aluna de pós-graduação da Rutgers. 

Para diminuir as lembranças ruins, a
professora Shors desenvolveu a técnica Treinamento Mental e Físico, que
combina 30 minutos de treinamento mental com meditação silenciosa,
seguidos de 30 minutos de exercícios aeróbicos, duas vezes por semana, durante
seis semanas.

Em algumas análises, este método
diminuiu os sintomas do trauma, com as mulheres afirmando que passaram a
lembrar menos do caso de violência. 

De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% das mulheres do mundo já sofreram algum
tipo de agressão física ou sexual. As meninas adolescentes estão mais propensas
a serem vítimas de tentativa de estupro, estupro ou agressão. Além disso,
pesquisas recentes indicam que 1 em cada 5 universitárias sofre violência
sexual durante a faculdade. “Esse problema não desaparecerá em breve
e devemos manter nossa atenção focada na prevenção e na justiça para as
sobreviventes, além da recuperação”, comentou Shors.


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