Síndrome do lazer: por que existem pessoas que ficam doentes nas férias?

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  • Publicado em 14 de agosto de 2018 às 17:56
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:56
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Pessoas que trabalham sob pressão têm mais propensão a sofrer durante os momentos de lazer

A chegada do final de semana ou das férias é, em geral, comemorada. Há casos, entretanto, em que o ócio pode significar um tormento, chegando em casos extremos a provocar somatizações, como náuseas e dor de cabeça. Em 2001, o holandês Ad Vingerhoets cunhou o termo “síndrome do lazer” para se referir a um suposto estado em que algumas pessoas, particularmente aquelas que trabalham sob pressão, caem doentes assim que tomam um descanso. O estudo Vingerhoets, para o qual entrevistou quase dois mil holandeses, homens e mulheres, descobriu que cerca de 3% afirmaram que, nos fins de semana e nas férias, estavam piores do que os dias normais de trabalho. Os sintomas mencionados com mais frequência foram dor de cabeça, fadiga, dor muscular, náuseas e doenças transmitidas pelo ar, como resfriado e gripe.

O cientista e sua equipe concluíram que a transição de trabalhar a não trabalhar era complicada, principalmente para as pessoas que desempenhavam funções sujeitas a muita pressão. Diante disso, a síndrome do lazer é definida pela presença de crises de ansiedade, angústia, dores de cabeça e/ou musculares, náuseas e fadiga em indivíduos que se encontram fora de suas atividades, seja nos finais de semana, feriados prolongados e, principalmente, nas férias. Estima-se que o problema afete até 5% da população economicamente ativa. Trata-se da consequência adoecida de um comportamento socialmente aceito e estimulado: o chamado “workaholic” ou “viciado em trabalho”.

O perfil do “workaholic” é bem estabelecido: trata-se de indivíduos perfeccionistas, controladores e inseguros, que costumam trabalhar mais de 10 horas por dia e vivem sob estresse constante. O “workaholic” é tão obcecado em agir no trabalho que ele pode, na verdade, estender suas tarefas, retardando suas conclusões e prejudicando assim a sua produtividade final. “Além disso, tende a atrofiar todos os demais setores de sua vida – pessoal, afetiva, social e familiar, o que costuma lhe render culpa e remorso”, observa a psicóloga Elisa Leão.

Segunda ela, esta é a maior consequência em ser um workaholic: a deterioração da qualidade de vida do indivíduo e também daqueles que o cercam. Além disso, o indivíduo pode apresentar quadro de estresse, insônia, mau humor, pressão alta e depressão.

Como virar o jogo

Mas é possível reverter esse jogo. “Como as férias são necessárias na vida do ser humano, o ideal é planejar como o tempo será empregado e entender que as férias não são cura nem salvação para pessoas solitárias ou que estejam com problemas de relacionamento”, adverte. Para quem não consegue relaxar e começa a sentir que a tensão está afetando sua saúde, o processo de desligamento pode acontecer de algumas maneiras. Elisa sugere a prática de exercícios físicos, que libera endorfinas, essenciais para o equilíbrio físico e emocional; ter uma alimentação adequada, sem exageros de álcool, pimenta e café; o desenvolvimento da espiritualidade, através de leituras de textos específicos, momentos de meditação e oração; psicoterapia para ajudar a descobrir e corrigir essa programação psíquica que o impede de estar em paz; ter as expectativas sob controle; estar pronto para os imprevistos, entendendo que nem tudo pode estar sob controle. “Colocando isso em prática, sempre que se sentir ‘no limite’ é importante reservar um fim de semana só para desestressar. Essas pausas são um santo remédio”, garante Elisa.