Setembro amarelo: entenda o significado e o trabalho na prevenção do suicídio

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 1 de setembro de 2020 às 20:38
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:10
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CVV e outras entidades fundaram campanha em 2015 para conscientizar sobre problema de saúde pública

Setembro é o mês da prevenção do suicídio. Em 2015, o CVV (Centro de Valorização da Vida), em conjunto com outras entidades, cunhou a campanha Setembro Amarelo, que busca conscientizar sobre a importância de se falar sobre o assunto, um problema de saúde pública.

O voluntário do centro Carlos Correia explica que a ideia veio de outras campanhas de muito sucesso, como a do Outubro Rosa, que alerta para a necessidade do diagnóstico precoce do câncer de mama. 

O mês foi escolhido por conta do dia 10 de setembro, o dia mundial da prevenção do suicídio, estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2003. 

“Às vezes, as pessoas perguntam ‘tem suicídio o ano inteiro, por que esse mês?’. Foi uma porta que se abriu para falar desse assunto”, diz Carlos.

“A prevenção é a palavra-chave, não é falar do suicídio, mas da prevenção. A essência é saber ouvir e conectar as pessoas, para que trabalhem o autocuidado”, afirmou.

Autocuidado​

O voluntário define autocuidado como saber detectar quando precisamos de ajuda. 

“Se eu tiver uma dor de dente, eu não vou no dentista? Se eu tiver um momento de tristeza que não acaba, uma raiva muito grande, por que não posso olhar dentro de mim e identificar isso?”, questiona.

Para ele, o trabalho do CVV é um “pronto-socorro emocional”, para os momentos de crise que podem acontecer com qualquer um. 

Ele lista alguns dos gatilhos: uma notícia inesperada, saber que a saúde vai mal, um ocorrido com um parente ou ente querido… as possibilidades são inúmeras.

“Muito do que a gente chama de ‘gota d’água’ é inesperado, mas não improvável. O que a gente pode fazer é atuar na prevenção, na capacidade de absorver essas gotas d’água que inevitavelmente acontecerão. O que posso fazer é esvaziar o copo para que ele fique menos próximo do topo, para absorver melhor algum impacto que possa ocorrer. Isso é autocuidado”, define.

O trabalho do CVV​

O CVV pode ser contatado por telefone, chat e email. Os atendimentos presenciais foram suspensos por conta da pandemia — que também afetou o trabalho dos voluntários. 

Carlos conta que o grupo montou uma operação de home office em menos de duas semanas e que 60% dos colaboradores está trabalhando remotamente.

No início, o número de atendimentos mensais chegou a cair pela metade por causa da redução no efetivo, mas já foi possível voltar aos costumeiros 10 mil atendimentos mensais.

Um dos diferenciais do trabalho que fazem, segundo Carlos, é a confiança de que irão guardar o segredo que a pessoa compartilha com eles.

“Você pode ter um amigo, um parceiro, com quem desabafa e compartilha intimidades, mas, às vezes, há um pé atrás, de que num rompimento, tudo fique escancarado. O anonimato cria uma condição bem favorável para que as pessoas possam ser elas mesmas”, diz.

No entanto, não é só isso. Ele diz que, se tem uma coisa que o CVV não faz é dar conselhos.

“O trabalho do centro se baseia muito em acreditar que o outro é capaz de encontrar a melhor solução para ele, que às vezes, não é a mesma que eu aplicaria na minha vida”. 

“A gente não vai resolver o problema de ninguém, mas a gente vai acolher para que essa pessoa possa refletir sobre o momento que está vivenciando e encontrar a melhor solução para ela”, diz.

Todo esse trabalho é feito por voluntários, que podem se inscrever pelo site do CVV.

O que fazer e o que não fazer diante de alguém em sofrimento

Quem se dispõe a participar do CVV deve fazer um curso de qualificação, mas Carlos adianta o essencial: “uma escuta empática e acolhedora”.

Para isso, é necessário escutar o outro sem interferência. “Sem colocar coisas de mim na conversa, meus preconceitos, minha vivência, minha experiência de vida. É dar tempo para que a pessoa fale, simplesmente acolhê-la e demonstrar confiança no que ela relata”, diz.

Na contramão, há coisas que não se deve fazer, como minimizar o sofrimento alheio. 

“A pessoa dizer ‘eu já passei por coisa pior e estou aqui’ é desvalorização, é querer fazer competição de desgraça”, conta Carlos, que também sugere separar um tempo para prestar atenção total à pessoa e não fingir que não escutou para se esquivar de temas espinhosos.

Em todo caso, é possível referenciar o CVV, que atende todos os dias da semana, 24 horas por dia. “Se a pessoa estiver em sofrimento, ela pode nos procurar. Se entrar em contato e não sentiu química com aquele voluntário, desliga, não precisa nem agradecer, e liga de novo, vai encontrar outro. Mas não deixe de conversar e abrir aquilo que quiser”, finaliza Carlos.

Serviço

Centro de Valorização à Vida

De segunda a segunda, 24h por dia

Telefone: 188 (ligações gratuitas, inclusive por celulares)

Atendimento por chat e email no site cvv.org.br


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