Saudações paciente leitor!

  • EntreTantos
  • Publicado em 1 de agosto de 2017 às 18:37
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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De fato, sinto-me mergulhado na paciência de um divã, toda vez que escrevo aqui minhas analogias.

Por mais que vasculhemos nossos vales e grotões da memória, infelizmente, não somos capazes de tocar as recordações de nossos primeiros dias de vida. O que é uma lástima, pois, creio que boa parte de nós gostaria mesmo de reviver as primeiras projeções do mundo, desabrochando ao nosso dispor. De repente, sorveríamos a maciez do colo materno outra vez, a nos embalar o choro, na proteção de um conforto. E, mais do que qualquer coisa, contemplaríamos a nudez de nossa pureza. Trago comigo a crença de que, nosso cérebro se encarrega de segredar estas primeiras lembranças no fundo do nosso âmago, somente como uma tática de autodefesa, uma tentativa prudente de nos aliviar o peso das expectativas que produzimos ao nascer. Logo que rompemos o útero materno, criamos, no fundo de nossa consciência, uma primeira expectativa, a de agradar nossa genitora. No decorrer do tempo, absorvemos milhares de expectativas que, muitas vezes nos levam à beira da loucura, ou, muito além dela.

O amor imenso que nutrimos por nossos filhos, naturalmente, nos força a pintar um mundo de expectativas, dotados de vertentes politicamente corretas, para as quais passamos a lapidá-los. Queremos estender-lhes o melhor da evolução que conseguimos alcançar, a parte reciclada dos conceitos que herdamos ou produzimos. Desconhecemos, portanto, o pequeno deslize que cometemos, uma mísera fagulha capaz de descarrilhar por completo nossas relações humanas. E a palavra-chave, que altera todo o conceito de humanidade é expectativa. Permita-me um conselho, caridoso leitor, que semanalmente cede alguns minutos a este pobre mortal e a minha necessidade de dar vazão ao turbilhão de pensamentos que se multiplica em meu ser. Esqueça as expectativas. Ainda que seja um pouco tarde, abandone de vez a expectativa lhe atribuída ou de sua própria autoria. Alguém, com o lápis mais poderoso do que o meu, dissera, certa vez, que o homem só começa a dar bons conselhos, quando sua idade o impede de dar maus exemplos. Portanto, cansado dos maus exemplos que produzi ao longo dos anos, ou, tentando, pelo menos, redimi-los, proponho substituirmos qualquer expectativa por relacionamento. Quando nos sentarmos, numa noite qualquer, ao lado da verdade, nos despimos dos personagens que forjamos em nossa defesa e passamos a rever nossas ideologias, cada vez mais, nos convencemos de que, o relacionamento é o coringa deste baralho que chamamos de vida. Um relacionamento verdadeiro, não exige a necessidade de máscaras de submissão e de posturas politicamente corretas, aliás, dane-se o politicamente correto (Ufa! Em tempo. Ainda não será nesta edição que ousarei libertar um palavrão). O mundo cor de rosa realmente existe e esta é a questão, já está pronto, não é necessário pintarmos novamente. É justamente, por tentar pintar o mundo, que o ser humano está destruindo todas as possíveis relações.

Todavia, agastado concluo, para entrarmos de vez em qualquer relacionamento humano é necessário livrarmo-nos das expectativas. E esta possibilidade nos assombra, pois, nos sentimos despidos de nossas armas. No entanto, que utilidade nos possibilitará armas, se aniquilarmos nossos conflitos e deleitarmos uma existência saudável.

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.  


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