São Paulo desenvolve sistema para mapear doadores de sangue raros

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de março de 2018 às 00:36
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:36
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Objetivo do projeto é criar um ‘banco raro’ para suprir pacientes incompatíveis com as bolsas convencionais

Doar sangue é um ato
simples, rápido e seguro que pode salvar até quatro vidas. O primeiro passo é
comparecer a um posto de coleta e, preenchendo todos os requisitos, é retirado
uma bolsa equivalente a 450mL.

Em seguida, é feita a separação dos hemocomponentes,
os exames de tipagens sanguíneas e a verificação de possíveis doenças. É após
esse trabalho que as bolsas, não contendo nenhuma irregularidade, são
encaminhadas aos hospitais.

O processo de transfusão, no entanto, é muito mais
minucioso do que imaginamos. Nem todos os pacientes podem receber as bolsas convencionais
de sangue. Em outras palavras, há pessoas que não se enquadram no esquema –
popularmente conhecido – ABO. Isso significa, por exemplo, que nem sempre o A
positivo pode doar para outro A positivo ou AB positivo. São raros, mas existem
sangues que desenvolvem anticorpos contra outros tipos de sangue.

O processo de reconhecimento dessa característica
ainda é bastante complexo, pois está presente em apenas 0,01% da população. Os
kits convencionais para a detecção desses antígenos são caros, trabalhosos e
nem sempre eficientes. Sendo assim, pacientes que necessitam de transfusão e
possuem fenótipos raros têm que receber uma bolsa compatível com a sua
característica sanguínea.

Pensando nisso, o Instituto de Medicina Tropical da
Universidade (IMT) de São Paulo, em parceria com a Fundação Pró-Sangue e o
Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração do
HC-FMUSP, buscou padronizar uma estratégia molecular totalmente automatizada e
economicamente vantajosa para procurar doadores raros.

O estudo, que começou em 2014, usou como base a
constituição genética de um grande número de doadores de repetição. As
informações foram armazenadas em um software, criado especialmente para o
projeto, com a finalidade de realizar uma rápida busca de quem são as pessoas
com tipos raros. No total, foram feitas 5,4 mil amostras no posto de coleta da
Pró-Sangue do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. A análise
de cada uma foi feita no IMT. “É um importante passo para ciência. Com esse trabalho
nós conseguimos montar um ‘banco raro’ para quando houver necessidade, acionar
esses doadores e convidá-los a doar”, explica a diretora do IMT, Ester Sabino.

Houve consentimento
dos voluntários que participaram da pesquisa e, desse total, foram detectados
60 tipos de sangues infrequentes. Assim, com a ideia de alimentar o banco,
esses doadores receberam um cartão indicando que são portadores de fenótipos
raros e foram informados que a qualquer momento podem ser contatos para doar.

A médica da Pró-Sangue e colaboradora do projeto,
Carla Dinardo, comenta que, apesar do avanço, ainda é necessário completar o
painel de raridade. “A ideia é continuar procurando outros doadores, continuar
fazendo a busca. O importante é que já deixamos um legado para o SUS com a
genotipagem dessas pessoas e com a descoberta de 60 raridades”, completou.

Os resultados renderam aos pesquisadores a terceira
colocação na 16º edição do Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e
Inovação para o SUS, que premia projetos imprescindíveis para o desenvolvimento
das políticas públicas de saúde no Brasil.

Por enquanto, o serviço foi acionado 3 vezes e só
está disponível no posto de coleta da Pró-Sangue do HC. Entretanto, de acordo
com Carla, o projeto transcende a instituição, pois existe uma sintonia entre
todos os hemocentros do Brasil: “Nós vamos oferecer as bolsas no momento em que
detectarem um paciente raro em qualquer região do país”.


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