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O estudo foi desenvolvido pela USP de Ribeirão Preto sobre bactéria mais frequente em infecções alimentares
Pesquisadoras da Universidade de São
Paulo (USP) sequenciaram o genoma da bactéria salmonella e descobriram que a
maioria das 90 amostras pesquisadas apresentou resistências a diferentes
classes de antibióticos.
O estudo, desenvolvido na Faculdade
de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), identificou 39 genes
responsáveis por essa resistência.
A salmonella é a
bactéria mais frequente nos surtos de infecções alimentares, diarreias e
gastroenterites, representando 14,4% dos quase 220 mil casos entre 2000 e 2015,
segundo dados do Ministério da Saúde.
Amanda Aparecida Seribelli, doutoranda do Programa de
Biociências e Biotecnologia, disse que o trabalho encontrou a presença do gene
que indica resistência no genoma da bactéria e que o desenvolvimento da
resistência em si vai depender de outros fatores. “Isso significa que aquela
informação pode ser expressa numa proteína e aí ela é resistente, mas depende
do meio em que ela vai estar. Dependendo do hospedeiro, ela pode expressar ou
não”, explicou.
As 90 amostras foram isoladas entre 1983 e 2013 no Instituto
Adolfo Lutz de Ribeirão Preto, e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de
Janeiro.
De acordo com os pesquisadores, elas fornecem um retrato da
epidemiologia de salmonelose no Brasil nos últimos 30 anos, pois são
provenientes de todas as regiões do país, tendo sido coletadas em pacientes
acometidos por infecções alimentares ou em alimentos contaminados, como carne
aviária e carne suína, incluindo embutidos, ou em vegetais, como alface, entre
outros.
Sequenciamento nos EUA
A pesquisa foi desenvolvida com uma sorovariedade (variantes
dentro de uma mesma espécie) da Salmonella enterica, chamada Salmonella
Typhimurium.
A espécie enterica é a maior responsável pelos casos de infecção
alimentar no Brasil e no mundo. A Salmonella Enteritidis é o outro tipo mais
comum da bactéria, que se disseminou a partir de uma pandemia iniciada na
Europa nos anos 1990.
No mesmo laboratório de Análises Clínicas, Toxicológicas e Bromatológicas
da FCFRP, é desenvolvida uma outra pesquisa estudando o sequenciamento e
análise de amostras da sorovariedade S. Enteritidis.
O sequenciamento foi feito no Food and Drug Administration (FDA), a agência federal
norte-americana responsável pela fiscalização da qualidade de alimentos e
medicamentos nos Estados Unidos.
“O genoma completo é uma técnica muito cara ainda, então o nosso
grupo de pesquisa e o nosso país acaba tendo mais dificuldade de fazer esse
tipo de pesquisa aqui”, disse.
O genoma de S.
Typhimurium tem 4,7 milhões de pares de base. Somando os dados das
90 amostras, são 423 milhões de bases. A pesquisa é financiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).
Resistência
O estudo definiu o grau de resistência aos antibióticos de cada
uma das 90 amostras. De acordo com os resultados, 65 (72,2%) das 90 amostras de
S.
Typhimurium se mostraram resistentes aos antibióticos da classe das
sulfonamidas, 44 (48,9%) eram resistentes à estreptomicina, 27 (30%) à
tetraciclina, 21 (23,3%) a gentamicina e sete (7,8%) as cefalosporinas.
“Chama a atenção a resistência de S. Typhimurium a antibióticos que podem ser utilizados
no tratamento da doença. São drogas que estão à disposição dos médicos para o
combate a infecções que apresentam resistência. São a segunda linha de defesa,
quando os microrganismos não são mortos pelo sistema imunológico do paciente,
uma vez que normalmente a salmonelose é uma doença autolimitada e que não
precisa do uso de antibióticos. O maior problema é quando isso falha e a
bactéria torna-se invasiva”, disse Amanda.
Entre medidas necessárias para impedir o desenvolvimento de
bactérias resistentes está o controle na venda de antibióticos. No caso da
salmonella, a prevenção é o tratamento sanitário adequado de alimentos.