Reportagem da IstoÉ mostra setor calçadista com “o pé fora da crise”

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de janeiro de 2017 às 08:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:05
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Revista ouve lideranças da indústria brasileira, mostrando tendência de recuperação do setor

Destaque da Revista IstoÉ online, mostra foto do presidente da Abicalcados, Heitor Klein

Em setembro do ano passado, ao participar da cúpula do G20, o grupo das vinte maiores economias, na China, o presidente Michel Temer não contava com um imprevisto: o salto do seu sapato social quebrou. 

Sem um par reserva na bagagem, ele recorreu a um centro de compras local e foi flagrado por um site chinês. Num primeiro momento, a foto gerou uma reação de inconformismo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que luta contra a concorrência feroz da China – 25% dos tênis e sapatos importados vêm de lá.

Dois meses depois, uma comitiva de empresários foi a Brasília presentear o presidente, a primeira-dama, Marcela Temer, e o filho do casal, Michelzinho, de 7 anos. 

“O Michelzinho foi o que mais ganhou calçados dos nossos associados”, relembra Rosnei da Silva, que preside o Conselho Deliberativo da Abicalçados e é diretor financeiro da fabricante gaúcha Calçados Bibi. 

“Demos a volta por cima no episódio da China.” Agora, diante da perspectiva de um PIB positivo, o setor tenta dar mais uma volta por cima e sair de uma crise que encolheu a produção em 10%, em três anos.

Com faturamento de R$ 20 bilhões, a indústria calçadista é intensiva em mão de obra: são 300 mil trabalhadores. 

A meta da Abicalçados é recuperar o patamar histórico de 350 mil postos de trabalho, mas, para isso, precisa voltar a produzir um bilhão de pares por ano.

“Há um sinal claro de que a demanda no mercado doméstico vai se intensificar neste ano”, diz Heitor Klein, presidente-executivo da entidade, sem arriscar um percentual. “A vida política, que tem um reflexo forte na economia, entrou numa condição de normalidade.”

 Em 2016, as vendas no comércio interno caíram 16% e o estrago só foi minimizado nas fábricas graças ao incremento de 4% nas exportações.

“O desempenho do varejo depende da geração de empregos”, diz Imad Esper, presidente da Ablac, entidade que representa os lojistas de calçados. Tradicional evento do setor, a Couromoda é considerada um termômetro para o ano inteiro. 

A 44ª edição da feira foi realizada entre os dias 15 e 18 de janeiro, em São Paulo, e teve 1,5 mil expositores, atraindo o interesse de 35 mil lojistas e de 2,5 mil importadores.

“Sentimos um entusiasmo moderado”, diz Jeferson Santos, diretor da Couromoda. Num ambiente desafiador, um dos segmentos mais promissores é o de calçados infantis, que aposta em diferenciais, como as rodinhas no solado e os tênis com iluminação em LED.

“Se ficar de braços cruzados reclamando da crise, sem inovar, a crise pega mesmo”, diz Rosnei da Silva, da Calçados Bibi, que produz 2,5 milhões de pares para o público mirim, no município de Parobé, a 80 km de Porto Alegre. 

A empresa tem 1,5 mil funcionários, incluindo a unidade fabril em Cruz das Almas, na Bahia. Quem possui clientes no exterior tem conseguido atravessar a crise com menos dificuldades. 

Em 2016, as companhias brasileiras venderam 126 milhões de pares para mais de 150 países, uma alta de 1,7% no volume em relação ao ano anterior. Em valores, foram US$ 998 milhões, uma expansão de 4%. Os principais destinos são EUA, Argentina e França. 

Com sede em Igrejinha, a 90 km de Porto Alegre, o Bischoff Group pretende exportar mais de 20% de sua produção anual de 1,25 milhão de pares de calçados femininos. 

O grupo, que gera 1,3 mil empregos, está em plena expansão internacional. Na terça-feira 17, foi inaugurada uma loja em Miami, e há planos para Nova York e Califórnia.

“A marca está presente em 60 países”, diz Jorge Bischoff, CEO da empresa. “O segredo é encarar os anos difíceis com muita ousadia.”


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