Relação entre cintura e estatura pode indicar risco cardiovascular

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 19 de janeiro de 2019 às 20:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:19
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Estudo desenvolvido por pesquisadores da Unesp mostrou resultados preocupantes

O acúmulo excessivo de gordura na
região abdominal já é um conhecido indicador de risco para doenças
cardiovasculares. A medida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
não deve ultrapassar 94 centímetros (cm) nos homens e 90 cm nas mulheres.

Um novo estudo, desenvolvido por
pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no entanto,
identificou que pessoas fisicamente ativas e sem sobrepeso, mas com valores de
relação cintura-estatura (RCE) próximos ao limite do risco também têm maior probabilidade
de desenvolver distúrbios no coração.

O RCE é obtido pela divisão da
circunferência da cintura pela estatura. “Até então, os valores acima de 0.5
indicavam alto risco de desenvolver alguma doença cardiovascular ou metabólica.
Os valores abaixo de 0.5 indicavam que a pessoa tinha aparentemente menor
risco”, explicou Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp de Marília e
coordenador da pesquisa.

Para o estudo foram selecionados 52
homens saudáveis e fisicamente ativos, com idade entre 18 e 30 anos.

Segundo Valenti, estudos recentes
sugerem que a RCE fornece informações mais precisas de riscos cardiovasculares
do que o Índice de Massa Corporal (IMC), que avalia a distribuição de gordura
pelo corpo. “O resultado que encontramos chama a atenção daquelas pessoas que
acham que (estão fora dos grupos de risco) por não ter barriga, mas não fazem
atividade física ou mantêm hábito alimentar saudável. Mesmo sem barriga, pode
ser um risco”, alertou o professor com base no trabalho.

O estudo, que tem o apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi feito em colaboração
com a Oxford Brookes University, na Inglaterra, e publicada na revista
Scientific Reports.

Avaliação

Os participantes do trabalho foram
divididos em três grupos: o primeiro, composto por homens com menor percentual
de gordura corporal e com RCE entre 0,40 e 0,449; o segundo, formado por homens
com RCE entre 0,45 e 0,50, próximo ao limiar de risco; e o terceiro, por homens
com RCE acima do limite de risco, entre 0,5 e 0,56. “Nós avaliamos parâmetros
fisiológicos do sistema nervoso autônomo, por meio do ritmo do coração, antes e
durante uma hora após a recuperação do exercício”, explicou Valenti.

Eles foram avaliados durante dois
dias. No primeiro exercício, os participantes tiveram que permanecer 15 minutos
sentados e em repouso e, em seguida, fizeram uma corrida com esforço máximo em
uma esteira ergométrica.

O objetivo era constatar que todos
eram fisicamente ativos. Embora não fossem atletas, mantinham atividades regulares.
Em seguida, teriam que ficar em repouso por 60 minutos.

No segundo dia, foram submetidos a um
exercício físico moderado: uma caminhada de 30 minutos em uma esteira. A
intensidade seria de aproximadamente 60% do esforço máximo. A intenção era
observar, durante o repouso e a primeira hora após os exercícios, a velocidade
de recuperação cardíaca autonômica. “Quanto mais tempo o organismo demora para
se recuperar após o exercício, isso é indicativo de que essa pessoa tem
probabilidade maior de desenvolver doença cardiovascular, como hipertensão,
infarto, AVC”, disse o pesquisador.

Os resultados mostraram que os grupos
com RCE próximo e acima do limite de risco para o desenvolvimento de doenças
cardíacas apresentaram recuperação cardíaca autonômica mais lenta, tanto no
esforço máximo quanto no moderado. “Mesmo aqueles saudáveis e fisicamente
ativos, que não tinham sobrepeso e nem obesidade, mas que tinham valores de
normalidade mais próximos dos valores de risco, tinham risco maior do que
aquele grupo que era composto por indivíduos com menor tamanho de cintura e
estatura”, destacou Valenti.

O pesquisador explicou que este é um
estudo inicial, mas com “fortes evidências” da necessidade de rever os valores
de referência. “Vamos sugerir agora que ele seja feito em outros países, com
outra população, em outras condições. Aqui verificamos na população brasileira.
Se pensarmos na população da China, do Japão, que tem cultura diferente,
costumes diferentes, não podemos generalizar com base nos resultados apenas dos
brasileiros”, advertiu.

Obesidade

A obesidade é considerada uma
epidemia global pela OMS. Estima-se que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso,
dos quais 600 milhões estão obesos. No Brasil, a pesquisa Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de
2017, do Ministério da Saúde, mostrou que 18,9% dos brasileiros estão obesos.
Além disso, mais da metade da população das capitais brasileiras (54%) têm
excesso de peso.


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