Radiocirurgia contra câncer de pulmão tem 89% de pacientes curados

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 23 de setembro de 2018 às 18:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:02
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Trabalho de profissionais mostra que procedimento não invasivo é eficaz em casos recomendados

Ao buscar tratamento para
um resfriado, a advogada aposentada Gasparina Fernandes, de 72 anos, descobriu
um nódulo no pulmão. Era um câncer em fase inicial, mas ela não tinha o
perfil para o tratamento mais eficaz nesses casos, que é a cirurgia, por ter
outras complicações de saúde. Porém, estava no grupo de pessoas que podem ser
submetidas à Radioterapia Estereotáxica Corporal, conhecida como radiocirurgia.

Segundo estudo do Hospital
Sírio-Libanês publicado no Journal of Global Oncology – revista
científica da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco) -, o
procedimento, não invasivo, é capaz de destruir o tumor em 89% dos casos.

A pesquisa, que teve início em 2007 e
durou até 2015, avaliou os resultados em 54 pacientes do hospital classificados
como frágeis, geralmente idosos que já tiveram problemas de saúde, como doenças
associadas ao cigarro ou cardíacas. Eles também precisavam estar com o tumor em
fase inicial, com menos de 5 centímetros.

“A radiocirurgia traz oportunidade de cura
que se aproxima do resultado de uma cirurgia. No nosso estudo, 89% tiveram um
controle do tumor no local e, em dois anos, 80% dos pacientes estavam vivos”,
diz Carlos Vita Abreu, radio-oncologista do Hospital Sírio-Libanês. A média de
idade das pessoas submetidas ao procedimento era de 75 anos.

O especialista diz que nenhum paciente
morreu nem teve complicações graves após fazer o procedimento.

O câncer de pulmão atinge
principalmente fumantes e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o
tipo mais comum entre os tumores malignos – e altamente letal. Para este ano, a
estimativa de novos casos, de acordo com o instituto, é de 31.270. “A radiocirurgia é uma modalidade de
radioterapia que, graças à precisão e a quantidade de dose de radiação utilizada,
apresenta resultados semelhantes à cirurgia. Esta técnica consiste numa
modalidade de tratamento não invasiva, sem necessidade de cortes na pele ou
anestesia. Em virtude da grande potência deste tratamento, é indispensável a
utilização de tecnologia de última geração para a sua realização e normalmente
são realizadas de uma a cinco aplicações de radioterapia. Os pacientes
submetidos a este tratamento não necessitam de internação”, explica Rafael
Gadia, diretor de Radioterapia na unidade de Brasília do hospital.

Abreu afirma que o tratamento também
cobre uma lacuna entre os pacientes com câncer de pulmão. Segundo ele, até os
anos 1990, os pacientes considerados frágeis não tinham alternativas eficazes.
Uma parcela não recebia tratamento. “Para outra parte, era indicada
radioterapia convencional, mas os dados não eram brilhantes e a chance de curar
era na ordem de 30%. São pacientes que ainda produzem, que estão cuidando dos
netos e são figuras importantes dentro do núcleo familiar. Com a técnica, a gente
preserva essa pessoa.”

“A radiocirurgia veio adicionar uma
expectativa de cura para pacientes que ficavam sem alternativa e não é uma
proporção pequena. De 10% a 15% dos pacientes não podem receber a cirurgia por
causa da fragilidade”, diz Ricardo Terra, cirurgião torácico.

O engenheiro elétrico Jorge Marques, de
76 anos, fez o procedimento em janeiro, após descobrir um tumor no pulmão
esquerdo. “A cirurgia ia ser agressiva, e três sessões liquidaram o câncer.”
Marques mantém uma vida ativa e diz que não deixou de fazer o que gosta depois
do diagnóstico e do tratamento. “Continuo fazendo esteira para manter a
capacidade respiratória e não paro de estudar. Quero fazer uma pós-graduação em
Psicologia. Tenho muitos amigos e canto em um coral.”

No SUS

Na rede pública, o
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) tem o serviço de
radiocirurgia desde 2011. Até agora, 264 pacientes já receberam o tratamento,
dos quais 116 tinham câncer de pulmão. Os demais eram pacientes com câncer de
fígado, nos ossos, sarcoma e no pâncreas. O Icesp afirma ter sido pioneiro nas
técnicas de radiocirurgia intracraniana e radiocirurgia corpórea no Sistema
Único de Saúde (SUS).


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