Quase 100% dos usuários já tiveram problemas com plano de saúde

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de julho de 2018 às 01:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:52
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O percentual é maior do que o verificado na última pesquisa em 2012 – consultas e exames lideram queixas

Uma pesquisa feita pela Associação
Paulista de Medicina (APM) aponta que 96% dos usuários de planos de saúde
relataram algum tipo de problema na utilização do serviço nos últimos dois
anos. O percentual é maior do que o verificado na última pesquisa em 2012
(77%).

As consultas médicas e os exames
foram os serviços mais usados e os que mais registraram problemas. Nas
consultas médicas, as dificuldades passaram de 64% para 76%. No caso dos exames
passaram de 40% para 72%. Foram entrevistadas 836 pessoas, entre 25 de abril e
2 de maio deste ano.

Segundo os dados, entre os pacientes
que tiveram dificuldade nas consultas, o principal problema apontado é a demora
na marcação (60%), seguido da saída do médico do plano (37%) e da falta de
médico para as especialidades (23%). Com relação aos exames, 42% disseram que
tiveram que realizar em lugares diferentes, 39% reclamaram da demora para a
marcação, 38% apontaram para o fato de haver poucas opções de laboratórios e
clínicas, 31% disseram que houve demora para a autorização de algum
procedimento e 22% disseram que o plano não cobriu algum exame ou procedimento.

“Foi um crescimento muito grande
quando se trata de uma área tão crítica quanto o sistema de saúde
principalmente considerando que são pessoas que pagam pelo atendimento. É um
número inaceitável”, avaliou o diretor da associação, Florisval Meinão. “Com
relação às dificuldades, os números querem dizer que as empresas trabalham com
uma lógica comercial. Elas buscam trabalhar com redes muito restritas para
atendimento e essa rede é insuficiente para garantir o atendimento. Daí essa
demora na marcação de consultas e exames”, completou.

Com relação ao pronto atendimento, os
usuários relatam que o local de espera estava lotado (76%), que o atendimento
demorou muito (59%), que houve demora ou negativa para realização de exames ou
procedimentos (34%) ou demora e negativa na transferência para internação
hospitalar (12%).

Sobre as internações, 37% afirmaram
ter poucas opções de hospitais, 26% tiveram dificuldade ou demora para o plano
autorizar a internação e 16% se depararam com falta de vaga para internação.
Com relação às cirurgias, 18% enfrentaram demora para a autorização, 9% não
tiveram cobertura para materiais especiais e 8% não tiveram autorização.

“A situação que me parece mais grave
é a do pronto atendimento. As pessoas não têm uma rede suficiente e têm sua
situação agravada. Elas procuram as unidades de atendimento de urgência. A
demora e a espera são muito grandes, as dificuldades para a realização de exame
nesses locais também é grande, o paciente precisa internar e não consegue
internação. Fica uma situação muito difícil para quem vive um problema agudo”,
disse Meinão.

Como consequência do atendimento
deficitário dos planos, a quantidade de usuários que foi obrigada a procurar o
Sistema Único de Saúde (SUS) passou de 15% há seis anos para 19% em 2018. Já
aqueles que viram como única opção o atendimento particular passaram de 9% para
19%.

Médicos

A APM também avaliou a opinião de 615
médicos – 90% deles declararam haver interferência das empresas no exercício da
medicina. Seis em cada dez apontam restrições quanto à solicitação de exames
para o diagnóstico e alternativas de tratamento, além de apontarem entraves
para a prescrição de medicamentos de alto custo, tempo de internação e de
pós-operatório. As entrevistas foram feitas entre 12 de junho e 2 de julho.

A pesquisa mostrou que 60% trabalham
no SUS e desses apenas dois entre dez disseram conseguir internar um paciente
com facilidade. Pelo menos 85% afirmaram também enfrentar problemas para obter
uma sala de cirurgia, sendo que 91% apontam dificuldade excessiva. Nove em cada
dez profissionais dizem que o SUS não tem equipamentos adequados para exames e
diagnósticos.

Em decorrência dessas dificuldades,
sete em cada dez médicos disseram já ter sido agredidos durante o exercício da
profissão. Pelo menos 12% denunciaram que já foram vítimas de agressão física.

Planos

Em nota, a Associação Brasileira de
Planos de Saúde (Abramge) afirma que mantém a disposição para manter um diálogo
aberto e pede que as entidades e categorias profissionais busquem, em conjunto
com as operadoras e as autoridades, soluções para os desafios do setor.

Entre os desafios, a associação
destaca “a escalada incessante dos custos assistenciais, motivada
principalmente pela mudança no perfil demográfico, com o consequente aumento da
assistência à população idosa, e pela incorporação constante e indiscriminada
de tecnologias, e aumento de fraudes/desperdícios e a da indevida
judicialização da saúde”.

A associação reforça que o
descredenciamento de médicos que pedem mais exames não é regra e critica o
“excesso de solicitações de exames”. “Prova disso é que o país é o campeão
mundial de realização de ressonância magnética, um triste exemplo de
desperdício, pois, com toda a certeza, muitos desses exames são completamente
desnecessários”, destacou a nota.


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