Protocolo define ações contra explosão de caixas eletrônicos em Minas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 19 de outubro de 2017 às 13:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:24
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Secretaria de Segurança fecha acordo definindo como instituições devem reagir a ataques a bancos

Agências explodidas, policiais mortos e cidades aterrorizadas pela invasão de bandos fortemente armados: batizada de novo cangaço, a ação de quadrilhas especializadas em estouro de caixas eletrônicos representou, em média, 13 ataques a agências por mês em Minas Gerais neste ano, ou um caso a cada 2,2 dias. De janeiro a setembro foram computadas 120 ações criminosas do tipo. 

Mesmo com um recuo de 36,5% em relação ao mesmo período de 2016, quando foram 189 ocorrências, o saldo ainda é preocupante, principalmente pela violência extrema usada pelas quadrilhas, inclusive com ataques diretos às forças de segurança. Diante do quadro, oito instituições, lideradas pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), formalizaram esta semana um protocolo de crise para padronizar as ações de cada entidade diante das ofensivas e fortalecer o combate a essa modalidade de ataque. O acordo de cooperação faz parte de um trabalho que já vinha ocorrendo há cerca de dois meses, a partir de determinação do governador Fernando Pimentel (PT) para dar uma resposta ao crime organizado.

Horas depois de formalizado o protocolo, o alarme já soou pela primeira vez para acionar o pacto de ações integradas. Na madrugada de terça-feira, uma agência do Banco do Brasil e outra do Itaú foram atacadas por uma quadrilha em Bambuí, no Centro-Oeste mineiro. 

Ainda na terça-feira, mas no Norte de Minas, outro grupo de criminosos com armamento pesado fechou com uma carreta a BR-251, nas imediações de Grão Mogol, para assaltar um carro-forte. Eles interceptaram o veículo de uma transportadora de valores e trocaram tiros com os vigilantes. Em seguida, explodiram uma das portas do blindado, levando quantidade não informada de dinheiro. Cerca de 15 pessoas atuaram nesse caso e há suspeitas de que o grupo esteja ligado a outro ataque, cometido da mesma forma em Unaí, no Noroeste de Minas, em maio. A Secretaria de Segurança Pública confirmou que o conjunto de ações integradas foi adotado nos dois casos, mas sustenta que informações sobre as investigações não podem ser divulgadas, para não prejudicar os trabalhos. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso nos dois casos.

As ações padronizadas de cada força de segurança contra a violência desse tipo de quadrilha buscam criar uma forma de reação padronizada para a modalidade de crime, evitando que em cada caso seja adotada uma forma de trabalho diferente, segundo o secretário de estado de Segurança Pública, Sérgio Barbosa Menezes. O objetivo é unificar reações como a preservação dos lugares explodidos, acionamento de planos de cerco e bloqueio e concentração de informações de inteligência levantadas por diferentes órgãos, para prender mais rapidamente os criminosos. Resumidamente, trata-se de definir, uma vez ocorrido o crime, que órgão reage, de qual forma e em que momento.

“O crime de explosão de caixa eletrônico traz consequências que extrapolam a questão da segurança. Há impactos sociais e econômicos para as cidades, muitas vezes pequenas, que dependem daquele terminal que foi alvo de ataque. Nosso foco é sempre reduzir os números, trabalhar cada vez mais para minimizar o impacto para o cidadão. Se temos uma ou 120 ocorrências, nosso esforço será o mesmo, exatamente pelas características dessa modalidade de crime”, diz o secretário.

Caso de maior repercussão este ano aconteceu em Santa Margarida, onde morreram PM e vigia(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS - 11/07/2017)

ARTICULAÇÃO

 A Sesp coordena um grupo que tem se reunido de forma frequente e conta com a participação da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ministério Público, além dos demais braços do estado ligados à questão: Secretaria de Administração Prisional (Seap), Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. A criação do grupo de trabalho no governo de Minas, que vinha se articulando também com as forças federais, foi anunciada em setembro por Fernando Pimentel.

O esquema pelo qual deve operar esse esforço conjunto, segundo a Sesp, já está no papel, mas não pode ser detalhado, para não comprometer investigações e o próprio funcionamento da cadeia de ações que pode levar à captura dos criminosos. Mas, como resultado da concentração de esforços nesse tipo de crime, a secretaria informa que, de 12 de junho até 12 de setembro deste ano, 50 pessoas foram presas no estado por envolvimento com explosões de caixas eletrônicos e ataques a bancos. Dois acusados foram capturados mês passado, em Capitão Enéas, Norte de Minas, com um fuzil e duas submetralhadoras, uma pistola, uma espingarda e uma garrucha.

Os dois foram detidos após perseguição policial e bloqueios montados pela Polícia Militar. Com eles havia malotes com dinheiro manchado e também bananas de dinamite. Outras 28 prisões ocorreram em 9 de agosto, em Três Corações (Sul de Minas). Segundo a PM, todos os presos estavam envolvidos em crimes de explosão de caixas eletrônicos e roubos a bancos e a agências postais no Sul de Minas.

Enquanto as forças de segurança procuram padronizar suas ações para contra-atacar, o secretário de Segurança Pública defende uma punição mais pesada para o crime de explosão de caixas e bancos. “Tem que haver uma pena diferenciada, porque é uma ação que atenta contra o poder público. O policial que está na ponta é o representante do Estado. É necessário que haja um qualificador mais pesado para quem pratica explosões de caixas eletrônicos, porque há muitas variáveis que justificam isso: temos uso de explosivos, uso de armamentos pesados, organizações criminosas envolvidas. Não podemos tratar tudo isso como um roubo qualquer”, afirma. Neste ano, o caso de maior repercussão ocorreu em Santa Margarida, na Zona da Mata, onde um Policial Militar e um vigia foram mortos por assaltantes que atacaram as agências locais do Banco do Brasil e do Sicoob.

Três perguntas para…
Sérgio Barbosa Menezes – Secretário de estado de Segurança Pública

As explosões de caixas caíram 36,5% no período divulgado. A que se pode atribuir esse resultado?
Temos desenvolvido ações integradas que contam com o apoio e trabalho árduo de várias instituições. Desde que esse tipo de crime passou a preocupar mais, temos tentado aperfeiçoar o trabalho e agregar melhorias na repressão qualificada e no mapeamento das quadrilhas que promovem esse tipo de ação. Um exemplo desse avanço é exatamente a assinatura do termo de cooperação com oito instituições, na última segunda-feira.

Mobilização e desmobilização

Não é a primeira vez que se forma uma força-tarefa na tentativa de enfrentar o desafio da explosão de caixas eletrônicos em Minas. Em 2013, época em que casos do tipo estavam em franca ascensão, o governo do estado constituiu um grupo de trabalho com objetivo de dar uma resposta à ofensiva, de forma integrada e com ações compartilhadas. Porém, em 2015 a própria administração estadual avaliou que não havia mais a necessidade do esforço concentrado, sob a justificativa de se tratar de um conceito a ser adotado em situações de crise, o que, no entendimento do estado, não ocorria naquele momento. Porém, o avanço de casos com maior emprego de violência – que causaram mortes, deixaram policiais sitiados e cidades sem terminais bancários – levaram a uma mudança de postura. Apesar da redução dos casos, nova força-tarefa foi formada para unificar procedimentos na contraofensiva aos assaltantes.

DESCONFIE
Confira recomendações da Secretaria de Segurança Pública para ajudar no cerco a ladrões de caixas eletrônicos

1) Se você é dono de hotel ou pousada, fique atento a hóspedes com bagagem incompatível com a quantidade de dias que pretendem ficar

2) Caso você seja um morador ou comerciante e perceba movimentação de pessoas muito atípica em sua cidade, alerte as autoridades

3) Se você for dono de algum sítio, esteja alerta a aluguéis pagos com altas quantias, em dinheiro, sem contratos formais nem negociação

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