Prescrição de remédios genéricos aumenta 65% em três anos no Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 5 de julho de 2018 às 15:19
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Mais baratos, medicamentos genéricos agradam pacientes, mas médicos ainda desconfiam da eficácia

A prescrição de medicamentos
genéricos no país aumentou 65% de 2015 a 2018. Mais barata, essa versão de
remédios foi prescrita em 34% das 115 milhões de receitas médicas emitidas entre
fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano.

Os dados foram apresentados nesta
quinta-feira, 05 de julho, na sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), durante a divulgação do balanço de 18 anos do primeiro registro de
medicamento genérico do Brasil. Segundo o presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa,
essa classe farmacológica representa um ramo impulsionador da economia, além de
ampliar o acesso da população à saúde, provocando relevante impacto social.

O presidente da Anvisa comenta sobre
a chegada dos genéricos no Brasil: “A política de genéricos do Brasil foi
extremamente efetiva, do ponto de vista de aumentar o acesso e também de criar
uma indústria farmacêutica nacional importante. Relatório que lançamos sobre o
mercado no âmbito brasileiro, das dez maiores empresas farmacêuticas do país,
apenas uma era de capital nacional. Hoje, a gente tem cinco das dez”,
afirmou Barbosa, destacando o crescimento de escalas produtivas em Minas
Gerais, no Rio de Janeiro e em Goiás.

Embora reconheça que o Brasil demorou
a iniciar sua produção de genéricos, ainda que a medida estivesse prevista em
lei, Barbosa disse que o país tem recuperado os impactos dessa delonga e vem
avançando. “Apesar de a gente ter entrado relativamente tarde, quando a
gente soma genéricos com similares [genéricos que estão vinculados a uma
marca], estamos nos aproximando dos percentuais históricos de países que
entraram antes na política de genéricos, como os Estados Unidos e os da
Europa.”

De acordo com o presidente da Anvisa, os genéricos corresponderam a mais de 70%
das 4,3 bilhões unidades farmacológicas produzidas no ano passado.
Atualmente, a gama de medicamentos genéricos disponível no mercado é bastante
ampla, sendo constituída por 6.300 produtos, fabricados por 120 laboratórios
diferentes. De 2014 para 2017, o número de novas drogas genéricas registradas
na Anvisa saltou de 146 para 336, um incremento de 130,1%.

Nesse período, a Anvisa recebeu 1.830
pedidos de registro, dos quais liberou 1.229 para venda. Além disso, em 2016 e
2017, ao analisar os padrões de qualidade de fármacos que já estão sendo
comercializados, mediante o chamado teste de biodisponibilidade ou
bioequivalência, a agência concluiu que 85,9% da amostragem cumpria as
exigências sanitárias. 

A partir de 1º de setembro, a fila de
registros deve correr mais rapidamente, com uma simplificação do procedimento.
“Quando a empresa protocola um pedido de registro, ela não vai mais ficar
um ano até [o pedido] ser analisado. Começará a ser analisado imediatamente. O
tempo de análise vai ser o tempo real, que dura em torno de seis meses,
dependendo do grau de completude de informações que a empresa prestou no
dossiê”, explicou Barbosa. Ele disse que, do ano passado para cá, a Anvisa
já conseguiu julgar quase todos os 780 requerimentos recebidos, deixando
pendentes cerca de 30.

Pacientes aceitam; médicos desconfiam

Durante o evento, o presidente da
Anvisa destacou que, apesar de ser amplamente aprovado pelos consumidores, o
medicamento genérico ainda é rejeitado pelos profissionais de saúde, e disse
que esse preconceito precisa ser vencido. “Em escolas de medicina,
ensina-se pouco a ler evidência científica, a saber diferenciar as coisas. Se
se perguntar a um médico como é feito o critério de validação de um genérico,
acho que a maioria não vai sequer saber responder, infelizmente. Mas
a população, por outro lado, sabe que o genérico, efetivamente, é
equivalente ao produto de referência – tanto que todas as pesquisas de opinião
demonstram isso, assim como os dados de venda”, afirmou Barbosa.

Ele ressaltou que, em média, os
genéricos têm preços 35% mais baixos do que os remédios de referência.

Segundo a presidente executiva da
Associação Brasileira de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), Telma Salles,
embora haja genéricos para 90% das patologias, pacientes que têm determinadas
doenças, como câncer, ainda precisam recorrer ao medicamento de
referência. “Para o câncer, a gente ainda precisa. Tem os biossimilares
que ainda estão chegando ao Brasil, em começo de registro na Anvisa, e vamos
ter também medicamentos de mais complexidade, para ajudar na cura dessas
doenças. Mas podemos dizer que, para as doenças que mais acometem a população,
esses produtos genéricos estão disponíveis. Pode-se não encontrar certa
molécula, mas pode-se encontrar outra, que substitua aquela e ajude tanto quanto”,
afirmou.


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