Petrobras estuda produzir biocombustível pioneiro feito com microalgas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 11:02
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:33
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Produção traz grandes vantagens ecológicas, como a redução do gás carbônico do ar, causador do efeito estufa

A
Petrobras trabalha no desenvolvimento de uma tecnologia pioneira para produzir
biodiesel de microalgas – alternativa aos combustíveis derivados do petróleo,
que pode ser usada em carros e ou qualquer outro veículo com motor a diesel.

A
gerente de Biotecnologia do Centro de Pesquisas (Cenpes) da Petrobras, Juliana
Vaz, ressaltou o pioneirismo do projeto que, em sua avaliação, “vai contribuir
para a construção de um futuro mais sustentável. É um projeto de vanguarda,
pioneiro no Brasil e que logo vai estar à disposição de todos”.

Fabricado
a partir de fontes renováveis (entre elas óleo de soja, gordura animal e óleo
de algodão) ou do sebo de animais, o biocombustível emite menos poluentes que o
diesel. Do processo biológico das microalgas é produzida uma biomassa usada
para se extrair o óleo, que será matéria prima para a produção do
biocombustível.

A
estatal almeja chegar a produzir o combustível feito a partir da microalga em
escala comercial. “O biodiesel produzido já foi submetido a testes de
qualificação em laboratório, sob os padrões da Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e os resultados preliminares mostraram ser
promissores”, diz Juliana.

As
microalgas têm como principal vantagem o fato de não ter sazonalidade (períodos
de safra) e não depender de condições específicas – de solo, por exemplo – para
sua produção. Sua fabricação possibilita colheitas “quase que
semanais”, com uma produtividade até 40 vezes maior do que a da biomassa
feita de vegetais terrestres. “As microalgas têm uma produtividade muito maior
do que a soja e cana”,  afirmou a pesquisadora.

Benefícios
para o meio ambiente

A
produção a partir da microalga traz ainda vantagens ecológicas, já que
contribui para a redução de gás carbônico (CO2) do ar, um dos geradores do
efeito estufa, que causa o aquecimento global, uma das maiores preocupações
atuais com o meio ambiente.

Cada
uma tonelada de microalgas usadas para a produção de biodiesel pode retirar até
2,5 toneladas de gás carbônico do ar, taxa “muito maior que a de outros
vegetais normalmente utilizados para a produção de biodiesel – seja a soja ou
da cana-de-açúcar”, disse Juliana, ressaltando que esse gás carbônico ainda
será aproveitado para a produção de um substituto dos combustíveis fósseis.

Ainda
dentro do contexto de maximizar a tecnologia, também está em estudo a
possibilidade de cultivar microalgas em águas oriundas da produção de petróleo,
contribuindo no tratamento dessa água para descarte ou para reuso. “As
microalgas utilizam as substâncias presentes na água de produção, como nitrogênio
e fósforo, como insumos para a conversão em biomassa”, explica a pesquisadora.

Escala
de produção

As
pesquisas tiveram início em um fotobiorreator criado pelos próprios
pesquisadores do Cenpes, em pequena escala.  “Já em Extremoz, no Rio
Grande do Norte, e com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), o processo é testado em uma escala um pouco maior. O local conta com
tanques abertos, com capacidade para 20 mil litros, onde as microalgas são
cultivadas e possibilitam a avaliação do seu potencial produtivo, da qualidade
e o teor do óleo produzido”, disse.

Juliana
contou que
a produção já foi ampliada e encontra-se atualmente em escala piloto, fase da
pesquisa o que deverá demorar de 2,5 a 3 anos.

A
partir dessas avaliações, o processo será testado em escala demonstrativa, em
um cultivo que atingirá de 50 a 100 hectares de tanques abertos. “Seria uma
fase semicomercial, para efetivamente sabermos se há condições de se produzir
este combustível em escala comercial e de forma competitiva. E aí entra a fase
de estratégia de definição de análise de custo para certificar se efetivamente
ele poderá entrar no mercado”, explicou.

Também
está sendo pesquisado o uso das microalgas na produção de bioquerosene de aviação
(BioQAV), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Também há parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais,
para a produção do biocombustível. “As pesquisas se pautaram muito, no início,
no domínio do cultivo para a produção do óleo, que uma vez produzido, pode ser
utilizado para finalidades diversas, inclusive do BioQAV”, afirmou Juliana.

Para
a pesquisadora, é necessário garantir a viabilidade econômica para que a
produção chegue à escala comercial. “A atual dificuldade a ser vencida com as
pesquisas é a de otimizar o processo de tal forma que garanta viabilidade
econômica e um balanço energético mais positivo, através principalmente do
aumento do teor de óleo produzido pelas microalgas”, afirma.

Futuro
baseado em baixo carbono

Apesar
do período de crise por que passou a Petrobras e da necessidade de cortar
investimentos e de vender ativos para se capitalizar e reduzir o nível de
endividamento – inclusive com a perspectivas de venda da PBio, braço da estatal
para o setor de biocombustíveis), a companhia mantém a atenção voltada para
esse tema.

“A
Petrobras passou recentemente por uma fase difícil, do ponto de vista
financeiro, com um grau de endividamento bastante elevado, mas isso não nos fez
descuidar do futuro. Tanto que, no nosso plano de negócios, uma das diretrizes
é de que a companhia vai se preparar para um futuro baseado numa economia de
baixo carbono”, como é o caso do biocombustível de microalgas, diz Juliana.


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