Pesquisadores criam dispositivo para eliminar tremores do Parkinson

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 30 de abril de 2018 às 13:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:42
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Grace, como é chamado o dispositivo, é capaz de eliminar o tremor das mãos sem cirurgias ou remédios

Um grupo de pesquisadores chilenos, liderados pelo
engenheiro Felipe Nagel, apresentou nesta semana seu último trabalho,
“Grace”, um dispositivo capaz de eliminar o tremor das mãos associado
ao Mal de Parkinson e ao tremor essencial sem necessidade de operações nem
fármacos.


O projeto, apresentado pela Fundação Imagem do Chile, está em fase final, na
qual a equipe procura aperfeiçoar o funcionamento, reduzir o tamanho e aumentar
sua autonomia antes de lançá-lo no mercado americano, onde já têm a patente
registrada.

À Agência EFE, Nagel afirmou que a motivação para
iniciar a pesquisa nasceu das conversas que teve com seu pai, um ex-cirurgião
que teve que deixar as salas de cirurgia ao ser diagnosticado com tremor
essencial.
A doença costuma ser mal diagnosticada como Parkinson, já que têm efeitos
similares, apesar de ser oito vezes mais comum.


Os afetados sofrem de movimentos e tremores involuntários, que fazem com que
ações diárias como comer, beber ou abotoar uma camisa se transformem em tarefas
muito complicadas. No caso do Parkinson, esses sintomas se somam a uma forte
sensação de rigidez muscular.
No Chile, não existem estudos atualizados e específicos sobre a extensão dessas
doenças, indicou Nagel, embora segundo seus números 0,4% da população sofre da
doença, o que representa cerca de 400 mil pessoas.


É o caso de Daniela Torrejón, que apesar de completar 25 anos convive há mais
de dez anos com essa desconhecida patologia, algo que, segundo confessa, mudou
totalmente sua forma de pensar e de se relacionar com o mundo. “Aos
13 anos, tive que aprender a escrever e comer de novo. Tentei muitos
tratamentos e fármacos, mas todos tinham graves efeitos colaterais e deixei de
consumi-los. Foi então quando conheci Felipe e comecei a colaborar com a
equipe”, disse à EFE Daniela Torrejón.


“Grace”, detalhou Nagel, consiste em um pequeno dispositivo parecido
com um celular do qual saem vários eletrodos que são colocados sobre os
músculos, principalmente do antebraço, que enviam sinais que ajudam o usuário a
controlar os movimentos involuntários.


O primeiro período de testes obteve resultados “promissores”, nas
palavras dos pesquisadores, já que conseguiu reduzir entre 80% e 100% a
amplitude dos tremores em um grupo de 30 pessoas que sofrem tanto de tremor
essencial quanto de Parkinson, além de reduzir a rigidez muscular nesses
últimos. No entanto, o engenheiro admitiu que ainda é preciso continuar aperfeiçoando o
modelo, razão pela qual iniciaram os trâmites para colaborar diretamente com o
Centro de Transtorno do Movimento do Chile (Cetram).


Com o apoio clínico da instituição, a equipe poderá trabalhar diretamente com
os pacientes do centro e obter mais dados que os ajudem a testar a efetividade
do dispositivo e a melhorar tanto o seu desenho quanto a autonomia. Nesse sentido, Daniela destacou a necessidade de “Grace” ser
“cômodo e harmonioso”, para que não seja visto como “algo
estranho” que faça com que as pessoas olhem e pensem: “pobrezinha,
está doente”. Nagel seguiu tais indicações de perto e o grupo de pesquisadores passou a se
concentrar em desenvolver um dispositivo efetivo, mas também portátil, fácil de
usar e não invasivo.


Uma meta que parece cada vez mais próxima, já que, segundo explicou Nagel, o
primeiro protótipo comercializável estará disponível possivelmente em meados de
2019 e terá um custo aproximado de US$ 1.000, um preço muito inferior ao das
cirurgias associadas a essas doenças. “É muito emocionante ver como os pacientes encontram no “Grace”
algo que não existe no mercado e que lhes permite recuperar sua vida diária.
Muitos deles admitem que perderam a capacidade de aproveitar momentos tão
singelos como sair para comer ou tomar algo”, disse o jovem engenheiro.


Daniela afirmou, visivelmente emocionada, que utilizar o dispositivo foi
“uma experiência única”, que lhe permitiu controlar o tremor e
escrever “uma linha reta”, algo que não conseguia fazer havia mais de
dez anos. 


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