Pesquisadores brasileiros lideram estudo inédito sobre radiação espacial

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de março de 2018 às 17:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:38
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Dominar uma tecnologia de uma área estratégica, que é a Espacial, é importante para a soberania do país

Centro Universitário FEI, em parceria com a USP e o IEAv, realizou experimentos inéditos no Brasil sobre dispositivos resistentes à radiação. 

ASIC SpaceWire foi projetado e testado no País pela primeira vez e poderá ser utilizado como uma rede de comunicação espacial em satélites pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Na FEI, foram realizados os testes de raios-X no Laboratório de Efeito da Radiação Ionizante (LERI). 

O IEAv ficou responsável pelos testes de raios-gamma, enquanto que na USP foram feitos testes de partículas pesadas. 

O estudo faz parte do projeto de Circuitos Integrados Tolerantes à Radiação (CITAR), que tem cumprido um papel importante na indústria espacial.

A professora Marcilei Guazzelli, do departamento de Física da FEI e pesquisadora do projeto, destaca que os resultados representam um importante avanço para o País. 

“Dominar uma tecnologia de uma área estratégica, que é a Espacial, é importante para a soberania de um País. Se não tivermos desenvolvimento de tecnologia própria, ficaremos dependentes de outros países”, destaca.

A docente também destaca que os resultados dos testes não servem apenas para área espacial. “Toda essa tecnologia que estamos desenvolvendo também pode ser útil para outras áreas, como a da Saúde, por exemplo”.

Embargo dos Estados Unidos

Um dos fatores motivadores do projeto e da criação do Laboratório de Pesquisas em Radiação Ionizante, na FEI, foram as dificuldades encontradas pelos pesquisadores, entre elas o embargo dos Estados Unidos.

“Por conta do acordo que o Brasil fez com a China na área de satélites, sofremos sanções que dificultaram o avanço nos nossos estudos. Por conta disso, ficamos sem comprar os dispositivos resistentes à radiação que são da NASA ou de quem trabalha com eles”, revela.

Outra dificuldade encontrada pelo grupo de pesquisadores foi em relação à própria região geográfica que o País se encontra.

“Aqui no Brasil estamos em uma região chamada de anomalia atlântico sul, onde há uma falha no campo eletromagnético que faz com que a radiação seja maior que nas outras regiões”, explica a professora.

Participação em evento internacional

Neste mês, a professora Marcilei participou do 19º IEEE Latin-America Test Symposium (LATS 2018), um evento internacional sobre avanços tecnológicos em benefício da humanidade. 

A docente participou do painel sobre “O uso de ‘dispositivos de prateleiras’ para aplicações no espaço: benefícios e desvantagens”

Entre os assuntos que foram discutidos no painel, a professora falou sobre os avanços na área espacial conquistada pelos pesquisadores brasileiros no Projeto CITAR.

Projeto CITAR

Criado em 2012, o projeto de Circuitos Integrados Tolerantes à Radiação (CITAR) tem cumprido um papel importante na indústria espacial. 

Ele é responsável pelo estudo, desenvolvimento e capacitação de componentes resistentes à radiação cósmica ionizante, usados em equipamentos enviados ao espaço. 

Em 2016, o projeto inaugurou um laboratório no campus São Bernardo do Campo, do Centro Universitário FEI, que tem como objetivo reforçar os testes e a capacitação de componentes resistentes à radiação.

“A radiação é uma grande dificuldade para o setor espacial nacional, já que afeta o funcionamento de componentes, podendo causar falhas de comunicação, interferências nas informações e até inutilizando alguns circuitos e equipamentos inteiros”, explica a professora Marcilei Guazzelli, docente do departamento de física do Centro Universitário FEI.

Coordenador Geral do Projeto Citar e Executor do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, Saulo Finco, destacou o empenho da FEI em inaugurar um laboratório de extrema importância para o desenvolvimento científico do País, multiplicando recursos humanos, infraestrutura e estudos para solucionar os problemas encontrados em circuitos utilizados em satélites.

“Com este laboratório e os profissionais que estarão operando nele, poderemos estudar os fenômenos encontrados em componentes de satélites”, pontuou o coordenador do projeto CITAR.

O projeto é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC), em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com o Centro Universitário FEI, o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTI), o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), o Instituto de Estudos Avançados do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (IEAv-DCTA), a Agência Espacial Brasileira (AEB/MCTI) e o Instituto Mauá de Tecnologia, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI).


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