Pesquisa Ibope mostra que 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de maio de 2018 às 19:45
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Cerca de 22 milhões se dizem vegetarianos por preocupação com saúde, meio ambiente e exploração de animais

Hippie pós-moderno?
Comedor de alface? O perfil do vegetariano ultrapassou os estereótipos das
últimas décadas e hoje atrai de adeptos da alimentação natural até quem não
dispensa junk food.

Inédita, nova pesquisa
Ibope Inteligência aponta que 14% dos brasileiros com mais de 16 anos – cerca
de 22 milhões de pessoas – concordam parcial (6%) ou totalmente (8%) com a
afirmação “sou vegetariano”. 

Na mesma tendência, estudo da Kantar
Ibope Media aponta que, de 2012 até o ano passado, cresceu de 8% para 12% o
total de adultos (de 18 a 75 anos) que se declaram vegetarianos nas Regiões Sul
e Sudeste do País e nas áreas metropolitanas de Salvador, Recife, Fortaleza e
Brasília. “Deixou de ser uma escolha restrita a um grupo. Hoje toda família tem
um vegetariano, um vegano”, diz Cynthia Schuck, coordenadora da Sociedade
Vegetariana Brasileira (SVB). 

Para ela, mesmo que nem todos sigam o
vegetarianismo de forma estrita, se reconhecer como tal é positivo. “São
pessoas que se identificam e estão no caminho. E, para o mercado, já é um
público que conta.”

A designer Domitila Carolino, de 38
anos, é um exemplo de adepta recente desse estilo de alimentação. A mudança
começou há seis anos, por recomendação médica, quando seus exames apontaram
excesso de ferro. Alguns meses depois, porém, ela voltou a comer carne, que era
muito consumida pelo marido. “Respeito quem come. Cada um no seu tempo”, diz.
Em 2015, ela retomou o vegetarianismo. “Não queria mais colocar dentro de mim
agressão, de morte, de sofrimento.”

Para a professora de História Thaís
Carneiro, de 27 anos, a mudança chegou anos depois de o pai aderir ao vegetarianismo.
“Eu era muito firme que não queria deixar de comer carne”, lembra. A virada
veio aos 14 anos, durante uma viagem, quando visitou pessoas que criavam
animais. Na ocasião, chegou a sair de um recinto para não presenciar o abate de
uma galinha, que depois encontrou morta na cozinha. “Passei a associar mais os
animais ao que comia, por mais que já soubesse.” 

Na mesma época, ela leu um livro
espírita que considerava o consumo de carne um vício. “Essas questões foram
mexendo comigo”, conta. A mudança foi difícil, especialmente na escola.
“Elogiavam, mas depois diziam que não conseguiam e começavam a falar de carne,
a descrever, isso me deixava triste. Chorava, achava as pessoas insensíveis.”

Quando foi vegana, enfrentou
dificuldade para manter a dieta, especialmente fora do País, o que relata no
projeto Mulheres Viajantes. “Aqui, a gente teve um crescimento considerável no
mercado”, compara. 

Professora do Departamento de
Sociologia e Política da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Juliana
Abonizio aponta que a religião foi o motivo predominante décadas atrás,
enquanto hoje cresce a motivação ambiental, por saúde ou por não concordar com
a exploração animal. “Tem gente que começa pela saúde e depois vira militante.”

O movimento ganhou força na internet,
especialmente nas redes sociais. A estudante de Letras Leonora Vitória, de 18
anos, aderiu ao ovolactovegetarianismo após assistir filmes que envolvem o
tema, como a ficção Okja, da Netflix. “No princípio eu não sabia o que consumir
e como fazer. Procurei grupos no Facebook, receitas na internet e fui me
virando”, conta.

O vegetarianismo “saiu do
obscurantismo”, resume a professora de Psicologia da Universidade Brasil,
Pâmela Pitágoras, que estudou o tema no doutorado. “Quando uma coisa começa a
crescer, a ser divulgada, atrai mais pessoas”, explica. 

Estudante de Pedagogia, Mariana
Pasquini, de 18 anos, deixou de comer carne vermelha em janeiro, depois de
porco e, neste mês, foi a vez do frango. “Quero parar com o peixe. Os derivados
ainda não sei, vou ter um pouco de dificuldade.”

Vice-presidente da Associação Alagoana
de Nutrição, Viviane Ferreira aponta que a procura de um nutricionista
especializado e a realização de um check-up são importantes na transição. “É
preciso aprender a comer mais vegetais, o que as pessoas no geral não comem,
mas é um mito achar que vegetariano é anêmico”, aponta.

A pesquisa Ibope ouviu 2
mil pessoas em 142 municípios de todas as regiões do País e classes sociais. A
margem de erro é de 2 pontos porcentuais.


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