Perder peso de modo saudável: saiba o que diz médica que fez pesquisa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de setembro de 2019 às 10:09
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:52
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Ansiedade e o estresse nos fazem comer mais; como a epidemia da obesidade pode ser controlada.

A médica nutricionista argentina Monica Katz

A obesidade, no Brasil e no mundo, cresce em uma velocidade preocupante. 

No ano passado, 2 em cada 10 brasileiros eram obesos, segundo uma pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde. 

A taxa de quase 20% é recorde para os 13 anos de pesquisa ― no período, a obesidade deu um salto de 67,80%. 

A taxa de adultos com sobrepeso também aumentou com o passar dos anos e, em 2018, mais da metade dos brasileiros estavam com o peso acima do recomendado (55,7%).

A obesidade é considerada uma doença por órgãos internacionais e nacionais de Saúde, uma vez que ela está associada a diversas complicações, como infartos, AVC, cânceres, diabetes, hipertensão, problemas articulares, problemas de sono, depressão, entre outros. 

Enquanto muitas pessoas recorrem a dietas restritivas e cirurgias bariátricas, a médica especialista em nutrição, Monica Katz, acredita que a “fome emocional” é a responsável pelo ganho de peso. 

Emoções como estresse, tristeza, cansaço e ansiedade provocam o aumento de ingestão de alimentos. 

Segundo ela, não basta pular de dieta em dieta para perder peso. 

A maioria dos tratamentos de emagrecimento, disse, ignora o fator central, que é o emocional, que condiciona um maior consumo de calorias. 

Katz é médica argentina, professora da Universidade de Buenos Aires, Presidente da Sociedade Argentina de Nutrição (SAN) e coordena um grupo de pesquisa sobre obesidade. 

Ela participa do XXIII Congresso Brasileiro de Nutrologia, promovido pela ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), para discutir sobre as soluções e tratamentos da pessoa com obesidade.

A argentina explica como as dietas restritivas falham para a perda de peso a médio e longo prazo e elencou ações necessárias, tanto para pessoas quanto governos, a fim de frear o aumento da doença.

“Não vale a pena fazer uma dieta pois há enorme chance de retomar esse peso perdido nos próximos 4 anos”, conta a autora dos livros Não Dieta, pontes entre comida e prazer e Somos o que comemos

Ainda, elencou os alimentos e as dietas que, ao seu ver, promovem um emagrecimento saudável a longo prazo. Veja abaixo a entrevista completa com a especialista em nutrição: 

P: A senhora defende o fim das dietas restritivas. Por que elas não funcionam? 

Monica Katz: Há enormes evidências científicas que comprovam que dietas de baixas calorias ou que restringe um grupo inteiro de alimentos, por exemplo, todos os carboidratos, não funciona em médio e longo prazo. Só funciona em curto prazo, mas têm enormes impactos emocionais e metabólicos.

P – A obesidade vem aumentando nos últimos anos. No Brasil, 20% da população é obesa e esta taxa é um recorde. Como podemos combater essa rápida evolução sem dietas restritivas?

R – Desde a década de 80 se fala sobre essa epidemia da obesidade no mundo; a OMS declarou obesidade como epidemia em 1997 e vem discutindo esse problema em todos os países do mundo. São raros os países que não viram suas taxas de obesidade disparar, apenas o Haiti, países da África, e partes da Índia. Mas onde houve um aumento do poder aquisitivo para compra de comida, a obesidade se tornou um problema.

Combater isso implica impor estratégias de todo tipo, que passem pelos governos e que precisam modificar estruturas que foram construídas nas sociedades, na cultura e na indústria. 

Regular o mercado de alimento, regular o mercado do entretenimento, limitar o marketing de alimentos, incentivar programas para educar consumidores sobre os produtos alimentícios, entre outros. 

Também investir em educação sensorial de alimentos para que crianças possam detectar níveis altos de açúcar, níveis de sódio, de gordura em industrializados. Tem que educar consumidores e isso se começa na escola. Há muitas coisas para fazer.

P – Quais são os piores alimentos que podemos comprar no supermercado? Os industrializados são os novos “vilões” da alimentação saudável?

R – Nesse momento há uma guerra contra os industrializados. Eu acredito que o melhor é comer produtos naturais e caseiros, mas isso não é realidade para todo mundo.

Muita gente precisa trabalhar fora de casa e, na hora de cozinhar, vai optar por uma lata de molho de tomate em vez do tomate in natura, e outras comidas não caseiras. A saída é regular o mercado de alimentos. Eu não acredito que os alimentos industrializados, todos eles, sejam negativos para saúde. Alguns deles são aliados para quem não tem tempo, que trabalha o dia inteiro.

Mas acredito, sim, que precisamos regular o mercado alimentício para que tenhamos duas coisas: diminuição do tamanho das embalagens de alimentos, pois há toda uma estratégia no mercado que beneficia a compra de produtos grandes, e nós humanos comemos tudo que temos, a primeira estratégia é voltada para a indústria de alimentos, que é fazer pacotes menores de alimentos, de maneira que o consumidor poderia preferir o maior ou o menor, porém todas quantidades reduzidas. Hoje as famílias são menores, menos numerosas, e comem alimentos “tamanho família” e os terminam. 

A outra coisa que a indústria pode fazer é reformular alimentos industrializados, reduzir em calorias ― não que sejam lights ―, mas serem menores e com menos calorias desnecessárias, reduzidos em açúcar, em sódio, em gorduras saturadas. E esse movimento está começando. 

P – E quais são os melhores alimentos que você deveria comprar no supermercado?

R – Os melhores alimentos para escolher são, sem dúvida, os que compõem dois padrões alimentares bem conhecidos: o mediterrâneo e o japonês. Essas dietas são ricas em vegetais, frutas, cereais de boa qualidade, legumes, azeite de oliva.

P – Nós comemos mais do que deveríamos? Como a “fome emocional” pode influenciar no aumento de peso?

R – Nós humanos comemos por três determinantes: consumo homeostático, que é o consumo para manter o equilíbrio do corpo, calorias e nutrientes. Essa é a fome “de verdade”. Depois vem o consumo emocional e, por ultimo, mas não menos importante, é o consumo por prazer. 

A fome emocional é uma fome destinada a regular emoções para não pensar e não sentir e usada como coping style, para fugir do enfrentamento da vida. A comida passa a ser o refúgio porque comer diminui o hormônio do estresse, comer diminui cortisol, então a pessoa se sente bem. 

Porém é um ciclo vicioso, pois eu como muito para não pensar, fico mais gordo, e menos saudável. Assim, é preciso entender que a obesidade não vem apenas da fome real, vem da necessidade do prazer que temos com a comida. Não faz mal ter no nosso dia a dia uma parte de prazer que seja por um alimento, sem que essa seja a única fonte de prazer.

Fizemos um estudo com mais de 500 pessoas que apontou que 80% das mulheres e 60% dos homens comem por ansiedade e estresse. Isso mostra que sem abordagem voltada para a gestão de estresse e ansiedade não há um bom tratamento para obesidade. 

P – Por fim, como fazer para ter uma vida saudável e perder peso?

R – O tratamento da obesidade é um tratamento com base em três elementos: a alimentação, atividade física e gestão do estresse e emoções. E isso se chama estilo de vida.

Porque o segredo da alimentação saudável não é só a qualidade, mas principalmente a quantidade. As pessoas que têm obesidade não regulam a quantidade de comida que come. Então, o segredo de um estilo de vida saudável, em relação à alimentação, é sentir a saciedade, capacidade de parar de comer.


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