Para onde vai seu aparelho eletrônico depois que ele não serve para mais nada?

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 16:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:20
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Peças descartadas de maneira incorreta contaminam animais e causam danos à saúde das pessoas

Lixo eletrônico é pouco reciclado e pode causar graves danos ao meio ambiente

O Brasil produz todos os anos 14 milhões de quilos de resíduos eletrônico, segundo levantamento realizado pela USP. 

Entre os itens descartados estão celulares, computadores, monitores e cabos que juntos representam 10% do total.

Diferentemente de garrafas pet, vidro ou sacolas plásticas, os componentes eletrônicos são compostos por diversos elementos químicos que precisam ser tratados de forma separada. 

“Os eletrônicos são como um mosaico de composto químicos e metais, que vão desde o plástico até alguns componentes tóxicos”, explica Alexandre Turra, professor do Instituto de Oceanográfico da USP.

Para o professor, o problema é que esses materiais estão em pequenas quantidades nos eletrônicos e é necessário processar uma quantidade muita grande para ser lucrativo. 

 “Não sabemos onde fazer o descarte, para esse tipo de coisa não está acessível, principalmente para populações pobres. Está restrito a núcleos de mais alta renda”, afirma o professor Alexandre.

Uma grande parte do material mais elaborado com potencial de reciclagem, como placas e processadores, é exportado a baixo custo para outros países, sendo a Bélgica é uma das grandes compradoras. 

Hoje, algo entre 2% e 6% desse lixo chega a ser reciclado. 

Reutilização

Uma outra opção para o lixo eletrônico é a remontagem a partir de peças usadas. Essa é uma maneira mais viável e mais lucrativa do que a reciclagem.

O programa Paideia, idealizado pelo Cedir (Centro de Descarte de Resíduos de Informática) e coordenado pela professora da USP Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho.

O objetivo é aproveitar peças usadas de eletrônicos antigos para montar computadores e ensinar informática.

Imagens do projeto Paideia

Os equipamentos são 100% montados com peças que seriam jogadas no lixo e depois usados no projeto ensinar informática para 60 alunos.

“O resultado com crianças de escolas públicas é ótimo e temos interesse em divulgar esse programa para outras universidades”, diz Tereza Cristina.

Economia circular

O processo de economia circular se baseia no pressuposto de que um componente é 100% reaproveitável e pode gerar lucro, além de ser benéfico ao meio ambiente.

Diferentemente, da economia linear, que utiliza uma nova matéria prima nova a cada processo.

“O quilo de peças usadas custa de 3 a 5 reais, porém um computador remanufaturado pode ser vendido como um item de segunda mão por algo entre 70 e 90 reais cada”, diz a professora Tereza Cristina.

O projeto do instituto GEA (Instituto de Ética e Meio Ambiente), da USP, ensina catadores como trabalhar com eletrônicos. 

Durante as aulas, eles aprendem como desmontar e remontar dispositivos com o intuito de aumentar os lucros do trabalho com reciclagem

CEDIR- Centro de Descarte de Resíduos de Informática

Até o momento, passaram pelo projeto 180 catadores espalhados por 15 cidades. Ao final do curso, eles aprendem a separar cada material, como o cobre e o ouro, os mais valiosos dentro dos eletrônicos.

Componentes tóxicos

Um dos maiores problemas do descarte de forma errada é a liberação de metais tóxicos na natureza, principalmente os metais pesados. 

Esses elementos acumulam no organismo e ficam para sempre no corpo, em grandes quantidades é extremamente danoso à saúde.

Cada monitor daqueles antigos, o famoso tubo, tem de 3 a 4 quilos de chumbo. Em certo nível, todos os eletrônicos têm alguma quantidade de metal pesado apesar das quantidades serem menores

O descarte desse material em rios e mares contamina a água e afeta diversos animais. Os metais pesados se juntam com a matéria orgânica e são depositados no fundo ou ficam em suspensão. 

Um peixe que se alimenta de outros menores acumula metais pesados no organismo e intoxica inclusive a pessoa que se alimentar dele. 

Nesse caso, o ser humano recebe uma quantidade as toxinas e metais pesados acumulado por todos os demais animais da cadeia alimentar.

Os metais e seus danos

Diversos metais pesados estão presentes nos eletrônicos que descartamos. 

Entretanto, chumbo, mercúrio e o cádmio estão em maior quantidade e são os mais perigosos para a saúde humana. Em geral, o longo contato com eles pode causar problemas motores e câncer. 

Mercúrio

O mercúrio está presente principalmente em pilhas e baterias. Esse metal pesado é encontrado em baixa quantidade na natureza e a contaminações é causada pela ação humana. 

O acúmulo de mercúrio no organismo causa deterioração do sistema nervoso, podendo levar a demência, problemas motores e perturbações sensitivas. 

Mercúrio em forma líquida

Chumbo

O chumbo é encontrado em celulares, monitores, televisores e computadores. A intoxicação geralmente ocorrer por ingestão direta e até por inalação.

Esse metal pesado pode causar alterações genéticas, afetar o sistema nervoso, atingir a medula óssea e também prejudicar os rins. A exposição por um longo prazo por causar câncer. 

Imagem ilustrativa do chumbo em forma sólida

Cádmio 

O elemento está presente na fumaça da queima de combustíveis fósseis, cigarros, lixo urbano e nos sedimentos de esgoto.  

Há altos índices desse metal em moluscos, como ostras e mexilhões, por serem filtradores da água e acumulam as toxinas em seu organismo.

No corpo humano, o cádmio impede a absorção do zinco e do cobre pelo organismo. Em casos mais avançados, pode acumular nos rins e nas paredes das artérias. 

A longo prazo o contato é cancerígeno e pode causar doenças a curto prazo, como problema no metabolismo, descalcificação óssea e reumatismo. A contaminação pelo ar pode causar edemas pulmonares.

Imagem ilustrativa do cádmio em forma sólida


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